Nova taxa de US$ 100 mil para o visto H-1B nos Estados Unidos altera planos de brasileiros qualificados, pressiona empresas e amplia procura por alternativas em países como Canadá, Emirados Árabes, Austrália e Reino Unido.
A cobrança de US$ 100 mil para novas petições do visto H-1B entrou em vigor nos Estados Unidos após uma proclamação presidencial assinada em 19 de setembro.
A taxa deve acompanhar qualquer petição apresentada a partir de 21 de setembro e se soma aos custos usuais do processo, o que levou profissionais brasileiros e empregadores a reavaliar planos e buscar alternativas em outros destinos de trabalho.
Segundo reportagem publicada pela Folha de S. Paulo, o decreto surpreendeu empresas que tradicionalmente utilizam o H-1B para atrair mão de obra especializada.
-
Na mira dos EUA e acusado de prejudicar gigantes como Visa e Mastercard, Pix do Banco Central, vira tendência e União Europeia faz acordo para criar seu próprio PIX e reduzir dependência dos gigantes de cartões americanos
-
INSS libera pagamentos de setembro: veja quem recebe primeiro, como funciona o dígito do cartão e por que há dois calendários diferentes
-
Por que o Brasil não usa mais o horário de verão e quais fatores explicam essa decisão histórica
-
Água cada vez mais rara: Cantareira chega a 29% da capacidade e traz fantasma da crise de 2015
Taxa extraordinária muda o cálculo de empresas e candidatos
Pelo texto publicado pela Casa Branca e pelos comunicados operacionais do USCIS, a exigência do pagamento adicional de US$ 100 mil vale para novas petições H-1B protocoladas após 21 de setembro de 2025.
Na prática, o desembolso acompanha a petição — documento que, por regra, é apresentado pelo empregador — e alcança inclusive casos selecionados na rodada de 2026.
De acordo com apuração do jornal Folha de S. Paulo, a medida foi justificada pelo governo Trump como uma forma de proteger trabalhadores americanos, mas especialistas preveem que ela terá impacto direto na contratação de estrangeiros altamente qualificados.
O H-1B segue entre as principais vias para profissionais de alta qualificação atuarem em solo americano.
O programa mantém o limite anual de 85 mil vagas (65 mil no teto geral e 20 mil para quem tem mestrado ou doutorado nos EUA), com seleção por registro eletrônico e sorteio quando a demanda supera a oferta — cenário recorrente nos últimos anos.
O que é o H-1B e quem costuma usá-lo
Criado em 1990 para suprir escassez de mão de obra especializada, o H-1B exige formação compatível com a função e contratação formal por empresa nos Estados Unidos.
“Em geral, o H-1B exige pelo menos um diploma de bacharel e experiência na função. É bastante usado por empresas de tecnologia, engenharia, saúde e finanças, que buscam talentos qualificados em nível global”, afirma Leda Oliveira, CEO da AG Immigration.
Relatório mais recente do USCIS mostra que, em 2024, houve 380.700 beneficiários aprovados no total.
Entre os nascidos no Brasil, foram 2.638 aprovações — nono lugar no ranking por país de nascimento.
O jornal Folha de S. Paulo também apontou que, para muitos desses profissionais, a via americana representava uma das principais portas de entrada em carreiras globais de tecnologia e finanças.
Impacto imediato sobre o interesse de brasileiros
Com a taxa extraordinária, consultorias e departamentos de recursos humanos reavaliam contratações internacionais.
“É um valor proibitivo para a maioria das empresas, especialmente startups e companhias de médio porte”, diz Oliveira.
Em consequência, parte dos profissionais brasileiros qualificados já busca alternativas em mercados com barreiras de entrada menores.
“Recebemos dezenas de consultas de brasileiros que desistiram do processo do H-1B e querem redirecionar a aplicação para Dubai e Abu Dhabi”, relata a executiva.
Entidades setoriais americanas também reagiram.
Associações médicas enviaram pedido formal ao DHS por uma exceção que alivie o impacto da nova cobrança sobre hospitais e clínicas, que dependem de médicos estrangeiros em áreas carentes.
Canadá, Emirados, Austrália e Reino Unido entram no radar
No Canadá, o Global Talent Stream permanece como trilha de alta atratividade para profissionais de tecnologia, engenharia e ciências.
O país estabelece um padrão de decisão rápida, com processamento em até duas semanas para dossiês elegíveis e completos, o que facilita a realocação de famílias e acelera contratações.
Nos Emirados Árabes Unidos, além de processos de trabalho usualmente mais enxutos, o diferencial é tributário: não há imposto de renda sobre pessoas físicas.
O país mantém IVA de 5% e adota imposto corporativo, mas salários de empregados não sofrem tributação direta, fator que pesa no pacote de atração de talentos para Dubai e Abu Dhabi.
A Austrália reforça a busca por engenheiros, profissionais de saúde e áreas técnicas por meio das listas de ocupações em demanda, atualizadas periodicamente pelo governo.
Já o Reino Unido retém apelo entre brasileiros com o visto de Skilled Worker, cuja estrutura de custos e exigências está detalhada em guias oficiais e segue recebendo ajustes administrativos.
Em entrevista concedida ao jornal Folha de S. Paulo, especialistas em mobilidade internacional destacaram que esses países tendem a ganhar protagonismo no curto prazo.
Consequências para empregadores e para o fluxo de talentos
O aumento brusco de custo tende a deslocar parte das contratações internacionais feitas por empresas americanas para hubs com políticas migratórias mais previsíveis e com custo total de contratação inferior.
Enquanto isso, profissionais brasileiros com dois caminhos na mesa — H-1B com taxa adicional ou uma rota alternativa — revisam prioridades considerando salário líquido, tempo de tramitação e possibilidade de levar dependentes.
Nas palavras de um engenheiro de software paulista de 29 anos, que pediu para não ser identificado no texto original, o plano mudou de rota quando a taxa extraordinária entrou no horizonte: havia preparação de dois anos para tentar o H-1B, mas o candidato decidiu explorar vagas no Canadá diante do novo cenário de custos.
O que esperar do contencioso e da sazonalidade do H-1B
Especialistas em imigração avaliam que a legalidade da cobrança extraordinária deve ser questionada nos tribunais, sobretudo por não constar da estrutura tarifária tradicional nem da lei que criou o H-1B.
“É provável que vejamos disputas judiciais nos próximos meses”, projeta Leda Oliveira.
Mesmo com a disputa jurídica em perspectiva, o ciclo do H-1B segue parâmetros conhecidos: registro eletrônico no início do ano, seleção por beneficiário e, se escolhido, envio da petição dentro dos prazos.
A exigência do pagamento adicional, por sua vez, já consta das orientações operacionais recentes e passa a valer para petições novas protocoladas após 21 de setembro.
Recalcular a rota compensa?
Enquanto o mercado absorve o choque de custo, brasileiros com alta qualificação ponderam entre insistir na via americana, negociar com empregadores dispostos a arcar com a nova taxa ou migrar estratégias para países com regras mais estáveis e prazos previsíveis.
Nessa balança, pesam também remuneração real após tributos, mobilidade para cônjuges e reconhecimento de diplomas.
Diante do novo patamar de preço do H-1B, qual caminho você considera mais racional para avançar na carreira internacional agora?