Governo avalia que sanções e tarifas dos EUA contra o Brasil fazem parte de uma estratégia de mudança de regime, com risco de questionamentos sobre a eleição de 2026 e tentativa de enfraquecer o protagonismo internacional de Lula.
O Planalto interpreta o recente pacote de tarifas e sanções adotado pelos Estados Unidos como parte de uma estratégia de “mudança de regime” no Brasil.
Na avaliação de auxiliares de Lula, as medidas do governo Donald Trump extrapolam a pressão sobre o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro no STF e miram a disputa eleitoral de 2026, com possível questionamento da legitimidade do pleito caso Lula vença, segundo revelou o jornal Folha de S. Paulo.
Crise comercial entre Brasil e EUA
A leitura dominante no governo é que Washington tenta redesenhar o tabuleiro regional.
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Para interlocutores do Planalto, as tarifas recentes e as designações de autoridades brasileiras sob a Lei Magnitsky integram um movimento mais amplo de reposicionar a América Latina como área de influência direta dos EUA e conter o avanço chinês.
O pacote é visto como tentativa de isolar o Brasil no cenário internacional e enfraquecer a liderança de Lula.
Além do impacto econômico imediato, a ofensiva teria componente político explícito.
Fontes do governo afirmam que a Casa Branca busca assegurar a presença, em 2026, de um candidato brasileiro com afinidade ideológica com Trump, interferindo indiretamente no ambiente eleitoral.
STF e Alexandre de Moraes na mira
Em Brasília, a designação do ministro Alexandre de Moraes — ministro do STF e ex-presidente do TSE — sob a Lei Magnitsky acendeu alerta sobre possíveis medidas contra outros integrantes do Judiciário.
Para o Planalto, a opção dos EUA por um instrumento que prevê sanções por violações de direitos humanos sinaliza que novas ações podem atingir magistrados e agentes públicos ligados a investigações de extrema sensibilidade política.
Embora a pressão internacional seja percebida como um ataque à soberania brasileira, a avaliação interna é que a ofensiva busca desmoralizar o sistema de Justiça, corroendo a confiança externa em decisões de cortes superiores e, por consequência, na integridade do processo eleitoral.
Possíveis próximos passos de Trump
No horizonte de curto prazo, o governo trabalha com a hipótese de novos pacotes de sanções.
Entre os alvos cogitados por auxiliares, estariam empresas inseridas nas cadeias de energia e tecnologia, além de estatais estratégicas.
No limite, fontes governamentais não descartam sanções individuais a outras autoridades do Supremo e a integrantes do Executivo.
Paralelamente, há receio de que a pressão não se restrinja ao caso Bolsonaro.
Ainda que o desfecho do julgamento tenha peso político, a expectativa entre interlocutores de Lula é que a Casa Branca mantenha a ofensiva independentemente do resultado, sustentando um clima prolongado de confrontação.
Eleições de 2026 sob ameaça
A possibilidade de uma deslegitimação internacional da eleição — se Lula for reeleito — está no centro das preocupações.
Assessores presidenciais avaliam que os EUA poderiam estimular narrativas de fraude e instabilidade, criando terreno para questionamentos internos à lisura da votação.
Essa leitura, segundo a Folha de S. Paulo, dialoga com manifestações recentes de aliados de Bolsonaro no exterior.
Nesse contexto, auxiliares relatam que o deputado Eduardo Bolsonaro vem defendendo publicamente, há meses, a tese de que os EUA não reconheceriam a eleição brasileira caso seu pai fosse impedido de concorrer.
A interpretação no Planalto é que esse discurso alimenta o ambiente de desconfiança e ajuda a construir justificativas para medidas unilaterais.
Disputa com a China
Diplomatas e membros da cúpula do governo relacionam a escalada à disputa global entre Washington e Pequim.
Para eles, as medidas contra o Brasil buscam frear a aproximação econômica e tecnológica com a China e redesenhar cadeias de suprimentos, com impactos em setores como mineração, energia, agronegócio e manufatura.
Ao mesmo tempo, integrantes do Itamaraty reconhecem que a intensificação de laços com a China gera incômodo real nos EUA.
O ponto de fricção, porém, seria a proporção e a forma da resposta americana, avaliada como desmedida e com potencial de interferir no processo político interno.
Estratégia de reação do governo brasileiro
Frente à deterioração do ambiente, o governo discute acionar mecanismos de solução de controvérsias na OMC contra tarifas e sanções consideradas unilaterais e incompatíveis com regras de comércio.
A diplomacia também prepara uma agenda de reaproximação com países europeus e asiáticos para reduzir a dependência do mercado americano e mitigar o impacto sobre exportadores.
No plano regional, a orientação é intensificar o diálogo com vizinhos latino-americanos e construir uma frente de coordenação sobre tarifas, cadeias de suprimentos e defesa de instituições democráticas.
A expectativa é que uma articulação multilateral enfraqueça a narrativa de que o Brasil representa “ameaça” aos interesses dos EUA.
Comunicação e economia em jogo
No campo da comunicação, integrantes do governo relatam uma campanha coordenada nos EUA para associar Lula a China e Rússia, justificando perante a opinião pública a adoção de medidas punitivas.
Essa narrativa, apontada pela Folha de S. Paulo, cria ambiente favorável a ações adicionais, inclusive contra plataformas digitais e veículos de mídia brasileiros, sob o argumento de combate à desinformação.
Já no terreno econômico, a visão no Planalto é que a estratégia americana embute o cálculo de provocar desaceleração no Brasil, erodindo a popularidade do governo e abrindo espaço para candidaturas alinhadas ao trumpismo.
O receio é que novas rodadas de tarifas incidam sobre segmentos de maior valor agregado, pressionando investimento, emprego e câmbio.
Cenário para 2026
A convergência de quatro vetores — pressão econômica, sanções individuais, ataques ao Judiciário e narrativas de fraude — compõe, na análise do governo, um cenário de risco institucional prolongado.
Diante disso, a ordem é acelerar interlocuções com parceiros fora do eixo EUA-China, sustentar a defesa da independência das instituições e blindar o processo eleitoral de interferências externas.