A disputa entre Washington e Pequim reduziu as vendas americanas para menos de US$ 10 milhões, enquanto Brasil e Austrália ampliaram participação.
A carne bovina australiana tem assumido o espaço das exportações deixado pelos Estados Unidos no mercado chinês desde o retorno de Donald Trump à Casa Branca.
O movimento redirecionou centenas de milhões de dólares que antes fortaleciam a pecuária americana para frigoríficos australianos e também consolidou o Brasil como principal fornecedor de carne bovina à China.
Segundo a agência Reuters, os embarques norte-americanos para a China, que chegavam a US$ 120 milhões mensais, colapsaram após Pequim não renovar as licenças de centenas de frigoríficos dos EUA, em março, no contexto da guerra tarifária intensificada por Trump.
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As exportações despencaram para apenas US$ 8,1 milhões em julho e US$ 9,5 milhões em agosto, contra US$ 118 milhões e US$ 125 milhões nos mesmos meses de 2024.
Austrália ganha espaço
A Austrália aproveitou a lacuna e elevou as vendas para a China de uma média de US$ 140 milhões por mês para US$ 221 milhões em julho e US$ 226 milhões em agosto.
Essa rápida substituição ocorre porque a carne australiana possui características mais próximas da oferta americana, especialmente no gado confinado, fator que favoreceu sua aceitação no mercado chinês.
Brasil fortalece posição
Enquanto isso, o Brasil ampliou a vantagem como maior exportador global de carne bovina. Dados da Abrafrigo e da Secex mostram que, em agosto de 2025, o país embarcou 359,4 mil toneladas, gerando US$ 1,66 bilhão em receita.
O resultado representa alta de 19% em volume e 49% em faturamento na comparação anual.
No acumulado de janeiro a agosto, as exportações brasileiras somaram 2,41 milhões de toneladas, crescimento de 19% frente ao mesmo período de 2024.
A receita atingiu US$ 10,8 bilhões, avanço de 34%. A China absorveu quase 40% desse volume, com 948,4 mil toneladas, alta de 41% em relação ao ano anterior.
Somente em agosto, as compras chinesas saltaram de 106 mil toneladas em 2024 para 158 mil toneladas em 2025, uma expansão de 50%.
Cenário global
O impasse entre Washington e Pequim deve continuar prejudicando os frigoríficos americanos. Segundo Joe Schuele, porta-voz da Federação de Exportação de Carne dos EUA, a questão está “entrelaçada com outras disputas comerciais” e não deve ser resolvida no curto prazo.
Nesse contexto, a produção recorde da Austrália e a competitividade brasileira reforçam a perda de espaço dos EUA no maior mercado mundial de carne bovina.