Pressão americana e retaliação brasileira acendem o alerta nas cadeias de açúcar e etanol. Tarifa extra pode custar milhões às usinas do país.
O cenário do comércio entre Brasil e Estados Unidos ficou mais tenso. A recente decisão do governo americano de aplicar um ‘tarifaço’ de 50% sobre as importações brasileiras colocou o setor de açúcar e etanol em estado de alerta. Enquanto isso, do lado brasileiro, a cobrança de 18% sobre o etanol americano permanece firme — e, segundo autoridades, sem qualquer chance de ser revista por agora.
Essa nova etapa na relação comercial entre os dois países expõe um jogo duro de interesses. Por um lado, o Brasil protege sua produção interna de etanol, especialmente no Nordeste, onde o custo de produção é mais alto e a competitividade menor. Por outro, os EUA se queixam da “desvantagem” na balança comercial e pressionam por uma abertura maior do mercado brasileiro.
50% de tarifa americana: o impacto direto nas usinas brasileiras
A conta é pesada. Com a nova tarifa anunciada pelo ex-presidente Donald Trump, o custo adicional para as usinas brasileiras pode ultrapassar US$ 100 milhões. Só no etanol, as perdas podem chegar perto de US$ 91 milhões — e isso afeta diretamente usinas da região Norte e Nordeste, que são beneficiadas por leis de incentivo para economias locais.
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E não para por aí. O açúcar também será afetado. Para além dos números, o que está em jogo é a capacidade do Brasil de manter presença relevante no mercado americano — mesmo com custos mais altos.
Governo Lula mantém posição firme? Tarifa sobre etanol americano não mudará?
Enquanto setores ligados à siderurgia sugerem flexibilizar a tarifa brasileira sobre o etanol em troca de vantagens para o aço exportado, o Ministério da Indústria e Comércio garante que isso não está na mesa.
“Reduzir a taxa agora não faz sentido. A prioridade é proteger a indústria nacional e seus empregos”, afirmou Márcio Elias Rosa, secretário-executivo da pasta comandada por Geraldo Alckmin.
A posição é respaldada por outros membros do governo, como o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, que reforça a importância da tarifa como forma de preservar a cadeia do etanol no país, principalmente nas regiões mais vulneráveis.
Etanol brasileiro ainda é insubstituível para os EUA?
Mesmo com as tarifas em alta, o etanol de cana brasileiro ainda é um produto estratégico para o mercado americano. Ele tem características únicas, como baixa emissão de carbono, e representa mais de 70% do que os Estados Unidos importam no setor.
Isso significa que, mesmo com barreiras, os americanos ainda dependerão em boa parte do biocombustível brasileiro — o que pode abrir espaço para futuras negociações mais equilibradas.
No entanto, enquanto o clima político permanecer tenso e as decisões forem tomadas mais por interesses eleitorais do que por pragmatismo comercial.
No fim das contas, o consumidor ainda pode sentir no bolso. Com menos espaço para exportar e maior custo para importar, o preço do etanol e da gasolina pode oscilar. E mais uma vez, a geopolítica mostra que tem tudo a ver com o que chega — e com o que sai — da bomba de combustível.