Pesquisadores da Universidade de Rochester mostram como os morcegos evitam o câncer com genes potentes, imunidade silenciosa e equilíbrio celular raro
Nas florestas do norte de Nova York, pequenos morcegos marrons vivem por décadas, pendurados de cabeça para baixo em cavernas. Um deles já foi encontrado com mais de 30 anos de idade. Isso equivale a 180 anos humanos. Mesmo assim, esses animais quase nunca desenvolvem câncer.
Agora, cientistas da Universidade de Rochester podem ter descoberto por quê. As conclusões foram publicadas na revista Nature Communications. O estudo traz uma nova visão sobre a biologia dos morcegos e oferece pistas para tratamentos futuros contra o câncer em humanos.
Câncer com apenas dois acertos
Normalmente, para que o câncer apareça, uma célula precisa sofrer várias mutações. Em humanos, entre três e oito. Em camundongos, apenas duas. E os morcegos? Também só precisam de dois.
-
Concreto romano: receita de 2 mil anos desafia engenheiros modernos — e levanta dúvidas sobre impacto ambiental
-
Engenheiros ignoram “ar-condicionado” com 2.000 anos que resfria casas melhor do que sistemas modernos
-
Honda CG 160 ou Biz pra quê? Patinete da Xiaomi tem pneu de 12″, 900 W de potência e roda 60 km com uma carga
-
Top 5 celulares da Motorola custo benefício para você comprar em agosto
Os pesquisadores analisaram células de três espécies de morcegos. Em laboratório, bastaram duas alterações para transformar essas células em cancerígenas: a ativação de um oncogene e a desativação de genes que deveriam impedir tumores.
Isso contradiz o que se esperava. Se os morcegos têm células tão frágeis no laboratório, por que eles não desenvolvem câncer na natureza?
A força do gene p53
A resposta pode estar no gene p53. Esse gene age como um guardião. Ele detecta danos no DNA e pode mandar a célula morrer, evitando que ela se transforme em câncer. Em humanos, metade dos cânceres envolve falhas nesse gene.
Nos morcegos, o p53 é especialmente poderoso. Uma das espécies estudadas, o Myotis lucifugus, possui duas cópias completas desse gene. Isso também acontece com os elefantes, outro animal resistente ao câncer.
Mais que isso, os morcegos conseguem manter o equilíbrio perfeito. Nem demais, nem de menos. Se o p53 funcionar pouco, o câncer aparece. Se funcionar demais, destrói até as células boas. Os morcegos têm esse equilíbrio raro.
Eles também produzem altos níveis de duas moléculas que ajudam o p53 a funcionar corretamente: MDM2 e WRAP53. E o fazem de maneira estável, mesmo quando expostos à radiação. Em humanos e camundongos, esse padrão não é observado.
Imunidade ativa e silenciosa
Outro fator que ajuda os morcegos é o sistema imunológico. Eles convivem com vírus perigosos como ebola e SARS sem adoecer. Isso os torna bons portadores, mas também revela que o corpo deles está sempre em alerta.
Esse sistema vigilante pode ser um aliado contra o câncer. O estudo sugere que eles têm mais células T CD8+ e células assassinas naturais, responsáveis por eliminar tumores. É uma defesa silenciosa e eficiente.
Além disso, os morcegos envelhecem sem inflamar. Suas células produzem menos substâncias inflamatórias. Enquanto isso, as células humanas, com o tempo, ficam “zumbis”, promovendo inflamações que favorecem o câncer.
Telomerase ativa por toda a vida
Um último detalhe chamou atenção. Os morcegos mantêm ativa a enzima telomerase até a velhice. Essa enzima protege os cromossomos. Em outros animais, ela se desativa com o tempo. Sem ela, os tecidos se degradam e o envelhecimento acelera.
Nos morcegos, isso não acontece. Eles continuam produzindo telomerase. Isso poderia ser um risco, mas o p53 entra em ação e remove células suspeitas. Assim, o equilíbrio se mantém.
Segundo a pesquisadora Vera Gorbunova, esse sistema complexo ajuda os morcegos a evitar doenças ligadas à idade e aos vírus. Ela é uma das autoras do estudo da Universidade de Rochester.
Um novo caminho para tratar humanos
A descoberta pode inspirar tratamentos futuros contra o câncer em humanos. Muitos medicamentos já tentam ativar o p53. Este estudo pode ajudar a melhorar essas terapias.
Também existe o interesse em controlar a telomerase de forma segura. Se isso for possível, pode-se aplicar parte dessas descobertas no tratamento de pessoas.
A pesquisa faz parte da oncologia comparativa, que estuda a resistência ao câncer em outras espécies, como elefantes, baleias e ratos-toupeira. Agora, os morcegos entram nesse grupo.
Eles vivem muito mais do que seria esperado para seu tamanho. E raramente desenvolvem tumores. Isso já era impressionante. Agora, começa a fazer sentido.
Com informações de ZME Science.