Passagem estratégica para petróleo e gás volta ao centro da geopolítica, com riscos para mercados e segurança energética mundial
O Estreito de Ormuz, um canal marítimo de 33 quilômetros de largura, separa o Irã da Península Arábica. Por ali, transitam diariamente cerca de 20% do petróleo global e mais de um quarto do comércio mundial de gás natural liquefeito (GNL).
Em junho de 2025, após ataques aéreos de Israel contra instalações nucleares do Irã, o estreito voltou a ser um ponto crítico. A resposta iraniana incluiu ameaças públicas de bloqueio da passagem, o que imediatamente elevou os preços do petróleo e aumentou o risco de uma crise energética internacional.
Especialistas do Atlantic Council e do mercado financeiro alertam que, caso ocorra um bloqueio total, o impacto seria severo para a economia global.
-
Governo e Exército monitoram o deslocamento de navios norte-americanos após Trump oferecer recompensa de US$ 50 milhões pela captura de Maduro
-
EUA cancelam evento militar com Brasil e colocam em xeque cooperação histórica que garante acesso a armas e treinamentos estratégicos
-
Nova lei ambiental da União Europeia ameaça exportações brasileiras de madeira tropical e derivados até 2030 — produtores temem barreiras comerciais, enquanto China amplia espaço no mercado
-
De blindados soviéticos a soldados: este é o poder bélico da Venezuela em meio à tensão com os EUA
Importância energética e geopolítica
A relevância do Estreito de Ormuz está no volume colossal de energia que atravessa suas águas. Segundo a Administração de Informação de Energia dos EUA (EIA), cerca de 21 milhões de barris de petróleo e aproximadamente 4 trilhões de pés cúbicos de GNL passam diariamente pela rota.
O fluxo atende mercados estratégicos como China, Japão, Índia e Coreia do Sul, além da Europa. A ausência de rotas alternativas de grande porte faz com que qualquer interrupção cause efeitos imediatos sobre os preços e a oferta global de energia.
De acordo com o JP Morgan, uma eventual interrupção prolongada poderia elevar o preço do petróleo para até US$ 130 por barril, pressionando ainda mais a inflação global.
Controle e presença militar
A navegação no estreito é regida pela Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (CNUDM). Entretanto, a segurança da área é complexa.
O Irã mantém forte presença, com a Marinha regular e o Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica (IRGC), que utiliza uma estratégia de guerra assimétrica — com lanchas rápidas, drones e mísseis.
Enquanto isso, Omã, ao sul, atua de forma diplomática e neutra. Já os Estados Unidos, desde a década de 1980, mantêm sua Quinta Frota no Bahrein, monitorando a segurança da hidrovia.
Nova escalada em 2025 preocupa o mundo
Em 13 de junho de 2025, Israel bombardeou alvos nucleares iranianos. Dois dias depois, Esmail Kowsari, comandante do IRGC, declarou que o fechamento do estreito estava em “consideração ativa”.
No dia 22 de junho, o parlamento iraniano aprovou uma moção não vinculante recomendando o bloqueio. A decisão final, porém, cabe ao Conselho Supremo de Segurança Nacional do Irã, que ainda não se manifestou.
Segundo analistas, um fechamento total é improvável. Isso porque o próprio Irã depende da hidrovia para exportar cerca de 2 milhões de barris de petróleo por dia, especialmente para a China.
Efeitos imediatos no mercado
A reação do mercado foi rápida. O preço do petróleo Brent subiu cerca de 10%, chegando a US$ 85 por barril em junho.
Analistas do Rabobank e do JP Morgan afirmam que um bloqueio parcial já seria suficiente para causar volatilidade nos preços e provocar efeitos dominó na economia global.
Além disso, um acidente em junho, envolvendo a colisão de dois petroleiros, aumentou a preocupação com a segurança da navegação, num momento em que há relatos de interferência eletrônica na região.
Histórico de conflitos no estreito
Desde os anos 1980, o Estreito de Ormuz foi palco de diversas crises. Em 1988, durante a Operação Louva-a-Deus, os EUA destruíram embarcações iranianas após um navio americano ser atingido por uma mina.
No mesmo ano, o cruzador USS Vincennes abateu, por engano, um voo civil iraniano, matando 290 pessoas.
Mais recentemente, entre 2019 e 2024, houve apreensões de petroleiros, como o Advantage Sweet, em 2023, e o St Nikolas, em 2024, aumentando ainda mais as tensões.
Alternativas limitadas à hidrovia
Embora existam oleodutos terrestres, como o Leste-Oeste da Arábia Saudita e o de Abu Dhabi, sua capacidade é limitada.
Segundo especialistas, essas rotas não conseguem substituir o volume diário de petróleo e gás que passa pelo estreito.
Assim, a dependência global da hidrovia permanece alta, o que reforça seu papel como um dos pontos mais sensíveis do comércio energético mundial.
Esforços diplomáticos para evitar crise
Enquanto a tensão cresce, diplomatas internacionais tentam conter a escalada.
Autoridades americanas, como o senador Marco Rubio, pressionaram a China a interceder junto ao Irã, já que mais da metade das importações chinesas de petróleo passa pelo estreito.
Em resposta, o Ministério das Relações Exteriores da China pediu “contenção de todas as partes”.
Omã, como em crises passadas, se ofereceu para mediar um acordo e evitar um colapso da segurança na região.
Qual será o próximo passo?
Os acontecimentos de junho de 2025 demonstram que o Estreito de Ormuz continua sendo um ponto crítico para a segurança energética global.
Embora um bloqueio total ainda pareça improvável, os riscos permanecem elevados e os mercados continuam atentos.
A pergunta que fica é: será possível encontrar um equilíbrio entre os interesses econômicos e a segurança internacional para garantir o fluxo livre de energia pelo Estreito de Ormuz?