Tecido de linho com sensores condutores e inteligência artificial promete transformar a manutenção rodoviária ao monitorar estradas em tempo real sem perfurações destrutivas
Cientistas anunciaram o desenvolvimento de um tecido inteligente capaz de monitorar, em tempo real, a saúde estrutural de estradas asfaltadas. O material, que incorpora sensores em sua composição, busca tornar o processo de repavimentação mais econômico, sustentável e menos prejudicial para motoristas.
O projeto é fruto de uma parceria entre o Instituto Fraunhofer de Pesquisa em Madeira, no Wilhelm-Klauditz-Institut (WKI), da Alemanha, e especialistas do projeto SenAD2.
Monitoramento sem perfuração
A solução criada consiste em um tecido de base biológica, reforçado com fios sensores condutores, embutido diretamente no asfalto.
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Após a instalação, ele mede a deformação e o estresse na camada de base, transmitindo os dados para algoritmos de inteligência artificial.
Esses algoritmos analisam as informações e fornecem insights em tempo real sobre as condições da estrada.
De acordo com o instituto, alterações no tecido modificam sua resistência elétrica, possibilitando a geração constante de dados sobre o estado do pavimento.
A expectativa é que essa integração entre sensores e IA permita avaliar de forma contínua e detalhada a situação das vias.
O desafio da manutenção rodoviária
Tradicionalmente, a manutenção de estradas depende do desgaste visível da superfície ou de perfurações de testemunhos para identificar danos mais profundos.
Enquanto trincas e rachaduras superficiais podem ser observadas facilmente, a detecção de microfissuras e falhas nas camadas inferiores exige perfuração e retirada de amostras.
Esse procedimento gera custos elevados, interrupções no tráfego e, muitas vezes, compromete a vida útil da via.
Para enfrentar o problema, os pesquisadores desenvolveram um sistema capaz de monitorar as condições da base asfáltica de maneira não destrutiva, cobrindo grandes áreas e oferecendo maior eficiência no planejamento de reparos.
Planejamento de longo prazo
Christina Haxter, cientista pesquisadora do Fraunhofer WKI, destacou que o objetivo é permitir um planejamento mais prolongado e eficiente. “Nosso objetivo é ser capaz de planejar por um período de tempo mais longo, monitorar continuamente as mudanças nas condições da estrada e, com base nisso, estabelecer previsões e incorporá-las às atividades de gerenciamento de manutenção”, explicou.
Haxter ressaltou que o sistema não prolonga diretamente a durabilidade das estradas, mas amplia a capacidade de monitoramento e decisão. A tecnologia permite determinar com maior precisão quando e onde a repavimentação é necessária, evitando desperdícios e otimizando recursos.
Estradas com sensores de linho
O tecido desenvolvido é leve e produzido com fibras de linho, um material natural, renovável e de baixo custo de fabricação.
Ele é entrelaçado com fios condutores ultrafinos, com menos de um milímetro de diâmetro, incorporados diretamente ao tecido durante a tecelagem. Esse processo garante alta resistência a deslocamentos e rupturas.
Além disso, o uso de fios grossos e espaçamento amplo confere maior estabilidade ao material. “O tecido precisa ser projetado de forma que não haja ruptura da estrutura no asfalto. Os sensores também não devem ser danificados durante o processo de tecelagem ou quando o tecido é inserido no leito da estrada”, explicou Haxter.
Outro aspecto ressaltado é a robustez: o tecido foi concebido para suportar o peso de caminhões e pavimentadoras. Produzido em um tear de pinça dupla no Fraunhofer WKI, ele pode alcançar larguras de 50 centímetros e comprimentos variáveis, o que o torna escalável para diferentes projetos.
Do laboratório à estrada
Segundo os pesquisadores, os testes iniciais comprovaram a resistência do tecido às condições ambientais e às exigências da instalação.
Uma vez aplicado, os sensores enviam dados a uma unidade de medição instalada à beira da estrada. Essa unidade armazena as informações e as transmite para análise posterior.
A etapa seguinte envolve um software de inteligência artificial que interpreta os dados, identifica padrões de danos e estima a degradação da via ao longo do tempo.
As informações são apresentadas em um painel digital, acessível a agências rodoviárias, empresas, comunidades e até usuários comuns, que podem acompanhar os cronogramas de manutenção.
Após a validação em laboratório, o sistema começou a ser testado em um trecho plano de estrada em uma zona industrial. Nesse experimento, o sensor cobre toda a largura da via e os nós de medição registram as variações de resistência elétrica à medida que os veículos circulam.
Com esse avanço, os pesquisadores esperam tornar o monitoramento de estradas mais eficiente, reduzindo custos e impactos das obras e aproximando a manutenção rodoviária de uma gestão mais preventiva e inteligente.