Trabalhadores nordestinos denunciam falta de pagamento após obra suspensa em hospital de Franca (SP) e relatam abandono em alojamentos sem condições básicas, aguardando salários e passagens para retornar às cidades de origem.
Ao menos 12 trabalhadores vindos do Nordeste afirmam ter sido deixados sem salário e sem verbas rescisórias após a interrupção das obras de um hospital particular em Franca (SP).
De acordo com informações do portal G1, eles foram contratados por uma terceirizada e trabalharam cerca de 40 dias no canteiro.
Com o rompimento do acordo entre as empresas envolvidas, o grupo diz ter ficado sem pagamento e sem condições de retorno para casa, abrigado em alojamentos insalubres.
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Rompimento de contrato deixa equipe sem salário
De acordo com os relatos, a contratante principal encerrou a parceria com a terceirizada por “problemas na execução da obra”.
A decisão interrompeu o serviço em andamento e, segundo os trabalhadores, também suspendeu o pagamento dos dias trabalhados e das verbas de desligamento.
A equipe afirma que aguarda uma definição para receber o que é devido e conseguir voltar ao Nordeste, onde mantém residência e família.
Enquanto a situação não se resolve, os trabalhadores permanecem em moradias improvisadas. Há falta de itens básicos e de estrutura mínima para higiene e cozinha.
Um dos pedreiros, José Eudis Alves da Silva, que saiu de Pernambuco para o emprego, descreveu as condições ao relatar que o grupo está sem insumos essenciais e arcando com gastos do próprio bolso, apesar de não ter recebido.
“Está precisando de tudo, porque não tem, não tem para a gente fazer uma limpeza na casa adequada, papel higiênico não tem, tudo a gente está tendo que comprar do bolso, sem receber dinheiro. (…) Nós estamos jogados, porque nosso patrão desapareceu”, afirmou.
Alojamento sem padrão de segurança e higiene
A presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil, Menisa Pilar, declarou que a empresa principal não deveria ter permitido a permanência dos operários em alojamentos nessas condições.
Segundo ela, havia laudo que classificava o espaço como inadequado às normas regulamentadoras, ainda assim os trabalhadores foram mantidos na obra.
“O alojamento não está adequado nas normas regulamentadoras. A empresa principal tem um laudo que estava inadequado o uso do alojamento, mas, mesmo assim, eles deixaram os trabalhadores entrarem na obra”, disse.
A descrição feita pelos trabalhadores inclui ausência de móveis suficientes, falta de produtos de limpeza, precariedade de banheiros e necessidade de comprar materiais por conta própria.
Em meio a esse cenário, a alimentação também se tornou um desafio, já que não há confirmação de fornecimento regular de mantimentos por parte das empresas responsáveis.
Impacto humano e incerteza sobre retorno
A dificuldade para quitar despesas cotidianas e enviar dinheiro à família pesa sobre o grupo, que se deslocou centenas de quilômetros para trabalhar.
Muitos saíram do Nordeste contando com remuneração pactuada e com as condições de hospedagem previstas para esse tipo de contratação.
Sem pagamento, relatam atrasos em compromissos pessoais e impossibilidade de custear as passagens para voltar às suas cidades de origem.
Além do desgaste financeiro, os trabalhadores relatam insegurança quanto ao futuro.
A expectativa é receber salários e verbas rescisórias referentes ao período trabalhado, além de orientações claras sobre os próximos passos.
Enquanto esperam, continuam em alojamentos apontados como impróprios, o que, segundo o sindicato, contraria regras de saúde e segurança do trabalho.
O que dizem as empresas responsáveis
Procurada pela EPTV, afiliada da TV Globo, a Maximo Aldana Construtora, responsável principal pela obra, garantiu que vai assumir os pagamentos de todos os funcionários afetados.
A empresa também informou que custeará as passagens de volta para as cidades de origem, compromisso aguardado pelos trabalhadores para encerrar a permanência em Franca.
A Monte Carmelo Engenharia, terceirizada que contratou os operários para atuar no hospital, foi buscada para comentar a situação. Até a última atualização, não houve retorno.
O silêncio mantém em aberto pontos essenciais para os trabalhadores, como prazos para quitação das pendências e esclarecimentos sobre a responsabilidade pelas condições do alojamento.
Acompanhamento sindical e próximos passos
O sindicato afirma acompanhar o caso e cobrar soluções imediatas, principalmente em relação ao pagamento dos salários, férias proporcionais, 13º proporcional e demais verbas previstas em desligamentos.
A entidade também aponta a necessidade de regularizar o alojamento, ainda que temporariamente, até que todos possam retornar às suas casas.
A definição sobre quem responde pela adequação do alojamento é considerada central para evitar que situações semelhantes se repitam.
Segundo o sindicato, cabe à contratante principal fiscalizar as condições de trabalho fornecidas pela terceirizada e impedir que equipes atuem em locais fora das normas.
A entidade reforça que a existência de um laudo de inadequação indicaria que a estrutura não atendia às exigências mínimas de conforto e segurança.
Trabalhadores aguardam solução para deixar Franca
Sem uma data confirmada para o pagamento, os trabalhadores permanecem no interior paulista. Alguns buscam ajuda de familiares para adquirir itens básicos de higiene e alimentação.
Outros relatam ter vendido pertences para cobrir despesas imediatas. A ausência do empregador direto na comunicação cotidiana amplia a sensação de abandono narrada pelos operários.
A regularização dos salários e das verbas rescisórias é vista como condição para que todos retornem ao Nordeste.
A promessa da empresa principal de arcar com as passagens e assumir as pendências financeiras é, até aqui, o principal vetor de expectativa do grupo. A efetivação desse compromisso é aguardada para que a situação seja resolvida e para que os trabalhadores possam reorganizar a vida em suas cidades.
Questões legais e responsabilidade no canteiro
Especialistas consultados pelo sindicato costumam destacar que, em obras com múltiplas empresas, a contratante principal tem dever de vigilância sobre as condições oferecidas por terceirizadas.
Também lembram que alojamentos devem seguir normas regulamentadoras que preveem requisitos mínimos de higiene, segurança e conforto, como disponibilidade de banheiros, condições adequadas de limpeza e mobiliário básico.
Nesse caso, a existência de um laudo de inadequação, citada pela liderança sindical, reforça a necessidade de medidas imediatas para corrigir irregularidades.
A fiscalização e o cumprimento de responsabilidades contratuais são apontados como caminhos para evitar a repetição de episódios que expõem trabalhadores a riscos e a desamparo.