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Estados Unidos planeja incluir petróleo russo e iraniano nas próximas negociações com China

Escrito por Paulo H. S. Nogueira
Publicado em 21/07/2025 às 15:16
Plataforma offshore com céu azul e poucas nuvens em um dia ensolarado.
Estrutura de exploração marítima sob um céu claro e iluminado pelo sol, representando a indústria offshore em pleno funcionamento.
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EUA quer discutir com a China o comércio de petróleo russo e iraniano, ampliando a pressão sobre aliados de Moscou e Teerã e reforçando as sanções já existentes.

Ao longo das últimas décadas, o petróleo tem desempenhado um papel central na geopolítica mundial. Ele molda alianças, intensifica disputas e interfere diretamente no equilíbrio econômico global. Nesse cenário, o petróleo russo e iraniano se transformou em um ponto sensível para as principais potências do planeta.

Recentemente, os Estados Unidos anunciaram a intenção de incluir esse tema nas próximas rodadas de negociações com a China. Com isso, acendem-se alertas sobre possíveis mudanças nas relações internacionais e no fluxo global de energia.

Desde que a Rússia invadiu a Ucrânia em 2022, os países ocidentais impuseram uma série de sanções econômicas. Principalmente os EUA e a União Europeia buscaram restringir a capacidade da Rússia de financiar o conflito, afetando diretamente setores estratégicos como o de energia.

China como principal destino do petróleo russo e iraniano

O petróleo russo, principal produto de exportação da Rússia, passou a encontrar novos mercados após os bloqueios europeus. Como resultado, Moscou redirecionou seus embarques para nações que ignoraram as sanções, como a China e a Índia.

Ao mesmo tempo, o Irã aproveitou a parceria com a China para manter sua economia ativa, mesmo sob as sanções norte-americanas que já duram mais de uma década. Portanto, o país desenvolveu formas alternativas de comercializar petróleo iraniano, muitas vezes por meio de empresas de fachada, rotas navais ocultas e acordos discretos.

Dessa forma, a China se consolidou como um dos maiores compradores de petróleo russo e iraniano, o que incomoda profundamente os Estados Unidos. Afinal, a economia chinesa, em expansão constante, depende fortemente dessas fontes externas para sustentar seu crescimento.

Além disso, o petróleo barato desses países ajuda a manter os custos de produção chineses em níveis competitivos. A busca por segurança energética leva a China a priorizar fontes acessíveis e estáveis.

Mesmo que isso signifique ignorar pressões diplomáticas, Rússia e Irã oferecem preços atrativos, o que fortalece essa escolha estratégica de Pequim.

Nova estratégia dos EUA nas negociações comerciais

Diante desse contexto, o governo dos EUA, sob a liderança de Donald Trump, decidiu abordar o tema nas negociações comerciais com os chineses. O secretário do Tesouro, Scott Bessent, declarou que as futuras conversas incluirão diretamente a compra de petróleo sancionado.

Segundo ele, os dois países devem discutir mais do que apenas tarifas. Bessent também apresentou a possibilidade de os EUA aplicarem sanções secundárias.

Se implementadas, essas sanções obrigarão qualquer país que compre petróleo russo sancionado a pagar tarifas de 100%. Bessent fez um apelo aos países europeus para que adotem a mesma postura, caso os EUA avancem com essa política.

Com isso, os Estados Unidos buscam ampliar o alcance de suas medidas econômicas contra Moscou e Teerã. Eles querem pressionar quem mantém relações energéticas com eles.

Disputa energética e alianças estratégicas

Essa abordagem revela a complexidade da disputa atual. Os EUA tentam manter sua liderança global, enquanto a China reforça suas alianças estratégicas em busca de estabilidade energética.

Assim, a energia, nesse contexto, continua sendo uma ferramenta poderosa de política externa. Durante a Guerra Fria, por exemplo, a União Soviética usou seus recursos energéticos para influenciar países do Leste Europeu.

Ao mesmo tempo, os Estados Unidos cultivaram parcerias com grandes produtores do Oriente Médio para garantir o abastecimento de petróleo. O Irã, isolado desde a Revolução Islâmica de 1979, sempre encontrou formas de continuar vendendo petróleo.

Com o apoio da China, Teerã ampliou suas rotas alternativas e reforçou os laços comerciais, mesmo diante do risco de retaliações ocidentais. Além disso, o Irã criou uma infraestrutura paralela para burlar sanções.

Essa rede envolve navios com transponders desligados e transferências de carga em alto-mar. Portanto, essa capacidade de adaptação permite que o petróleo iraniano continue circulando no mercado internacional.

Redirecionamento do petróleo russo e desafios à frente

A guerra na Ucrânia forçou a Rússia a revisar suas estratégias comerciais. Como resposta, Moscou aumentou os embarques para a China e ofereceu descontos agressivos para garantir seus mercados.

Dessa forma, a parceria energética entre os dois países se intensificou. A Índia também aproveitou os preços baixos. Contudo, a China se tornou o principal destino do petróleo russo e iraniano.

Essa mudança no fluxo comercial fortaleceu a dependência energética da Ásia e desafiou os esforços ocidentais de isolar Moscou. Os Estados Unidos agora enfrentam um dilema.

Precisam manter a firmeza das sanções, mas não podem ignorar a influência econômica da China. Portanto, ao incluir o tema energético nas negociações, os EUA buscam pressionar Pequim a rever suas escolhas.

Washington também enxerga um risco maior. Permitir que potências adversárias sustentem suas economias com apoio de grandes consumidores ameaça a eficácia das sanções e o equilíbrio geopolítico.

Economia chinesa e equilíbrio nas relações globais

Além do petróleo, os EUA pedem que a China reequilibre sua economia. Afinal, o país asiático já representa cerca de 30% das exportações industriais do mundo.

Isso provoca desequilíbrios em cadeias produtivas globais e pressiona mercados em várias regiões. As conversas entre Washington e Pequim, portanto, não se limitam ao setor energético.

Elas envolvem questões como tarifas, acesso a tecnologia, direitos de propriedade intelectual e regras comerciais. As rodadas anteriores, em Genebra e Londres, já abordaram temas delicados.

Atualmente, os EUA aplicam tarifas de 10% sobre produtos chineses, enquanto a China impõe taxas de 30% sobre produtos norte-americanos. Com a crise energética, o debate pode evoluir.

O petróleo se soma à lista de temas estratégicos, ao lado da transição energética, do acesso a minerais raros e do controle sobre tecnologias limpas. A segurança no abastecimento de combustíveis fósseis continua sendo uma prioridade, mesmo diante da urgência climática.

Petróleo como peça estratégica da geopolítica

Ao colocar o petróleo russo e iraniano no centro das negociações, os EUA adicionam uma camada geopolítica ao comércio. Essa mudança amplia as implicações diplomáticas e econômicas do debate.

Pequim pode encarar essa tentativa de restrição como uma ameaça à sua soberania energética. Se pressionada, a China pode buscar novos acordos bilaterais, reforçar alianças com Rússia e Irã ou até acelerar projetos de energia interna.

O que está em jogo não é apenas o volume de barris negociados. Mais do que isso, trata-se da capacidade de ditar as regras do comércio global.

A energia permanece como um dos pilares do poder internacional. O petróleo russo e iraniano, portanto, deixou de ser apenas uma commodity.

Ele se tornou uma peça geoestratégica que molda o presente e o futuro das relações entre as maiores potências do mundo.

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Paulo H. S. Nogueira

Sou Paulo Nogueira, formado em Eletrotécnica pelo Instituto Federal Fluminense (IFF), com experiência prática no setor offshore, atuando em plataformas de petróleo, FPSOs e embarcações de apoio. Hoje, dedico-me exclusivamente à divulgação de notícias, análises e tendências do setor energético brasileiro, levando informações confiáveis e atualizadas sobre petróleo, gás, energias renováveis e transição energética.

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