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Estados brasileiros dominam o níquel no Brasil — do aço inox aos carros elétricos, Brasil se destaca com a 3ª maior reserva global de níquel do planeta

Escrito por Fabio Lucas Carvalho
Publicado em 25/08/2025 às 09:43
níquel
Foto: Reprodução
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O Brasil aparece no mapa mundial do níquel como dono de uma das maiores reservas do planeta. O metal branco prateado, usado na produção de aço inoxidável e nas baterias de carros elétricos, tem papel cada vez mais estratégico na economia global e coloca o país em posição de destaque.

O níquel, metal branco prateado, resistente à corrosão e com alto valor agregado, ocupa hoje um espaço central no debate sobre energia limpa, inovação tecnológica e competitividade industrial.

Considerado estratégico pelo governo brasileiro, o minério é uma das bases para a produção de aço inoxidável e baterias de veículos elétricos, setores que moldam tanto a economia atual quanto o futuro da mobilidade global.

Reservas expressivas, produção modesta

Segundo o Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS), o Brasil detém cerca de 16 milhões de toneladas de reservas de níquel, o que o coloca como terceiro maior detentor mundial, atrás apenas da Indonésia (55 Mt) e da Austrália (24 Mt).

Apesar da posição privilegiada em termos de reservas, a produção ainda é considerada modesta.

Em 2023, foram produzidas apenas 89 mil toneladas, o que representou 2,47% do mercado global e colocou o país na nona posição entre os produtores.

O Brasil, no entanto, é o único representante latino-americano entre os dez maiores.

A Agência Nacional de Mineração (ANM) aponta que a exploração do minério gera cerca de R$ 47 milhões por ano em taxas, valor que mostra o potencial de crescimento da indústria se houver investimentos em escala.

Onde está o níquel brasileiro

A exploração está concentrada em três estados: Goiás (60%), Pará (28%) e Bahia (12%).

O modelo predominante é de minas a céu aberto, acompanhado por plantas de beneficiamento que transformam o minério em produto de alto valor agregado.

Em Goiás, a Anglo American é responsável por dois ativos de destaque: a planta de Barro Alto, localizada na cidade homônima, e a unidade Codemin, em Niquelândia.

Somadas, as duas produziram 39,4 mil toneladas em 2024 e têm projeção de entre 37 e 39 mil toneladas para 2025.

Essas plantas operam por meio de processos pirometalúrgicos, que envolvem preparação do minério, fornos calcinadores e elétricos, refinaria e expedição. Todo o ciclo é planejado para aumentar a eficiência e reduzir perdas.

Exportação e mercados compradores

De acordo com o Ministério de Minas e Energia, grande parte do níquel extraído no Brasil é beneficiado internamente e, em seguida, exportado.

Os principais destinos incluem Reino Unido, China, Bélgica, Espanha e Estados Unidos.

Esse movimento evidencia como o níquel brasileiro está integrado às cadeias globais de valor, atendendo tanto ao setor de ligas metálicas quanto ao emergente mercado de baterias para veículos elétricos.

As propriedades que tornam o níquel valioso

O níquel é classificado como um metal não ferroso e pode ser encontrado em duas formas principais: sulfetados (primários) e lateríticos (oxidados). Essa versatilidade geológica se reflete em sua ampla gama de aplicações.

Entre suas características, destacam-se:

  • Resistência à oxidação e à corrosão, tornando-o essencial em ambientes agressivos.
  • Capacidade de melhorar propriedades de ligas metálicas, aumentando dureza, ductilidade e resistência mecânica.
  • Compatibilidade magnética, importante para eletroeletrônicos.

Esses atributos fazem do níquel um insumo fundamental para indústrias estratégicas.

O níquel e suas combinações

O grande diferencial do níquel está em sua capacidade de se combinar com outros metais e gerar ligas e materiais de alto desempenho. Alguns exemplos práticos:

  • Níquel + Cobre, Molibdênio, Cromo ou Vanádio → resultam em aços de resistência mecânica, usados em construção civil, indústria naval e aeronáutica.
  • Níquel + Ferro → cria circuitos magnéticos, como os utilizados em transformadores, motores e sistemas eletrônicos.
  • Níquel + Lítio, Cobalto, Manganês, Grafite, Alumínio, Aço e Cobre → compõem as baterias e componentes de carros elétricos.

Essas combinações explicam por que o níquel deixou de ser apenas “metal para panelas” e passou a ocupar papel estratégico na transição energética.

Aço inoxidável: o maior destino

Apesar da relevância crescente no setor de baterias, a maior fatia do consumo global de níquel ainda está no aço inoxidável. Panelas, eletrodomésticos, automóveis, tubulações e até moedas dependem do metal.

Esse uso de massa é o que historicamente sustentou a demanda. Mas a nova fronteira de crescimento vem da mobilidade elétrica e das energias renováveis, que exigem baterias cada vez mais potentes e duráveis.

Níquel e a revolução dos carros elétricos

Os carros elétricos são talvez o maior exemplo de como o níquel se tornou estratégico. As baterias mais avançadas — como as NMC (Níquel-Manganês-Cobalto) e NCA (Níquel-Cobalto-Alumínio) — utilizam alto teor de níquel para garantir maior densidade energética e autonomia.

Além disso, outros metais se somam ao processo:

  • Grafite, no ânodo.
  • Cobre e alumínio, em cabos e coletores.
  • Aço e alumínio, nas estruturas do veículo.

Ou seja, a transição para a mobilidade elétrica depende diretamente de uma cadeia que tem no níquel um de seus pilares.

Agricultura também se beneficia

O níquel, embora mais conhecido na indústria, também tem aplicações no agronegócio. Estudos apontam que ele pode incrementar a produtividade agrícola, reduzir a ocorrência de doenças como a ferrugem asiática e melhorar a sustentabilidade das lavouras.

Isso amplia ainda mais o espectro de importância do metal, mostrando que sua influência ultrapassa as fronteiras da indústria pesada.

Desafios e oportunidades

O Brasil, com suas reservas expressivas, enfrenta o desafio de transformar esse potencial em liderança produtiva.

Atualmente, o contraste entre a 3ª posição em reservas e a 9ª em produção revela limitações de investimento, infraestrutura e inovação tecnológica.

Por outro lado, a crescente demanda global, puxada pela indústria automobilística e pela transição energética, abre oportunidades de expansão.

Se o país investir em tecnologia de extração e beneficiamento, poderá não apenas aumentar sua produção, mas também capturar maior valor agregado, em vez de exportar apenas matéria-prima.

Impacto econômico e social

O níquel movimenta uma cadeia que envolve mineração, beneficiamento, siderurgia, indústria automotiva, eletrônica e até agricultura.

Ele gera empregos diretos nas minas e plantas, receitas para estados e municípios e impulsiona exportações.

Segundo a ANM, a arrecadação com taxas é de R$ 47 milhões por ano, mas esse número pode crescer substancialmente se houver expansão da produção e diversificação de destinos industriais dentro do país.

Um ativo estratégico para o futuro

O mundo caminha para reduzir emissões de carbono e buscar alternativas sustentáveis. Nesse cenário, o níquel emerge como ativo estratégico global, e o Brasil, dono da terceira maior reserva, tem papel decisivo a desempenhar.

A questão agora é se o país vai investir para deixar de ser apenas exportador de minério e assumir protagonismo na produção de insumos de alto valor agregado, como baterias e ligas especiais.

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Fabio Lucas Carvalho

Jornalista especializado em uma ampla variedade de temas, como carros, tecnologia, política, indústria naval, geopolítica, energia renovável e economia. Atuo desde 2015 com publicações de destaque em grandes portais de notícias. Minha formação em Gestão em Tecnologia da Informação pela Faculdade de Petrolina (Facape) agrega uma perspectiva técnica única às minhas análises e reportagens. Com mais de 10 mil artigos publicados em veículos de renome, busco sempre trazer informações detalhadas e percepções relevantes para o leitor. Para sugestões de pauta ou qualquer dúvida, entre em contato pelo e-mail flclucas@hotmail.com.

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