O Brasil aparece no mapa mundial do níquel como dono de uma das maiores reservas do planeta. O metal branco prateado, usado na produção de aço inoxidável e nas baterias de carros elétricos, tem papel cada vez mais estratégico na economia global e coloca o país em posição de destaque.
O níquel, metal branco prateado, resistente à corrosão e com alto valor agregado, ocupa hoje um espaço central no debate sobre energia limpa, inovação tecnológica e competitividade industrial.
Considerado estratégico pelo governo brasileiro, o minério é uma das bases para a produção de aço inoxidável e baterias de veículos elétricos, setores que moldam tanto a economia atual quanto o futuro da mobilidade global.
Reservas expressivas, produção modesta
Segundo o Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS), o Brasil detém cerca de 16 milhões de toneladas de reservas de níquel, o que o coloca como terceiro maior detentor mundial, atrás apenas da Indonésia (55 Mt) e da Austrália (24 Mt).
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Apesar da posição privilegiada em termos de reservas, a produção ainda é considerada modesta.
Em 2023, foram produzidas apenas 89 mil toneladas, o que representou 2,47% do mercado global e colocou o país na nona posição entre os produtores.
O Brasil, no entanto, é o único representante latino-americano entre os dez maiores.
A Agência Nacional de Mineração (ANM) aponta que a exploração do minério gera cerca de R$ 47 milhões por ano em taxas, valor que mostra o potencial de crescimento da indústria se houver investimentos em escala.
Onde está o níquel brasileiro
A exploração está concentrada em três estados: Goiás (60%), Pará (28%) e Bahia (12%).
O modelo predominante é de minas a céu aberto, acompanhado por plantas de beneficiamento que transformam o minério em produto de alto valor agregado.
Em Goiás, a Anglo American é responsável por dois ativos de destaque: a planta de Barro Alto, localizada na cidade homônima, e a unidade Codemin, em Niquelândia.
Somadas, as duas produziram 39,4 mil toneladas em 2024 e têm projeção de entre 37 e 39 mil toneladas para 2025.
Essas plantas operam por meio de processos pirometalúrgicos, que envolvem preparação do minério, fornos calcinadores e elétricos, refinaria e expedição. Todo o ciclo é planejado para aumentar a eficiência e reduzir perdas.
Exportação e mercados compradores
De acordo com o Ministério de Minas e Energia, grande parte do níquel extraído no Brasil é beneficiado internamente e, em seguida, exportado.
Os principais destinos incluem Reino Unido, China, Bélgica, Espanha e Estados Unidos.
Esse movimento evidencia como o níquel brasileiro está integrado às cadeias globais de valor, atendendo tanto ao setor de ligas metálicas quanto ao emergente mercado de baterias para veículos elétricos.
As propriedades que tornam o níquel valioso
O níquel é classificado como um metal não ferroso e pode ser encontrado em duas formas principais: sulfetados (primários) e lateríticos (oxidados). Essa versatilidade geológica se reflete em sua ampla gama de aplicações.
Entre suas características, destacam-se:
- Resistência à oxidação e à corrosão, tornando-o essencial em ambientes agressivos.
- Capacidade de melhorar propriedades de ligas metálicas, aumentando dureza, ductilidade e resistência mecânica.
- Compatibilidade magnética, importante para eletroeletrônicos.
Esses atributos fazem do níquel um insumo fundamental para indústrias estratégicas.
O níquel e suas combinações
O grande diferencial do níquel está em sua capacidade de se combinar com outros metais e gerar ligas e materiais de alto desempenho. Alguns exemplos práticos:
- Níquel + Cobre, Molibdênio, Cromo ou Vanádio → resultam em aços de resistência mecânica, usados em construção civil, indústria naval e aeronáutica.
- Níquel + Ferro → cria circuitos magnéticos, como os utilizados em transformadores, motores e sistemas eletrônicos.
- Níquel + Lítio, Cobalto, Manganês, Grafite, Alumínio, Aço e Cobre → compõem as baterias e componentes de carros elétricos.
Essas combinações explicam por que o níquel deixou de ser apenas “metal para panelas” e passou a ocupar papel estratégico na transição energética.
Aço inoxidável: o maior destino
Apesar da relevância crescente no setor de baterias, a maior fatia do consumo global de níquel ainda está no aço inoxidável. Panelas, eletrodomésticos, automóveis, tubulações e até moedas dependem do metal.
Esse uso de massa é o que historicamente sustentou a demanda. Mas a nova fronteira de crescimento vem da mobilidade elétrica e das energias renováveis, que exigem baterias cada vez mais potentes e duráveis.
Níquel e a revolução dos carros elétricos
Os carros elétricos são talvez o maior exemplo de como o níquel se tornou estratégico. As baterias mais avançadas — como as NMC (Níquel-Manganês-Cobalto) e NCA (Níquel-Cobalto-Alumínio) — utilizam alto teor de níquel para garantir maior densidade energética e autonomia.
Além disso, outros metais se somam ao processo:
- Grafite, no ânodo.
- Cobre e alumínio, em cabos e coletores.
- Aço e alumínio, nas estruturas do veículo.
Ou seja, a transição para a mobilidade elétrica depende diretamente de uma cadeia que tem no níquel um de seus pilares.
Agricultura também se beneficia
O níquel, embora mais conhecido na indústria, também tem aplicações no agronegócio. Estudos apontam que ele pode incrementar a produtividade agrícola, reduzir a ocorrência de doenças como a ferrugem asiática e melhorar a sustentabilidade das lavouras.
Isso amplia ainda mais o espectro de importância do metal, mostrando que sua influência ultrapassa as fronteiras da indústria pesada.
Desafios e oportunidades
O Brasil, com suas reservas expressivas, enfrenta o desafio de transformar esse potencial em liderança produtiva.
Atualmente, o contraste entre a 3ª posição em reservas e a 9ª em produção revela limitações de investimento, infraestrutura e inovação tecnológica.
Por outro lado, a crescente demanda global, puxada pela indústria automobilística e pela transição energética, abre oportunidades de expansão.
Se o país investir em tecnologia de extração e beneficiamento, poderá não apenas aumentar sua produção, mas também capturar maior valor agregado, em vez de exportar apenas matéria-prima.
Impacto econômico e social
O níquel movimenta uma cadeia que envolve mineração, beneficiamento, siderurgia, indústria automotiva, eletrônica e até agricultura.
Ele gera empregos diretos nas minas e plantas, receitas para estados e municípios e impulsiona exportações.
Segundo a ANM, a arrecadação com taxas é de R$ 47 milhões por ano, mas esse número pode crescer substancialmente se houver expansão da produção e diversificação de destinos industriais dentro do país.
Um ativo estratégico para o futuro
O mundo caminha para reduzir emissões de carbono e buscar alternativas sustentáveis. Nesse cenário, o níquel emerge como ativo estratégico global, e o Brasil, dono da terceira maior reserva, tem papel decisivo a desempenhar.
A questão agora é se o país vai investir para deixar de ser apenas exportador de minério e assumir protagonismo na produção de insumos de alto valor agregado, como baterias e ligas especiais.