1. Início
  2. / Geopolítica
  3. / Estado lamentável — Parte do poder militar da Marinha dos EUA está em condições terríveis, afirma relatório
Tempo de leitura 5 min de leitura Comentários 1 comentários

Estado lamentável — Parte do poder militar da Marinha dos EUA está em condições terríveis, afirma relatório

Escrito por Fabio Lucas Carvalho
Publicado em 12/12/2024 às 11:12
Marinha dos EUA
(Marinha dos EUA)

Um relatório revelou que parte do poder militar da Marinha dos EUA está em estado crítico, com navios e equipamentos em condições alarmantes

As Forças Armadas dos Estados Unidos são amplamente reconhecidas como as mais fortes e preparadas do mundo, ostentando tecnologia de ponta. Entretanto, relatórios recentes revelam uma preocupante vulnerabilidade: a frota anfíbia da Marinha dos EUA, essencial para operações de desembarque e resposta rápida, encontra-se em péssimas condições.

Um recente relatório do Government Accountability Office (GAO) destacou sobre a precária situação da frota anfíbia da Marinha dos EUA.

Composta por 32 navios de assalto anfíbio (LHD/LHA), navios de desembarque (LSD) e docas de transporte anfíbio (LPD), a frota enfrenta problemas que comprometem sua função de transporte de fuzileiros navais, aeronaves e outros veículos em operações globais.

Segundo o relatório, metade desses navios está em “condições ruins”, colocando em dúvida sua capacidade de cumprir a vida útil planejada.

A crise não se limita ao estado dos navios. A Marinha também enfrenta dificuldades para manter o mínimo exigido por lei de 31 embarcações até a década de 2030.

O impacto dessas deficiências vai muito além do material: compromete o treinamento e a prontidão dos fuzileiros navais, além de prejudicar operações em áreas estratégicas, como o Pacífico.

Bases para a frota anfíbia da Marinha dos EUA. (GAO)

Problemas de manutenção e planejamento na Marinha dos EUA

Os problemas apontados pelo GAO são diversos e abrangem toda a frota. Entre eles, destacam-se:

  • Atrasos crônicos na manutenção: Cerca de 71% dos períodos de manutenção de 2010 a 2021 foram estendidos, resultando em quase 29 anos de treinamento perdido.
  • Falta de supervisão: Contratados realizaram trabalhos de baixa qualidade, como no USS Essex (LHD-2), onde soldas tiveram que ser refeitas, gerando atrasos e custos adicionais.
  • Peças de reposição escassas: Navios como o USS Wasp (LHD-1), com 35 anos de serviço, sofrem com a indisponibilidade de componentes para sistemas de propulsão a vapor.
  • Planejamento inadequado: Tentativas de aposentadoria antecipada de navios foram realizadas sem a aprovação do Congresso, agravando a situação dos navios mantidos em operação.
Marinha dos EUA
Foto: Reprodução

Incidentes recentes

Dois incidentes ocorridos em 2023 ilustram os efeitos práticos dos problemas da frota:

  1. Boxer ARG: O grupo, composto pelo USS Boxer (LHD-4), USS Somerset (LPD-25) e USS Harpers Ferry (LSD-49), enfrentou atrasos na manutenção e dificuldades de implantação. O USS Boxer, por exemplo, sofreu um problema no leme de estibordo e teve que retornar a San Diego após poucos dias de missão.
  2. USS America ARG: Este grupo não conseguiu operar como uma unidade completa devido à indisponibilidade dos três navios necessários, comprometendo exercícios de treinamento e a presença naval em áreas críticas.

A frota também perdeu um navio anfíbio adicional, o USS Bonhomme Richard (LHD-6), destruído em um incêndio no porto em 2020. A resposta inadequada ao incêndio expõe lacunas na gestão de crises.

O impacto do Force Design 2030

O Force Design 2030 do Corpo de Fuzileiros Navais propõe uma mudança de doutrina, com maior foco em unidades menores e distribuídas, reduzindo a ênfase em desembarques em grande escala.

Apesar dessa visão, interesses concorrentes, incluindo demandas do Congresso, mantiveram os navios anfíbios como prioridade.

O futuro dessas embarcações, no entanto, continua em dúvida, especialmente considerando seu custo elevado e desafios de manutenção.

Custos crescentes e dificuldades de modernização

A Marinha planeja extensões de vida útil para manter a frota de 31 navios, mas isso implica custos de até US$ 1 bilhão por embarcação.

Além disso, novos navios não estão imunes a problemas. O USS Fort Lauderdale (LPD-28), com menos de três anos de serviço, enfrenta falhas de design e altos custos de manutenção.

Problemas como esses mostram que a modernização da frota será um processo longo e caro.

Além disso, atrasos crônicos nos períodos de manutenção resultaram em custos adicionais de US$ 400 milhões entre 2020 e 2022, comprometendo ainda mais o orçamento.

Reações e caminhos a seguir

Líderes do Corpo de Fuzileiros Navais e da Marinha reconhecem a gravidade da situação e trabalham para mitigar os desafios.

A almirante Lisa Franchetti afirmou que os serviços estão empenhados em superar problemas de manutenção sem prejudicar o treinamento. Ela também destacou a aquisição de novos anfíbios como uma prioridade.

Duas revisões da Marinha iniciadas em 2023 buscam entender os problemas que afetam a prontidão da frota, mas o progresso tem sido limitado.

Enquanto isso, o GAO enfatiza que ter 31 navios anfíbios não significa que todos estejam operacionais. Muitos estão fora de serviço há anos, comprometendo as capacidades de treinamento e mobilização.

Alguns analistas questionam a necessidade de uma frota anfíbia tão grande, especialmente em cenários de combate contra pares como a China.

Sistemas avançados de defesa dificultariam desembarques em larga escala no Pacífico. Apesar disso, as embarcações ainda desempenham um papel crítico em outras missões, como evacuação de não combatentes e apoio a conflitos de menor intensidade.

O relatório do GAO revelou a profundidade dos desafios enfrentados pela frota anfíbia da Marinha dos Estados Unidos.

Resolver esses problemas exige um esforço coordenado entre a Marinha, o Corpo de Fuzileiros Navais, o Congresso e o Pentágono. Embora alguns avanços tenham sido feitos, o caminho para restaurar a prontidão da frota é longo e repleto de obstáculos.

A questão que permanece é se a Marinha conseguirá superar essas dificuldades a tempo de garantir a segurança e a eficiência de suas operações anfíbias em um mundo cada vez mais volátil.

  • Reação
  • Reação
5 pessoas reagiram a isso.
Reagir ao artigo
Inscreva-se
Notificar de
guest
1 Comentário
Mais antigos
Mais recente Mais votado
Feedbacks
Visualizar todos comentários
Andrey Henrique
Andrey Henrique
15/12/2024 11:10

Mais da metade dos porta aviões dos EUA tem mais de trinta anos e tem gente ridicularizando a marinha chinesa.

Tags
Fabio Lucas Carvalho

Jornalista especializado em uma ampla variedade de temas, como carros, tecnologia, política, indústria naval, geopolítica, energia renovável e economia. Atuo desde 2015 com publicações de destaque em grandes portais de notícias. Minha formação em Gestão em Tecnologia da Informação pela Faculdade de Petrolina (Facape) agrega uma perspectiva técnica única às minhas análises e reportagens. Com mais de 10 mil artigos publicados em veículos de renome, busco sempre trazer informações detalhadas e percepções relevantes para o leitor. Para sugestões de pauta ou qualquer dúvida, entre em contato pelo e-mail flclucas@hotmail.com.

Compartilhar em aplicativos
0
Adoraríamos sua opnião sobre esse assunto, comente!x