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Esta usina de energia solar térmica custou US$ 2.000.000.000 e agora faliu devido aos pássaros e da energia fotovoltaica

Escrito por Fabio Lucas Carvalho
Publicado em 12/07/2025 às 07:56
solar térmica
Foto: Reprodução
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Inaugurada em 2014 como a maior usina solar térmica do mundo, Ivanpah prometia ser um marco na geração de energia limpa nos Estados Unidos. Mas problemas técnicos, alto custo e impacto ambiental transformaram o projeto em um exemplo de transição energética que não saiu como planejado.

A maior usina solar térmica dos Estados Unidos, conhecida como Ivanpah, já foi considerada um símbolo da revolução energética americana.

Com sua inauguração em 2014, no Deserto de Mojave, a estrutura impressionou pelo tamanho, inovação e promessa de energia limpa.

Hoje, pouco mais de uma década depois, o projeto enfrenta o encerramento precoce de suas atividades.

Como funcionava a tecnologia de Ivanpah

A usina Ivanpah operava com tecnologia solar térmica de concentração.

Mais de 173.500 helióstatos – espelhos móveis controlados por computador – seguiam a trajetória do sol durante o dia.

Esses espelhos refletiam a luz para três torres de 140 metros de altura.

No topo de cada torre, a radiação concentrada aquecia água, produzindo vapor.

Esse vapor movimentava turbinas convencionais, gerando eletricidade sem queima direta de combustíveis fósseis.

A promessa era de um sistema capaz de funcionar mesmo após o pôr do sol.

O projeto previa o uso de sal fundido para armazenar calor e prolongar a geração.

No entanto, na prática, essa função era limitada pelo projeto original e pela necessidade de apoio com gás natural para alcançar as temperaturas ideais.

Um investimento bilionário com apoio federal

Ivanpah foi construído com um investimento de US$ 2,18 bilhões.

Desse total, cerca de US$ 1,6 bilhão veio de um empréstimo do Departamento de Energia dos Estados Unidos (DOE).

O projeto era uma parceria entre a NRG Energy, a BrightSource Energy e o Google, que apostavam na usina como exemplo de inovação verde.

Com área total de 13 km², a usina tinha capacidade instalada bruta de 392 megawatts. Isso permitiria abastecer até 140 mil residências com energia renovável.

O objetivo era mostrar que a tecnologia solar térmica poderia competir com outras fontes na escala de grandes usinas.

Problemas técnicos e operacionais persistentes

Desde o início da operação, Ivanpah enfrentou dificuldades técnicas.

Problemas de alinhamento dos helióstatos, perdas térmicas inesperadas e falhas no receptor central prejudicaram a eficiência.

Além disso, para alcançar temperaturas adequadas, a usina precisou usar gás natural com frequência, o que comprometeu sua proposta de emissão zero.

As duras condições do deserto também impactaram negativamente.

As peças móveis dos helióstatos apresentavam quebras frequentes, e os custos de manutenção aumentaram muito além do esperado. Com isso, o custo final da energia gerada ficou acima da média do mercado.

Rescisão de contratos e queda de viabilidade econômica

A queda no custo das usinas solares fotovoltaicas tornou a energia térmica por torres menos competitiva.

A Pacific Gas & Electric (PG&E), principal compradora da energia gerada em Ivanpah, decidiu encerrar seus contratos.

Segundo a empresa, essa medida permitirá economias significativas para os consumidores.

Os contratos com a PG&E eram válidos até 2039.

No entanto, em janeiro de 2025, os proprietários da usina e o Departamento de Energia chegaram a um acordo para encerrar dois desses contratos.

A decisão marcou o fim das principais operações de Ivanpah e praticamente selou o destino do projeto.

Impacto ambiental se torna alvo de críticas

Além dos problemas técnicos e econômicos, a usina também foi alvo de críticas por seus impactos ambientais.

O campo de helióstatos causava a morte de milhares de aves por ano.

Estima-se que até 28.000 pássaros morressem anualmente ao sobrevoar as áreas de calor concentrado, superaqueçam e caiam.

Organizações ambientais classificaram o projeto como uma “armadilha mortal” para a fauna local.

Também foram feitas críticas à forma como o estudo de impacto ambiental foi conduzido, especialmente no que diz respeito a espécies ameaçadas como a tartaruga-do-deserto e aves migratórias.

Acusações de fracasso ambiental e financeiro

Diante das críticas crescentes, alguns especialistas passaram a tratar o Ivanpah como um exemplo de fracasso.

O uso de gás natural para complementar a operação, somado ao custo elevado e ao impacto ambiental, comprometeu sua imagem como projeto sustentável.

A promessa de um modelo revolucionário acabou não se cumprindo na prática.

O investimento público elevado também entrou no centro das críticas. Para muitos, os bilhões investidos pelo governo dos EUA poderiam ter sido direcionados a tecnologias mais eficazes e de menor impacto ambiental, como a energia solar fotovoltaica.

O futuro do local: descomissionamento e transformação

Com o encerramento das atividades, os operadores de Ivanpah já discutem planos para o futuro da área.

A proposta principal é reutilizar parte da estrutura existente para instalar usinas fotovoltaicas, que são mais simples e baratas de operar.

Também há planos para incluir sistemas de armazenamento com baterias, melhorando a resposta a picos de demanda.

Essa nova abordagem segue uma tendência mundial: tecnologias mais acessíveis, de operação simplificada e com menor impacto ambiental.

O descomissionamento da usina térmica, nesse caso, não significa o fim da geração de energia no local, mas sim uma transição para métodos mais eficazes.

Ivanpah, que já foi símbolo de uma nova era energética, se transforma agora em um exemplo de transição. A experiência servirá de lição para futuros projetos que buscam aliar inovação, eficiência e sustentabilidade.

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Fabio Lucas Carvalho

Jornalista especializado em uma ampla variedade de temas, como carros, tecnologia, política, indústria naval, geopolítica, energia renovável e economia. Atuo desde 2015 com publicações de destaque em grandes portais de notícias. Minha formação em Gestão em Tecnologia da Informação pela Faculdade de Petrolina (Facape) agrega uma perspectiva técnica única às minhas análises e reportagens. Com mais de 10 mil artigos publicados em veículos de renome, busco sempre trazer informações detalhadas e percepções relevantes para o leitor. Para sugestões de pauta ou qualquer dúvida, entre em contato pelo e-mail flclucas@hotmail.com.

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