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Esse foi o primeiro açude do Brasil: obra pioneira construída com tração animal e pedra em 1890 ainda funciona com capacidade de 126 milhões de m³

Escrito por Fabio Lucas Carvalho
Publicado em 17/06/2025 às 23:00
açude

Primeira grande obra hidráulica do Brasil marcou o início das estratégias para enfrentar os efeitos da seca com engenharia e planejamento público.

No fim do século XIX, o Brasil iniciou uma das obras mais ambiciosas de sua história para enfrentar os longos períodos de seca. Com técnicas simples, sem máquinas, apenas com força humana, ferramentas manuais e tração animal, começou a construção do primeiro grande açude público do país.

A estrutura, feita inteiramente de blocos de pedra, marcaria para sempre a engenharia nacional e abriria caminho para uma nova forma de lidar com a escassez de água.

No sertão do Ceará, uma construção centenária mudou a forma como o Brasil enfrentava a seca. O Açude Cedro, localizado em Quixadá, foi o primeiro grande reservatório público de água do país.

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Mais do que uma obra de engenharia, ele representa o início das políticas de combate à estiagem no semiárido nordestino.

Uma resposta à seca de 1877

O projeto do Açude Cedro surgiu como reação à seca devastadora que atingiu o Nordeste entre 1877 e 1879. A tragédia deixou milhares de mortos e forçou o deslocamento de famílias inteiras. Diante da calamidade, o imperador Dom Pedro II ordenou a realização de obras para armazenar água e enfrentar futuros períodos de estiagem.

Foi nesse contexto que o Cedro começou a ser pensado. Ainda no final do século XIX, técnicos e engenheiros iniciaram os estudos para a construção de um grande reservatório no interior do Ceará. A localização foi escolhida por causa do relevo favorável e da presença de um riacho perene, o Riacho do Cedro.

Início das obras e desafios

A construção começou oficialmente em 1890. Os trabalhos foram coordenados por engenheiros formados na Escola Politécnica do Rio de Janeiro, com apoio do recém-criado Inspetorado de Obras Contra as Secas, que depois se tornaria o DNOCS.

Tudo foi feito com técnicas manuais. Não havia máquinas pesadas. Os operários usavam ferramentas simples e tração animal. A estrutura do açude foi erguida com blocos de pedra cuidadosamente cortados e encaixados à mão, num trabalho que exigiu precisão e paciência.

O principal desafio era o próprio clima. As chuvas eram irregulares, e o calor dificultava o ritmo das obras. Além disso, a logística era complicada. Materiais precisavam ser transportados por longas distâncias, o que tornava o processo ainda mais lento.

Conclusão e funcionamento

Depois de 16 anos de trabalho, o açude foi concluído em 1906. Com capacidade de cerca de 126 milhões de metros cúbicos, o Cedro passou a ser o maior reservatório do país na época. A estrutura tem uma barragem de quase 500 metros de comprimento e 20 metros de altura, feita inteiramente de pedra.

O açude passou a armazenar as águas do riacho Cedro e de afluentes menores, formando um espelho d’água que, além de abastecimento, servia para irrigação e criação de animais.

Durante décadas, ele foi referência no combate à seca. Mesmo com o avanço tecnológico e a construção de outras barragens, o Cedro manteve seu valor histórico e simbólico.

Importância histórica e tombamento

O Açude Cedro foi a primeira grande obra hidráulica do Brasil. Também foi a primeira da América do Sul feita inteiramente com técnica de alvenaria de pedra sem argamassa.

O IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) reconheceu esse valor e tombou a estrutura em 1977. O local passou a ser protegido como patrimônio cultural e exemplo de engenharia nacional do período imperial.

Hoje, o açude atrai visitantes, pesquisadores e estudantes. Sua barragem de pedra e a paisagem ao redor tornaram-se símbolos da convivência com o semiárido e do esforço humano para superar os desafios da natureza.

Estado atual do açude

Mesmo mais de um século depois, o Açude Cedro continua em operação. Ele ainda armazena água, ainda cumpre função hídrica e ainda é visitado por moradores e turistas.

Nos últimos anos, houve iniciativas de recuperação estrutural para preservar a barragem de pedra e garantir sua segurança.

Além do valor funcional, o açude tem importância cultural e educativa. Escolas da região frequentemente organizam visitas para mostrar aos estudantes como era feito o trabalho de engenharia naquela época e qual foi o impacto da obra no desenvolvimento local.

Um marco para o semiárido

A construção do Açude Cedro foi mais do que um projeto técnico. Ela representou um marco na luta histórica do sertanejo contra a seca.

Naquele tempo, era comum ver famílias inteiras se deslocando por falta de água. O Cedro deu esperança a essas comunidades e abriu caminho para uma nova forma de pensar o uso da água no Nordeste.

Com ele, o país começou a traçar políticas públicas voltadas à convivência com a seca, e não apenas ao combate emergencial. Essa visão ainda orienta ações do poder público mais de 100 anos depois.

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Fabio Lucas Carvalho

Jornalista especializado em uma ampla variedade de temas, como carros, tecnologia, política, indústria naval, geopolítica, energia renovável e economia. Atuo desde 2015 com publicações de destaque em grandes portais de notícias. Minha formação em Gestão em Tecnologia da Informação pela Faculdade de Petrolina (Facape) agrega uma perspectiva técnica única às minhas análises e reportagens. Com mais de 10 mil artigos publicados em veículos de renome, busco sempre trazer informações detalhadas e percepções relevantes para o leitor. Para sugestões de pauta ou qualquer dúvida, entre em contato pelo e-mail flclucas@hotmail.com.

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