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Esse bicho se tornou uma praga no Brasil: ameaça plantações, animais nativos e até pessoas

Escrito por Roberta Souza
Publicado em 11/08/2025 às 11:24
praga, javali, Brasil.
Fonte: IA.
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Longe de ser um animal típico do Brasil ele se tornou uma ameaça ao equilíbro ambiental. Entenda por que a caça é permitida e os impactos dessa invasão.

O javali está longe de ser um animal típico do Brasil – mas infelizmente tem se tornado um dos maiores problemas para nossa biodiversidade e agricultura.

Classificado entre as cem piores espécies exóticas invasoras do mundo, esse porco selvagem trazido de outros continentes se prolifera descontroladamente aqui, pois não encontra predadores naturais para frear sua expansão. O resultado? Uma verdadeira praga que já causa estragos enormes em diversas regiões do país.

Origem e chegada ao Brasil

Os javalis são nativos da Europa, Ásia e norte da África. No Brasil, sua presença começou quando colonizadores europeus trouxeram porcos selvagens para servirem de alimento nas viagens marítimas e, mais tarde, quando fazendeiros importaram a espécie para criação de carne e para a prática da caça esportiva.

A ideia inicial era lucrar com a carne exótica, mas o plano saiu do controle: muitos animais escaparam, adaptaram-se bem ao ambiente brasileiro e começaram a se reproduzir na natureza. Assim teve início uma invasão que só fez crescer nas décadas seguintes.

Reprodução acelerada e falta de predadores

Uma fêmea de javali pode gerar várias ninhadas por ano, em uma velocidade reprodutiva impressionante. A gestação dura cerca de 4 meses, e cada fêmea produz em média 8 a 10 filhotes por ninhada, podendo chegar a 15 ou até mais – há registros de casos extremos com até 25 leitões de uma só vez.

Além disso, é comum que se reproduzam duas ou três vezes ao ano, e em alguns casos até quatro gestações anuais. Com tamanha fecundidade, a população de javalis cresce exponencialmente.

Paralelamente, faltam predadores naturais para conter essa explosão populacional. No seu habitat original existem lobos, ursos e grandes felinos que caçam javalis; já no Brasil, predadores de topo como a onça-pintada e a onça-parda tornaram-se raros em muitas áreas invadidas.

Mesmo onde ocorrem, essas onças geralmente abatem apenas filhotes ou fêmeas jovens – elas evitam confronto com javalis adultos, especialmente machos que podem pesar 300 a 350 quilos.

Sem um inimigo natural à altura, os bandos de javalis crescem livres, tomando conta dos campos e matas.

Estragos ambientais e agrícolas

Os javalis não apenas ocupam o espaço de outros animais, mas também causam destruição por onde passam. Por serem onívoros generalistas, comem praticamente de tudo – raízes, frutos, grãos, pequenos animais, ovos – e reviram o solo em busca de comida. As consequências dessa invasão incluem:

  • Destruição de plantações e pastagens: Bandos de javalis famintos podem devorar e pisotear lavouras inteiras. Milharais, plantações de soja, cana-de-açúcar e outras culturas acabam arrasadas, resultando em prejuízos consideráveis para os produtores rurais. Pastos onde o gado se alimenta também são danificados quando esses porcos revolvem a terra em busca de raízes e insetos.
  • Danos a nascentes e solos: Ao fuçar o solo e wallowing em áreas úmidas, os javalis degradam nascentes, brejos e margens de rios.
  • Ameaça à fauna nativa: A presença do javali representa competição e perigo para os animais silvestres brasileiros. Espécies nativas de porcos-do-mato, como o cateto e a queixada, perdem território e alimento para os invasores e podem ser expulsas ou mesmo dizimadas localmente. Javali também preda ovos, filhotes e indivíduos menores de diversas espécies, desequilibrando todo o ecossistema.
  • Risco à segurança de pessoas: Embora não sejam animais que atacam humanos com frequência, incidentes já foram registrados. Um javali adulto, quando se sente encurralado ou está protegendo seus filhotes, pode investir contra pessoas com grande agressividade, usando suas presas afiadas.

Riscos sanitários e prejuízos econômicos

Outra faceta alarmante da invasão dos javalis são os riscos sanitários. Esses animais podem ser portadores e disseminadores de diversas doenças infecciosas, ameaçando criações domésticas e fauna silvestre.

Entre os males associados aos javalis estão febre aftosa, peste suína, tuberculose, leptospirose e raiva – enfermidades graves que podem acometer porcos domésticos, gado, outros animais e até seres humanos (no caso de zoonoses como leptospirose e raiva).

A possibilidade de um javali infectado introduzir, por exemplo, o vírus da aftosa em áreas livres da doença causa pânico no setor agropecuário.

Os prejuízos potenciais são gigantescos. Um estudo da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) estimou que, se essas doenças atingissem os rebanhos nacionais de forma ampla, as perdas poderiam chegar a R$ 50 bilhões por ano em decorrência de mortes de animais, restrições comerciais e outras consequências sanitárias.

Além disso, a própria destruição de plantações e infraestruturas rurais pelos javalis já impõe gastos crescentes a produtores com replantio, cercas e reparos. Ou seja, o impacto econômico dessa praga só cresce conforme ela se espalha pelo país.

Caça liberada para controle da praga

Diante de todos esses problemas, a caça ao javali foi oficialmente liberada no Brasil – ao contrário de qualquer outro animal de grande porte. Desde 1967 a legislação ambiental brasileira proíbe a caça de fauna nativa, mas em 2013 o Ibama abriu uma exceção para o javali-europeu, autorizando sua captura e abate controlado como medida de contenção da espécie invasora que não possui predadores naturais no país.

Atualmente, o javali é o único animal com caça permitida no território nacional (justamente por ser exótico e altamente destrutivo).

A ideia é que grupos de controladores cadastrados possam reduzir as populações de javali em áreas críticas, protegendo lavouras e ecossistemas.

De fato, milhares de javalis vêm sendo eliminados anualmente. Dados do Ibama mostram que aproximadamente 333 mil javalis foram abatidos entre abril de 2019 e agosto de 2021, e em 2022 o número saltou para cerca de 465 mil abatidos em apenas um ano.

Ainda assim, o problema está longe de ser resolvido – os javalis continuam avançando para novas regiões. Para se ter ideia, em 2016 havia registro de javalis em 489 municípios brasileiros; já em 2022 passaram a estar presentes em mais de 2.010 municípios espalhados por todos os bioma.

A invasão literalmente ganhou terreno, o que mostra a dificuldade de controlar essa espécie mesmo com a caça liberada.

A situação gera debate. Especialistas concordam que sem intervenção humana os javalis não recuarão, mas alguns questionam se a caça, por si só, é suficiente ou se pode ter efeitos colaterais. De todo modo, governos e órgãos ambientais no mundo todo têm na caça controlada sua principal aposta contra a disseminação do javali.

No Brasil, planos nacionais de manejo vêm sendo discutidos e aprimorados para tornar o controle mais eficaz e minimizar riscos a outras espécies.

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Roberta Souza

Engenheira de Petróleo, pós-graduada em Comissionamento de Unidades Industriais, especialista em Corrosão Industrial. Entre em contato para sugestão de pauta, divulgação de vagas de emprego ou proposta de publicidade em nosso portal. Não recebemos currículos

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