Ponte Salvador-Itaparica terá 12,4 km sobre o mar, investimento de R$ 10 bilhões e pode transformar a mobilidade e a economia do Nordeste.
A promessa de tirar do papel uma das maiores obras de infraestrutura já concebidas no Brasil está prestes a se concretizar. A Ponte Salvador-Itaparica, considerada “colossal” por seus números impressionantes, terá 12,4 quilômetros de extensão sobre a Baía de Todos-os-Santos, ligando a capital baiana diretamente à Ilha de Itaparica. Com custo estimado em R$ 10 bilhões e início de obras previsto para 2026, o projeto é visto como transformador não apenas para a mobilidade da região, mas também para toda a economia do Nordeste, que ganhará uma nova rota logística estratégica.
Uma megaobra chinesa no coração da Bahia
A ponte é fruto de uma parceria público-privada assinada entre o governo da Bahia e um consórcio liderado por duas gigantes chinesas: China Communications Construction Company (CCCC) e China Railway 20 Bureau Group. Trata-se de um dos maiores investimentos em infraestrutura já feitos no estado, com prazo de 5 anos para conclusão após o início das obras.
O projeto prevê ainda pedágios para custear a operação e manutenção, com estimativa inicial de valores entre R$ 40 e R$ 50.
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A grandiosidade da obra chama atenção: além dos 12,4 km de extensão, a ponte terá torres de até 200 metros de altura e capacidade para suportar tráfego pesado de veículos, incluindo caminhões de carga, algo crucial para integrar de forma mais eficiente o interior baiano aos portos e mercados consumidores.
Impacto na mobilidade e na economia
Hoje, a travessia entre Salvador e Itaparica é feita principalmente por meio de ferry boats, que transportam milhares de pessoas e veículos diariamente, mas que enfrentam atrasos e limitações de capacidade.
A nova ponte promete reduzir drasticamente o tempo de deslocamento, encurtando a distância entre Salvador e o Recôncavo Baiano e integrando de forma mais rápida a capital às regiões Sul e Oeste do estado.
Na prática, a ligação rodoviária deve reduzir em até 100 km o percurso para quem segue em direção a cidades como Ilhéus, Itabuna, Vitória da Conquista e Barreiras. Isso representa não apenas economia de tempo e combustível, mas também ganhos logísticos para setores-chave da economia baiana, como a produção agrícola, a indústria petroquímica do Polo de Camaçari e o turismo.
O potencial de mudar o turismo do Nordeste
Especialistas apontam que a ponte Salvador-Itaparica terá um impacto semelhante ao da Ponte Rio-Niterói, inaugurada em 1974. Ao transformar a logística de mobilidade, a obra deve estimular o desenvolvimento imobiliário da Ilha de Itaparica e arredores, que tendem a se valorizar rapidamente com a nova acessibilidade.
O turismo, por sua vez, é outro setor que deve sentir fortemente os efeitos da obra. Salvador, já consolidada como um dos principais destinos turísticos do Brasil, passará a ter ligação direta com praias ainda pouco exploradas do baixo-sul da Bahia, como Morro de São Paulo, Boipeba e Barra Grande.
A expectativa é de que a ponte impulsione tanto o turismo de massa quanto o de alto padrão, atraindo novos investimentos em hotéis, resorts e infraestrutura de lazer.
Um projeto estratégico para o Nordeste
Além do impacto local, a ponte é vista como peça-chave para a integração do Nordeste. Com a ligação direta Salvador-Itaparica, será possível conectar de forma mais eficiente o eixo rodoviário que vem do interior da Bahia e do Oeste brasileiro até o litoral, reduzindo custos logísticos de transporte de grãos, minérios e mercadorias diversas.
Estudos econômicos apontam que a obra pode gerar até 100 mil empregos diretos e indiretos ao longo da sua construção e operação inicial.
Mais do que isso, os efeitos multiplicadores devem se estender por décadas, estimulando novos negócios, aumentando a competitividade da Bahia e atraindo indústrias que hoje enfrentam custos altos de transporte.
Críticas e preocupações
Apesar dos benefícios projetados, a ponte Salvador-Itaparica também enfrenta críticas. Ambientalistas alertam para possíveis impactos sobre a Baía de Todos-os-Santos, considerada a maior baía do Brasil em volume de água, e que abriga ecossistemas frágeis. Além disso, a questão do pedágio é polêmica: moradores da região temem que o valor elevado inviabilize o uso cotidiano da ponte pela população local.
Outro desafio é o financiamento: embora o consórcio chinês seja o responsável pela execução, o projeto depende de garantias de viabilidade econômica de longo prazo, em um cenário de instabilidade econômica nacional.
Uma obra para marcar época
Ainda assim, o consenso é que a ponte Salvador-Itaparica tem potencial para ser uma obra de referência, não apenas pela engenharia envolvida, mas também pela transformação social e econômica que promete desencadear. Sua conclusão colocará o Brasil no mapa das maiores pontes do mundo e, no caso específico da América Latina, será a maior ponte construída sobre lâmina d’água.
O governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues, já classificou o projeto como “um divisor de águas” para o futuro do estado. Para ele, a ponte é mais do que uma infraestrutura: é uma aposta de que o Nordeste pode assumir protagonismo logístico e econômico no Brasil.
Enquanto isso, a população baiana acompanha com expectativa e ceticismo. Se de um lado há quem sonhe com a valorização imobiliária e o impulso econômico, de outro há dúvidas sobre prazos, custos e impactos sociais.
O certo é que, caso concluída dentro do prazo, a ponte Salvador-Itaparica entrará para a história como uma das maiores e mais ousadas obras de engenharia já feitas no país — e poderá redefinir o futuro da mobilidade, do turismo e da economia do Nordeste.