Estudo europeu analisou envelhecimento e direção, apontando a faixa etária em que os reflexos começam a cair e aumentam os riscos de acidentes, além de destacar a importância de avaliações médicas regulares para motoristas mais velhos.
Pesquisadores em Barcelona apontam que a partir dos 75 anos há uma queda relevante de reflexos e de capacidade de atenção, o que eleva o risco de acidentes no trânsito.
O grupo afirma que a idade, por si só, não pode ser critério exclusivo para tirar alguém do volante, mas recomenda avaliações periódicas para identificar quem já não mantém condições ideais de dirigir.
Como o estudo chegou ao número de 75 anos
A investigação reuniu exames clínicos, testes de direção em simuladores e dados de ocorrências reais com motoristas idosos.
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Ao cruzar os resultados, os autores observaram que, na média, a degradação de funções como visão periférica, coordenação motora fina e tempo de reação se torna mais acentuada a partir da metade da década de 70.
Isso significa que manobras simples, como mudar de faixa, passam a demandar mais tempo e esforço cognitivo.
Ainda que a amostra analisada seja espanhola, o desenho metodológico procurou isolar variáveis como comorbidades, uso de medicamentos e histórico de direção.
Mesmo assim, os cientistas frisam que os achados não valem como “corte seco” aplicável a todos, já que o ritmo de envelhecimento é heterogêneo.
O que piora com a idade ao volante
Os dados reunidos indicam três pontos críticos.
Primeiro, a perda gradual do campo visual lateral, que dificulta perceber pedestres, ciclistas e veículos em aproximação.
Em segundo lugar, a lentidão na tomada de decisão em situações de risco, como freadas súbitas ou mudanças bruscas no fluxo.
Por fim, a adaptação mais difícil a cenários de tráfego intenso, nos quais o excesso de estímulos exige atenção dividida constante.
Essas alterações não surgem de um dia para o outro.
Elas se acumulam e podem passar despercebidas no cotidiano, sobretudo quando o condutor mantém trajetos repetidos e horários previsíveis.
Em contextos novos, porém, a margem de segurança diminui.
Idade não é o único fator
Apesar do recorte etário, o estudo ressalta que avaliar a pessoa é mais efetivo do que fixar um limite universal.
A recomendação é combinar exames de saúde física e triagens cognitivas regulares para verificar memória operacional, atenção sustentada e processamento visuoespacial.
Com isso, decisões como reduzir a quilometragem, evitar dirigir à noite ou, em último caso, aposentar a CNH, deixam de ser arbitrárias e passam a se basear em evidências clínicas.
Outra orientação é revisar doenças e medicamentos que interferem na condução.
Hipertensão descompensada, distúrbios do sono e fármacos sedativos, por exemplo, podem ampliar os riscos, independentemente da idade.
O que fazem países europeus
Em parte da Europa, a renovação da habilitação de condutores idosos envolve exames médicos periódicos a partir da terceira idade, justamente para identificar declínios funcionais antes que eles se traduzam em acidentes.
Em linhas gerais, a frequência desses controles aumenta conforme o envelhecimento, e avaliações complementares podem ser exigidas caso o médico identifique sinais de comprometimento.
Embora os requisitos variem, a diretriz comum é antecipar problemas.
Assim, a autorização para seguir dirigindo pode vir com condicionantes, como o uso obrigatório de correção visual, restrição de horários ou reavaliação em intervalo menor.
Como o Brasil trata motoristas idosos
No Brasil, não há idade máxima para dirigir.
A legislação atual determina que condutores a partir dos 70 anos renovem a CNH a cada três anos, com realização do exame de aptidão física e mental.
Antes desse marco, a periodicidade é maior, e as exigências variam conforme a faixa etária estabelecida pelo Código de Trânsito Brasileiro.
Especialistas ouvidos por entidades do setor defendem que o processo de renovação incorpore, de forma mais sistemática, testes cognitivos simples e padronizados.
A ideia é identificar precocemente sinais de perda de atenção dividida, processamento lento e dificuldades visuoespaciais, que costumam preceder incidentes ao volante.
O que a pesquisa sugere para decisões individuais
O número de 75 anos, segundo os autores, funciona como referência populacional, não como regra obrigatória.
Em termos práticos, a decisão de virar passageiro pode ser gradual.
Começa ao reconhecer limitações, muda a rotina de deslocamentos e, quando a avaliação médica indicar, culmina na retirada voluntária da direção.
A família e os serviços de saúde têm papel importante nesse processo.
Conversas francas, monitoramento de episódios de desatenção e oferta de alternativas — transporte coletivo, aplicativos, caronas organizadas — reduzem o impacto da transição e preservam a autonomia do idoso.
Impacto do envelhecimento da população
Com o aumento da expectativa de vida, cresce também o número de motoristas em faixas etárias avançadas.
A discussão sobre limites etários e modelos de avaliação tende a ganhar relevância, sobretudo em grandes centros urbanos, onde o tráfego é mais complexo e exige respostas rápidas.
A literatura científica já mapeia correlações entre declínio cognitivo leve e maior risco de colisões, o que reforça a importância de uma abordagem preventiva.
Ao mesmo tempo, é preciso evitar estigmas.
Muitos idosos mantêm desempenho seguro por anos, especialmente quando controlam fatores de risco e reavaliam hábitos de condução.
A chave, como aponta o estudo, está em avaliações regulares e decisões personalizadas.
O que considerar antes de aposentar a CNH
Quando surgem sinais como confusão em cruzamentos, dificuldade para manter a faixa, frenagens tardias e sustos frequentes, é hora de procurar avaliação.
Outro alerta vem de mudanças de rotina para evitar trajetos complexos sem justificativa clínica, o que pode sinalizar percepção subjetiva de risco.
Se a recomendação médica indicar interrupção, o planejamento com antecedência ajuda a manter mobilidade e qualidade de vida.
Sistemas de transporte acessíveis e redes de apoio fazem diferença nessa adaptação.
Municípios que oferecem opções de deslocamento seguras e previsíveis tendem a facilitar a transição de quem deixa o volante, reduzindo resistência e ansiedade.
E o que diz a ciência sobre o futuro
Novas tecnologias de assistência ao motorista, como frenagem autônoma de emergência e alerta de ponto cego, podem mitigar parte das limitações descritas.
No entanto, elas não substituem a capacidade mínima exigida para conduzir com segurança.
Além disso, a adoção desigual desses recursos e a curva de aprendizado sugerem que a avaliação clínica continuará central para orientar a permanência ou a aposentadoria da CNH em idades avançadas.
Em última análise, o debate proposto pelos pesquisadores parte de um ponto comum: segurança viária e autonomia do idoso não são objetivos conflitantes.
Com avaliação técnica, acompanhamento periódico e alternativas de transporte, ambos podem coexistir.
Quando você considera que é hora de reavaliar a própria direção — e quais sinais deveriam pesar mais nessa decisão?