Espadas da Idade do Ferro com símbolos como lua crescente foram encontradas em antiga necrópole celta na França, revelando aspectos pouco conhecidos da cultura e arte dos povos celtas.
Duas espadas de mais de dois mil anos foram descobertas por arqueólogos na França. Uma delas surpreendeu por conter símbolos antigos em sua bainha, incluindo pequenas suásticas.
O achado foi feito em uma antiga necrópole celta e, segundo especialistas, tem poucos equivalentes na Europa.
Descoberta arqueológica rara
A descoberta aconteceu em Creuzier-le-Neuf, pequena cidade francesa com cerca de 1.500 habitantes.
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Durante a Segunda Idade do Ferro, entre 450 e 52 a.C., o local ficava entre os territórios de três poderosas tribos celtas: os Arverni, os Aedui e os Bituriges.
A equipe do Instituto Nacional Francês de Pesquisa Arqueológica Preventiva (INRAP) escavou uma área de sepultamento com mais de 100 túmulos. No total, a necrópole tinha cerca de 650 metros quadrados.
Por conta do solo ácido da região, nenhum esqueleto foi preservado.
Apenas um túmulo de cremação foi identificado, ao lado de um vaso decorado com desenhos perfurados e faixas pintadas.
No entanto, diversos objetos metálicos sobreviveram, revelando práticas funerárias e aspectos da cultura celta.
Joias e ornamentos metálicos
Quase metade das sepulturas analisadas continha ornamentos de metal. As pulseiras de liga de cobre foram os itens mais comuns.
Além disso, os arqueólogos encontraram 18 broches danificados.
Um deles chamou a atenção por conter uma gema polida, fixada em um disco adornado com prata dourada e desenhos feitos com a técnica de repuxo — ou seja, modelados a partir de golpes dados pelo verso da peça de metal.
Outro broche foi decorado com ocelos, ou marcas em forma de olhos. De acordo com Vincent Georges, arqueólogo responsável pela escavação, esse era um estilo comum entre os artesãos celtas dos séculos V e IV a.C.
Símbolos celestes e suásticas
Entre todos os objetos encontrados, os mais impressionantes foram duas espadas bem preservadas.
A mais curta possuía uma bainha decorada com pedras preciosas polidas e suásticas.
Georges explicou que, embora a suástica esteja hoje ligada ao regime nazista, o símbolo tinha outros significados há milhares de anos.
Segundo ele, a suástica era usada em diversas culturas do Mediterrâneo e foi incorporada pelos celtas no final do século V e parte do século IV a.C. Apesar disso, não se sabe exatamente o que a suástica representava para os celtas.
Uma análise de raio-X revelou ainda mais detalhes da espada curta. Na lâmina, havia símbolos de um círculo e uma lua crescente, separados por uma linha.
Esses elementos estariam ligados a conceitos sagrados, comuns em outras espadas celtas e até em espadas etruscas, da atual região da Itália.
Função simbólica e poder
A espada decorada com suásticas era mais curta e provavelmente não era feita para o combate. Georges acredita que sua função era simbólica.
Ela poderia representar poder e comando militar. Por outro lado, a segunda espada encontrada, mais longa, tinha características funcionais e poderia ser usada por um cavaleiro.
Essa espada maior também apresentava ocelos na bainha, como alguns dos broches.
Ainda conservava os anéis de suspensão que permitiam que fosse presa à cintura. Diferente da espada curta, ela não possuía decoração luxuosa.
Ligação com momentos históricos
Georges apontou que a espada curta pode ter sido fabricada na mesma época em que os celtas invadiram o norte da Itália e saquearam Roma, por volta de 387 a.C.
Naquele ano, os gauleses venceram o exército romano na Batalha de Alia. No entanto, o arqueólogo reforça que ainda não é possível estabelecer uma ligação direta entre a arma e esses eventos históricos.
A descoberta das espadas e dos objetos da necrópole ajuda a entender melhor a cultura e os rituais dos antigos povos celtas.
Mesmo com a ausência de restos humanos, os artefatos revelam detalhes sobre a vida, a arte e as crenças de uma civilização que ocupou grandes regiões da Europa antes da dominação romana.
O INRAP classificou as espadas como peças sem muitos equivalentes na Europa.
Segundo os pesquisadores, sua preservação e o nível de detalhe das decorações tornam o achado arqueológico excepcional para o estudo da Idade do Ferro no continente.