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‘Escravidão moderna’: modelo 996 com jornadas de 72 horas semanais, banido na China, ganha espaço em startups dos Estados Unidos e preocupa especialistas

Escrito por Felipe Alves da Silva
Publicado em 19/08/2025 às 12:50
Funcionários de startups em regime de 72 horas semanais no modelo 996.
Funcionários de startups nos Estados Unidos enfrentam jornadas de 72 horas semanais no modelo 996.
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Escala de trabalho conhecida como 996, que prevê expediente das 9h às 21h durante seis dias por semana, foi proibida na China após críticas e mortes, mas começa a ser adotada por empresas norte-americanas de tecnologia.

Startups dos Estados Unidos estão adotando o modelo de trabalho 996, que estabelece jornadas de 72 horas semanais, inspiradas em um sistema popularizado na China, mas posteriormente proibido pelo governo do país asiático devido a denúncias de exploração e casos de mortes de funcionários.

O termo 996 surgiu em empresas chinesas de tecnologia, principalmente no início da década de 2010. A escala determina que o empregado trabalhe das 9 horas da manhã até as 9 horas da noite, durante seis dias da semana, totalizando 72 horas de dedicação. O modelo foi defendido por alguns executivos como símbolo de produtividade e disciplina, mas logo passou a ser alvo de críticas por associações de trabalhadores e órgãos de saúde.

A pressão foi tão intensa que a Suprema Corte chinesa decidiu proibir formalmente a prática em 2021. O país definiu que os limites deveriam ser de 40 horas semanais, com até 36 horas extras mensais. A medida buscou reduzir a incidência de doenças e mortes relacionadas ao excesso de trabalho, além de atender a convenções internacionais sobre condições laborais.

Casos de colapso físico e mental de jovens funcionários marcaram o debate. Um dos mais conhecidos foi o de um programador de 25 anos que sofreu uma hemorragia cerebral fatal após meses de trabalho no regime 996. O episódio ganhou repercussão mundial e acelerou a regulamentação contra a prática.

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Expansão para os estados unidos

Apesar da proibição na China, startups norte-americanas vêm experimentando a adoção do mesmo modelo, segundo reportagem publicada pelo jornal britânico The Guardian. A justificativa apresentada por algumas empresas é que a rotina intensa garantiria maior competitividade no ambiente de inovação.

Contudo, especialistas alertam que a importação desse padrão de trabalho representa também a importação de riscos associados a ele. A própria imprensa internacional tem chamado a atenção para a contradição: enquanto a China endureceu leis trabalhistas, companhias nos Estados Unidos tentam reproduzir práticas já consideradas nocivas no país de origem.

Conforme divulgado pela publicação, críticos classificam o modelo como “escravidão moderna”, já que a exaustão extrema é reconhecida pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) como um dos elementos que podem caracterizar trabalho análogo à escravidão.

Riscos à saúde e repercussões globais

No Japão, a expressão karoshi (“morte por excesso de trabalho”) é usada há décadas para descrever óbitos ligados a jornadas prolongadas. A situação guarda paralelos com os riscos do 996, que podem resultar em ataques cardíacos, AVCs e altos índices de suicídio entre trabalhadores.

Especialistas apontam que, ao normalizar rotinas intensas, empresas colocam em risco não apenas a saúde física, mas também o bem-estar psicológico dos funcionários. O modelo tem sido alvo de debates internacionais, principalmente diante do avanço da economia digital e da busca por alta performance no setor tecnológico.

Segundo informações do The Guardian e de outras fontes de imprensa internacional, a discussão sobre limites de jornada poderá se expandir para diferentes países, inclusive no Brasil, onde sindicatos e categorias profissionais já defendem redução do regime 6×1 para jornadas mais curtas.

A adoção do 996 por startups nos Estados Unidos reforça uma tendência de flexibilização das regras trabalhistas em nome da competitividade, mas também reabre o debate global sobre direitos mínimos, saúde e segurança do trabalho. Ainda que defensores argumentem que a prática é voluntária, críticos lembram que a pressão do mercado e a falta de alternativas podem levar jovens profissionais a aceitar condições prejudiciais a longo prazo.

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Felipe Alves da Silva

Profissional com formação militar pelo Exército Brasileiro e experiência em gestão administrativa e logística no setor industrial. Escreve sobre defesa, segurança, geopolítica, indústria automotiva, ciência e tecnologia. Sugestões de pauta: fa06279@gmail.com

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