Crise no mercado de trabalho formal afeta diferentes setores no Ceará, com relatos de déficit de trabalhadores, aumento da informalidade e impacto direto na construção civil, logística e indústria; tema exige soluções e mobiliza governo e empresários.
A crise de escassez de mão de obra qualificada e não qualificada atingiu patamares inéditos na construção civil cearense, afetando o ritmo das obras e provocando apreensão entre empresários do setor.
O alerta foi originalmente detalhado pelo colunista Egídio Serpa, em reportagem publicada pelo Diário do Nordeste, que destacou a situação nas principais empresas do segmento, como a Construtora Colmeia, comandada por Otacílio Valente.
Segundo Valente, atualmente existe um déficit de mais de 100 operários nos canteiros de obras do Porto das Dunas, reflexo de uma realidade que preocupa toda a cadeia produtiva.
-
613 mil aposentados e pensionistas do INSS precisam fazer esse acordo para receber valores descontados
-
Brasil busca apoio de África do Sul, México, França, Alemanha, Reino Unido e União Europeia para discutir alternativas à tarifa de 50% imposta por Donald Trump aos produtos brasileiros
-
Trump diz que não vai penalizar China por comprar petróleo russo, adiando decisão que pode custar bilhões ao comércio mundial
-
Esse é o porto insano mais aguardado do Brasil: ponte de 3,5 km sobre o mar, quebra-mar de 1,5 km e ligação direta com ferrovia
Falta de trabalhadores atinge outros setores e amplia desafios regionais
O cenário, conforme apuração do Diário do Nordeste, não se limita apenas à construção civil.
Indústrias metalúrgicas, empresas de logística e operações portuárias também registram dificuldades crescentes para preencher vagas operacionais, mesmo quando oferecem remuneração acima da média regional.
Carlos Maia, sócio e diretor da Termaco e da Tecer, relatou que a escassez de trabalhadores é um desafio diário, com salários médios próximos de R$ 4 mil, além de todos os direitos previstos na legislação.
Benefícios sociais e impacto no mercado formal de trabalho
Empresários ouvidos pelo jornal apontam que a escassez de mão de obra está ligada, em parte, à concorrência estabelecida pelos benefícios sociais pagos pelo governo federal, com destaque para o Bolsa Família.
Muitos profissionais optam por atuar de maneira autônoma ou informal, a fim de não perder o acesso aos programas de transferência de renda.
Essa escolha dificulta o preenchimento de vagas formais, sobretudo em setores que exigem grande volume de trabalhadores em períodos específicos, como a construção e o agronegócio.
De acordo com o Diário do Nordeste, representantes do setor produtivo defendem mudanças nas regras dos programas sociais, sugerindo que o beneficiário possa aceitar empregos formais temporários sem abrir mão do auxílio.
Para eles, tal medida facilitaria a contratação de trabalhadores e traria maior equilíbrio ao mercado de trabalho, hoje marcado por um paradoxo: vagas abertas e pouca procura, especialmente para funções básicas.
Informalidade predomina e preocupa setor produtivo
O impacto da falta de trabalhadores também se reflete nos dados oficiais.
Segundo informações do Ministério do Trabalho e Emprego, divulgadas em maio de 2025, apenas 33,94% dos trabalhadores no Ceará possuem emprego com carteira assinada.
Na Paraíba, esse percentual é de 30,92%, enquanto no Piauí chega a 29,8%.
Em estados como São Paulo, a formalização alcança 54,46%, e em Minas Gerais, 43,56%, evidenciando as disparidades regionais e a predominância da informalidade no Nordeste.
A reportagem do Diário do Nordeste também ressaltou que a informalidade no mercado de trabalho compromete a sustentabilidade da Previdência Social.
O número de contribuintes ativos está em queda, enquanto a quantidade de aposentados e pensionistas segue em alta.
Esse desequilíbrio contribui para o agravamento do déficit nas contas públicas, num contexto em que a relação entre dívida e PIB já se aproxima de 80% no Brasil em 2025.
Propostas para reverter a escassez de mão de obra
Diante desse quadro, empresários têm proposto ao governo federal a criação de mecanismos que permitam a manutenção dos benefícios sociais mesmo para aqueles que aceitarem vagas formais durante períodos específicos, como o plantio e a colheita no campo ou grandes obras urbanas.
A proposta, frequentemente destacada nas apurações do jornal, busca flexibilizar as regras e garantir que o mercado consiga absorver a mão de obra disponível, sem que o trabalhador precise abrir mão da proteção social.
Envelhecimento da força de trabalho agrava o cenário
Ao mesmo tempo, outro desafio é o envelhecimento da população economicamente ativa.
O número de trabalhadores formais com idade entre 25 e 59 anos está em queda em todo o país, agravando o déficit de profissionais em setores estratégicos e dificultando a renovação do quadro de operários.
Esse fenômeno, conforme análise do Diário do Nordeste, tende a se intensificar nos próximos anos, sobretudo em regiões com baixa formalização.
Debate estrutural e urgência de soluções
O debate sobre soluções para a escassez de mão de obra, contudo, acaba sendo ofuscado por pautas conjunturais, como a recente taxação das exportações brasileiras pelos Estados Unidos.
Para especialistas ouvidos pelo Diário do Nordeste, a urgência em discutir reformas estruturais — como mudanças nos benefícios sociais e na Previdência — se torna cada vez mais evidente diante do impacto direto na economia e na sociedade.
A crise atual, detalhada pelo colunista Egídio Serpa, evidencia um dilema central para o desenvolvimento do Ceará e do Brasil: como garantir proteção social sem desestimular a formalização do emprego.
Na sua visão, leitor, quais ajustes podem ser feitos para equilibrar as demandas do setor produtivo e a necessidade de amparo aos mais vulneráveis?