Quem poderia imaginar que o Brasil, um país historicamente marcado por altas taxas de desemprego, enfrentaria uma realidade onde a falta de trabalhadores qualificados se tornaria um dos maiores desafios para o mercado?
O cenário que se desenhou no último Mutirão do Emprego, realizado no coração de São Paulo, surpreendeu até os mais experientes analistas do mercado. O que deveria ser um evento para ajudar a preencher milhares de vagas de trabalho, acabou por revelar um problema que, até pouco tempo, parecia inimaginável: o “mutirão do pleno emprego”, onde as vagas sobram, mas faltam candidatos.
Segundo a jornalista Márcia de Chiara, do Estadão, o Mutirão Nacional do Emprego, realizado no Vale do Anhangabaú na semana passada, foi uma clara demonstração de que o mercado de trabalho brasileiro passa por uma transformação significativa.
Tradicionalmente, o evento atraiu multidões de desempregados, mas este ano a realidade foi bem diferente. Os gradis, que antes organizavam filas quilométricas, ficaram abandonados, e as calçadas vazias ilustravam a mudança drástica no panorama do emprego no país.
- Noruega investe R$ 350 milhões em energia solar no norte de Minas Gerais
- Já pensou em trabalhar em casa? Trabalhe Home office e ganhe até R$2.500 + cursos para aprimoramento na área + auxílio home-office + comissão, vale alimentação e também oportunidade de crescimento! A Tupiniquim abre processo seletivo, veja como participar
- Com investimento superior a R$ 20 BILHÕES, nova fábrica de celulose no Brasil irá gerar 10 mil empregos durante obra e terá uma produção astronômica de 2,8 milhões de toneladas de celulose por ano!
- Está procurando vagas de estágio? O IF oferece bolsa de R$1.125,69 + auxílio-transporte para 30 horas semanais; Inscrições até 02 de dezembro
A principal evidência dessa mudança foi a quantidade de candidatos que compareceram ao evento. De acordo com os dados fornecidos pela União Geral dos Trabalhadores (UGT) e pelo Sindicato dos Comerciários de São Paulo, apenas 3,58 mil pessoas participaram do mutirão deste ano, menos da metade dos 7,4 mil registrados na primeira edição de 2018.
Em contrapartida, o número de vagas oferecidas bateu recorde, com 25.046 posições abertas, das quais apenas 200 foram preenchidas, representando menos de 1% do total.
O que está por trás dessa discrepância? A resposta parece residir na combinação de um desemprego historicamente baixo e a escassez de mão de obra qualificada, que já atinge quase metade das profissões que mais empregam no Brasil.
Conforme a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o desemprego caiu para 6,9% no trimestre encerrado em junho, o menor índice em dez anos.
Esse dado, que à primeira vista pode parecer positivo, esconde um problema estrutural: a dificuldade crescente das empresas em encontrar profissionais qualificados para preencher as vagas disponíveis.
Profissões mais afetadas pela falta de trabalhadores qualificados
A escassez de mão de obra qualificada já afeta 40% das profissões que mais empregam no Brasil, segundo um estudo realizado pela Confederação Nacional de Bens, Serviços e Turismo (CNC), a pedido do Estadão.
O levantamento, conduzido pelo economista Fabio Bentes, identificou que, em junho de 2024, 92 das 231 profissões analisadas apresentavam indícios claros de escassez. Esse grupo de profissões é responsável por 80% da ocupação formal no país, o que amplifica o impacto da falta de trabalhadores qualificados.
Os setores mais afetados incluem serviços e construção civil, onde o aumento dos salários acima da média nominal do mercado (5,8% entre junho de 2023 e junho de 2024) não foi suficiente para atrair candidatos em número suficiente.
Conforme Bentes, estamos no ponto mais alto de indício de escassez no mercado de trabalho, comparável apenas ao período pós-pandemia em 2021, quando a reposição de trabalhadores foi necessária para retomar a atividade econômica.
Setores em alerta: o impacto da escassez de mão de obra
Outros estudos corroboram esses achados. Segundo uma pesquisa do Departamento de Pesquisa Econômica do Banco Daycoval, até junho deste ano, seis dos dez setores da economia analisados enfrentavam alta demanda por trabalhadores há mais de seis meses.
Isso inclui indústrias, comércio, transporte, tecnologia, finanças e administração pública, setores onde tanto os salários quanto o número de ocupados têm crescido acima da média histórica. A situação é ainda mais crítica em segmentos como alimentação e alojamento, onde os salários aumentam, mas o número de contratações não acompanha essa tendência.
De acordo com Rafael Cardoso, economista-chefe do Daycoval, esse cenário revela uma escassez severa de trabalhadores, especialmente em setores que tiveram uma recuperação acelerada após a pandemia.
A sondagem realizada pelo Banco aponta que 36,6% das empresas de alojamento, restaurante e alimentação em julho de 2024 indicaram a falta de mão de obra qualificada como um obstáculo significativo ao crescimento das atividades.
Empresas em busca de trabalhadores: um mercado de trabalho desafiador
Essa realidade tem forçado as empresas a reavaliarem suas estratégias de contratação. Conforme apontado por Fabiana Amorim, analista de treinamento de uma grande rede varejista, a dificuldade de encontrar candidatos qualificados se tornou um desafio diário.
No último mutirão, a empresa ofereceu 300 vagas, mas conseguiu preencher apenas 15 até a quarta-feira do evento, após entrevistar 18 candidatos. “Esperava chegar na quarta-feira com 100 contratações”, disse Amorim ao jornal citado, destacando a frustração em encontrar profissionais adequados.
O cenário também trouxe mudanças no perfil dos candidatos que ainda buscam emprego. Durante o mutirão, a reportagem do Estadão afirma ter encontrado pessoas com perfis diversificados, como aposentados, jovens em busca de um segundo emprego e até aqueles que deixaram seus cargos recentemente, acreditando em melhores oportunidades.
Casos como o de Emily de Melo, de 20 anos, que deixou um emprego de operadora de marketing em home office devido ao horário desfavorável, ilustram essa mudança. “Pedi demissão para procurar uma vaga melhor, ajudar em casa, mas com horário mais flexível”, explicou Emily.
Por fim, assim como vem publicando o CPG, a escassez de mão de obra qualificada na construção civil se mostrou como o principal problema para as empresas desse setor. Segundo a sondagem da Fundação Getulio Vargas (FGV), mais de um quarto das empresas do setor (26,7%) identificaram a falta de trabalhadores como um obstáculo, o maior patamar registrado para os meses de julho desde 2014.
Na sua visão, quais os principais fatores para essa falta de mão de obra qualificada? Deixe a resposta nos comentários e participe da discussão.