A escassez de trabalhadores qualificados atinge o Rio Grande do Sul e desafia setores como indústria, construção civil e comércio, com aumento da rotatividade, custos salariais e dificuldades de retenção de profissionais experientes.
A falta de trabalhadores qualificados tem impactado a economia do Rio Grande do Sul, atingindo setores como indústria, construção civil e comércio.
Levantamento da Federação das Indústrias do Estado (Fiergs) mostra que 27% dos empresários industriais apontaram a escassez ou o alto custo de mão de obra qualificada como um dos principais entraves às operações, o maior índice desde 2014.
O cenário reflete a dificuldade de manter a produção e controlar custos diante da carência de profissionais preparados.
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Construção civil concentra principais gargalos
No setor da construção, a ausência de profissionais especializados em alvenaria, acabamento, elétrica, pintura e hidráulica tem gerado atrasos e aumento de despesas.
Representantes do setor afirmam que a alta rotatividade e a disputa por trabalhadores experientes resultam em reajustes salariais sucessivos.
Segundo executivos de construtoras, funções como pedreiro, carpinteiro e aplicador de revestimentos estão entre as mais afetadas.
Em empresas de grande porte, o salário médio de pedreiros subiu aproximadamente 30% em dois anos.
A Cyrela Goldsztein e a MRV, por exemplo, confirmam que a escassez de profissionais com experiência técnica interfere no ritmo de execução das obras.
De acordo com o Sindicato das Indústrias da Construção Civil do Rio Grande do Sul (Sinduscon-RS), muitos trabalhadores acabam sendo contratados por empresas concorrentes do mesmo setor, o que amplia a rotatividade e pressiona as margens de custo.
Comércio enfrenta falta de trabalhadores temporários
O comércio varejista também sente os efeitos da falta de mão de obra, especialmente em contratações temporárias.
Conforme a economista-chefe da Fecomércio-RS, Patrícia Palermo, há dificuldade em preencher vagas com horários flexíveis ou vínculos curtos.
Segundo ela, parte dos candidatos prefere posições fixas, o que limita as contratações em períodos de maior movimento, como datas comemorativas e campanhas sazonais.
Rotatividade e novas dinâmicas do mercado de trabalho
Especialistas apontam que o problema está relacionado ao aquecimento do mercado de trabalho e às mudanças no perfil dos profissionais.
Segundo a economista Maria Carolina Gullo, da Universidade de Caxias do Sul (UCS), o aumento da rotatividade ocorre porque “as novas gerações tendem a buscar remunerações mais competitivas ou satisfação pessoal”, o que torna a retenção de talentos mais difícil.
Empresas têm ampliado benefícios e criado planos de carreira para conter o movimento, mas o esforço nem sempre é suficiente para estabilizar equipes, de acordo com analistas do setor.
Pesquisadores destacam ainda que o interesse crescente por flexibilidade e por atividades ligadas a serviços e tecnologia também influencia a oferta de profissionais para a indústria e a construção.
Essa migração, segundo economistas, reflete transformações nas preferências e na estrutura do mercado de trabalho.
Envelhecimento da população reduz oferta de jovens
A mudança demográfica no estado é apontada por especialistas como outro fator que limita a disponibilidade de mão de obra.
O presidente da Fiergs, Claudio Bier, afirmou que o envelhecimento acelerado da população gaúcha tem reduzido o número de jovens ingressando em ocupações que exigem esforço físico e aprendizado técnico.
Ainda conforme Bier, a ausência de políticas amplas para atração de jovens trabalhadores e a dificuldade de alinhar programas sociais com incentivos à formalização contribuem para o cenário de escassez.
Pequenas empresas enfrentam mais dificuldades
Levantamento da Fiergs indica que 36,1% das pequenas empresas relatam problemas para contratar profissionais qualificados.
Segundo a entidade, negócios de menor porte têm menos condições de oferecer salários e benefícios competitivos, o que dificulta a disputa por mão de obra com médias e grandes companhias.
Consultores do setor observam que o impacto é mais severo nessas empresas porque o tempo de recrutamento e treinamento pesa diretamente na produtividade e nos custos operacionais.
Falta de profissionais também afeta o setor calçadista
A escassez também é sentida na indústria calçadista, segmento tradicional da economia gaúcha.
De acordo com o presidente-executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), Haroldo Ferreira, há dificuldade em preencher vagas de costuradores e técnicos especializados.
Segundo ele, a falta de profissionais pode comprometer cronogramas de produção e reduzir a capacidade de atender pedidos voltados para o próximo ciclo de lançamentos.
Qualificação e retenção são vistas como soluções
Para economistas e representantes do setor produtivo, investimentos em capacitação profissional são o principal caminho para atenuar o problema.
A recomendação é ampliar programas de formação técnica em áreas de alta demanda, como elétrica, hidráulica e operação de máquinas industriais.
De acordo com a Fiergs, também estão em estudo medidas para incentivar a parceria entre empresas e instituições de ensino, a fim de ajustar o conteúdo dos cursos às necessidades práticas das empresas.
Especialistas defendem que essa aproximação pode reduzir o tempo de adaptação dos trabalhadores e melhorar a produtividade.
Empresas têm apostado ainda em estratégias internas de retenção, com planos de carreira, capacitações contínuas e benefícios adicionais, segundo consultorias de recursos humanos.
Mesmo assim, a manutenção dos profissionais segue como um dos principais desafios, especialmente nas atividades de execução manual.
Estratégias em discussão no estado
O governo do Rio Grande do Sul, em conjunto com a Fiergs e outras entidades, estuda ações integradas para recompor a oferta de trabalhadores qualificados.
Entre as propostas discutidas estão turmas extras em cursos técnicos, programas de requalificação rápida e incentivos à contratação de jovens.
De acordo com as instituições envolvidas, a intenção é fortalecer o elo entre formação e empregabilidade e reduzir a dependência de contratações externas para funções básicas.
As medidas ainda estão em fase de análise e não há prazos definidos para implementação.
A questão que se impõe, segundo economistas e empresários, é se o estado conseguirá alinhar políticas de formação e incentivos de longo prazo para estabilizar o mercado de trabalho e garantir a competitividade dos setores estratégicos.

                        
                                                    
                        
                        
                        
                        

        
        
        
        
        
        
        
        
        
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