Setor de energia solar no Brasil enfrenta uma grave escassez de mão de obra qualificada, impactando o crescimento e a implementação de novos projetos.
A energia solar no Brasil, tão celebrada pelo seu crescimento nos últimos anos, agora enfrenta um obstáculo inusitado que pode impactar diretamente o futuro do setor.
A falta de mão de obra qualificada, mesmo em um mercado promissor, expõe desafios que podem ameaçar o avanço da energia renovável no país.
Conforme cresce a demanda por instalação de painéis solares, o setor enfrenta uma dificuldade que já vem sendo observada em outras partes do mundo, como nos Estados Unidos.
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A energia solar fotovoltaica se consolidou como uma das principais fontes de energia renovável no Brasil, ficando atrás apenas da hidrelétrica.
Em 2023, cerca de 16,5% da eletricidade gerada no país já vinha da energia solar, conforme dados da Absolar (Associação Brasileira de Energia Fotovoltaica).
No entanto, mesmo com esse cenário promissor, a falta de trabalhadores qualificados pode se tornar um gargalo no desenvolvimento do setor.
Impacto da falta de qualificação no setor solar
Segundo Bruno Chavarry, diretor da empresa Sunfor, especializada em instalações solares, a escassez de mão de obra vem sendo um desafio constante.
Ele explica que muitas empresas estão recorrendo a trabalhadores de outras áreas, o que obriga a realizar adaptações na forma de trabalhar para atender às exigências do setor de energia solar.
“O mercado está crescendo rápido, mas falta gente qualificada”, afirma. Isso afeta diretamente a qualidade e a agilidade das instalações, especialmente em um cenário onde a demanda só aumenta.
As empresas têm buscado alternativas para recrutar trabalhadores.
O departamento de recursos humanos da Sunfor, por exemplo, precisa recorrer a estratégias como parcerias com prefeituras e até o uso de carros de som para divulgar as vagas.
O principal critério para contratação tem sido a disposição dos candidatos em aprender e se adaptar às necessidades do setor.
Diferentes modelos de geração solar
No Brasil, a energia solar é gerada de duas formas principais: grandes usinas e pequenos sistemas instalados em telhados de residências e comércios.
De acordo com Ronaldo Koloszuk, presidente do Conselho de Administração da Absolar, cerca de dois terços da energia solar no país provêm dessas pequenas instalações.
Ele ressalta que, embora não seja uma tarefa extremamente complexa, é necessário contratar profissionais capacitados para garantir a eficiência e segurança dos projetos.
O maior desafio, no entanto, surge nas chamadas “fazendas solares”, grandes terrenos cobertos por milhares de painéis.
Nesses casos, a construção fica sob responsabilidade de empresas chamadas EPCs (Engenharia, Compras e Construção), que assumem toda a estruturação do projeto.
A rotatividade de trabalhadores é outro fator que agrava o problema.
De acordo com Elvis Albarello, diretor-executivo da unidade EPC da empresa A. Dias, as obras podem ter uma rotatividade de 100% da equipe ao longo de seu período de execução, com a necessidade de trocar praticamente toda a equipe durante a construção.
Soluções automáticas e o futuro do setor
Nos Estados Unidos, o avanço da automação na instalação de painéis solares já é uma realidade.
A AES, uma empresa de energia renovável, está testando robôs para realizar a montagem dos painéis em grandes fazendas solares, uma estratégia que busca mitigar a escassez de mão de obra.
Embora essa realidade ainda pareça distante para o Brasil, a robotização do setor já é vista como uma possível solução no longo prazo.
Chavarry e Albarello comentam que, embora já exista alguma automação no setor, como o uso de drones para monitorar as placas instaladas, o avanço tecnológico nesse sentido ainda está longe de se comparar a outros setores, como o automotivo.
A expectativa é de que essa automação só ganhe força quando representar uma redução significativa de custos.
No momento, a principal fonte de economia vem da queda nos preços dos equipamentos, graças à evolução tecnológica e à capacidade de produção em massa da China.
A A. Dias, por exemplo, utiliza drones para identificar placas defeituosas através de câmeras térmicas, facilitando a manutenção. No entanto, a substituição de peças ainda é feita manualmente.
Futuro da energia solar e a corrida pela mão de obra
Apesar das dificuldades, o Brasil ainda se encontra em uma posição mais favorável do que outros países, especialmente na Europa, que precisam acelerar o processo de descarbonização para cumprir as metas do Acordo de Paris.
Segundo Jovanio Santos, diretor de Novos Negócios da Thymos Energia, enquanto no Brasil o problema da falta de mão de obra é preocupante, em outros países a situação é muito mais grave, devido à urgência na expansão das fontes renováveis.
A energia solar, junto com outras fontes de energia renovável, continua sendo uma das principais apostas para o futuro da matriz energética brasileira.
No entanto, se o país não conseguir resolver a questão da mão de obra qualificada, o crescimento do setor pode ser seriamente comprometido.
A expansão da energia solar no Brasil tem mostrado grande potencial, mas a falta de mão de obra qualificada está se tornando um problema central que pode frear esse crescimento.
As empresas do setor buscam soluções criativas para recrutar trabalhadores, mas a dependência de profissionais de outras áreas e a alta rotatividade agravam a situação.
Enquanto a automação pode representar uma saída no longo prazo, o setor precisará enfrentar os desafios atuais para continuar crescendo.
Diante desse cenário, surge a pergunta: será que o Brasil conseguirá se tornar uma potência em energia solar superando o déficit de mão de obra qualificada?