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Escassez de mão de obra chega a diferentes setores no Brasil e empresas fazem até rodízio de equipes por falta de pessoas capacitadas

Escrito por Alisson Ficher
Publicado em 04/11/2024 às 03:00
Setores no Brasil enfrentam escassez de mão de obra qualificada, adotando rodízios e aumento salarial para manter a produtividade.
Setores no Brasil enfrentam escassez de mão de obra qualificada, adotando rodízios e aumento salarial para manter a produtividade.

Com o mercado de trabalho aquecido, setores no Brasil como a construção civil e a indústria enfrentam escassez de mão de obra qualificada.

O mercado de trabalho brasileiro vive um fenômeno curioso: em meio à criação de milhares de vagas formais, setores como construção civil, indústria e serviços têm dificuldade em encontrar profissionais qualificados.

A escassez é tamanha que algumas empresas adotam rodízios de equipes e elevam salários para reter e atrair trabalhadores capacitados.

O problema, embora comum em economias aquecidas, ressurgiu com força no Brasil, trazendo desafios para manter a produtividade e competitividade.

Crescimento do mercado formal e setores em destaque

Segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho e Emprego, o Brasil registrou a criação de 247.818 novas vagas formais em setembro.

O setor de serviços liderou com 128,4 mil novos postos, seguido pela indústria com 59,8 mil, o comércio com 44,6 mil e a construção civil com 17 mil.

No entanto, a agropecuária apresentou queda de 2 mil postos, refletindo as dificuldades do setor.

Apesar da expansão, empresas relatam que a falta de profissionais qualificados prejudica o desenvolvimento de projetos e, por vezes, limita o crescimento de negócios.

Construção civil: um setor com histórico de dificuldades

A construção civil, em particular, assim como já publicou o CPG, enfrenta uma escassez que remonta aos anos de aquecimento econômico antes da crise de 2014.

De acordo com uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), em setembro deste ano, 29,4% dos empresários do setor apontaram a falta de mão de obra qualificada como um entrave.

Este é o maior índice desde o final de 2014, sinalizando uma demanda crescente por profissionais em uma economia que, embora com um ritmo de crescimento moderado, ainda encontra dificuldades em áreas essenciais.

Estratégias para contornar a escassez de profissionais

De acordo com uma matéria publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, para lidar com o problema, empresas de diversos setores adotaram medidas variadas.

Na construção civil, por exemplo, 33,1% dos empresários aumentaram a remuneração, enquanto 51,5% investiram em treinamento para formar novos profissionais.

Além disso, 46% das empresas implementaram rodízios de equipe, deslocando funcionários entre projetos para cobrir a falta de profissionais qualificados.

Essas medidas visam não só suprir a demanda, mas também manter os trabalhadores motivados e retidos no setor.

Ana Maria Castelo, coordenadora de Projetos de Construção do FGV Ibre, observa que o setor já enfrentou uma situação parecida no início da década passada, quando programas como o Minha Casa, Minha Vida e grandes eventos como a Copa do Mundo e as Olimpíadas impulsionaram a demanda por mão de obra.

“O crescimento hoje é mais modesto, mas a preocupação com a falta de profissionais capacitados persiste”, afirma Castelo.

Indústria investe em retenção e capacitação

Na indústria, empresas como a Saint-Gobain têm investido em estratégias para contornar o problema.

De acordo com Gustavo Siqueira, vice-presidente de recursos humanos para América Latina da Saint-Gobain, a companhia busca criar um ambiente de trabalho atrativo, com foco no desenvolvimento e retenção de talentos.

“Nossas estratégias de desenvolvimento de pessoas não só preenchem as lacunas de habilidades, mas também contribuem para a retenção e motivação da nossa equipe”, destaca Siqueira.

A Saint-Gobain oferece trilhas de desenvolvimento técnico contínuo e programas de mentoria para jovens talentos, criando um ambiente de crescimento profissional.

Tatiane Cardoso de Paula, diretora de RH da Saint-Gobain Canalização, reforça a importância de iniciativas de formação: “Contamos com programas de mentoria e de desenvolvimento técnico que visam capacitar os colaboradores, preparando-os para assumir novos desafios”.

Essas medidas são fundamentais para manter a competitividade da indústria frente à escassez de mão de obra.

Calçadistas enfrentam dilemas semelhantes

A falta de mão de obra qualificada também desafia setores voltados para o consumo, como o de calçados.

João Marcelo Fernandes, gerente de Recursos Humanos da Kidy, explica que a empresa precisou renovar cargos e tornar as posições mais atrativas para reter funcionários mais jovens.

Além disso, a Kidy oferece um programa de capacitação em parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), com a intenção de formar novos aprendizes e incentivar a qualificação dos atuais colaboradores.

“O programa de apadrinhamento, com 40 novas vagas para aprendizes, busca garantir que os colaboradores estejam preparados para múltiplas funções, contribuindo para a estabilidade da produção”, relata Fernandes.

Dados da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) indicam que o setor encerrou agosto com saldo positivo de 12,4 mil postos de trabalho, segundo o Caged.

Haroldo Ferreira, presidente-executivo da Abicalçados, pontua que o setor enfrenta dificuldades parecidas com as observadas na construção civil.

“Hoje, competimos não só com outros setores, mas também com plataformas digitais, o que aumenta a dificuldade de retenção”, explica Ferreira.

Perspectivas e desafios futuros para o mercado de trabalho

Apesar dos esforços das empresas, analistas apontam que a situação pode se agravar.

O aperto nas regras de crédito imobiliário e o aumento dos juros devem afetar o mercado da construção civil no longo prazo, reduzindo investimentos e, possivelmente, a criação de novas vagas.

Ainda assim, a projeção é de que o mercado permaneça aquecido nos próximos meses, especialmente em setores que dependem de consumo interno, como o comércio e a indústria de bens de consumo.

A escassez de mão de obra qualificada representa um reflexo de uma economia em crescimento, mas impõe obstáculos para setores que precisam se adaptar constantemente para manter a produtividade.

A busca por profissionais capacitados ainda é um desafio, e soluções como treinamento e valorização dos colaboradores devem se manter em evidência para evitar um gargalo ainda maior no futuro.

Será que o Brasil conseguirá formar profissionais qualificados em tempo suficiente para manter o ritmo de crescimento econômico?

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Alisson Ficher

Jornalista formado desde 2017 e atuante na área desde 2015, com seis anos de experiência em revista impressa e mais de 12 mil publicações online. Especialista em política, empregos, economia, cursos, entre outros temas. Se você tiver alguma dúvida, quiser reportar um erro ou sugerir uma pauta sobre os temas tratados no site, entre em contato pelo e-mail: alisson.hficher@outlook.com. Não aceitamos currículos!

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