Na madrugada de sexta-feira, 13 de junho de 2025, a longa e turbulenta relação entre Irã e Israel atingiu seu ponto mais crítico em décadas. Em uma operação militar sem precedentes, chamada de “Leão em Ascensão”, Israel mobilizou cerca de 200 caças para atacar instalações nucleares e centros militares estratégicos dentro do território iraniano, incluindo a capital Teerã e a usina de Natanz.
O ataque resultou na morte de altos comandantes da Guarda Revolucionária e cientistas do programa atômico iraniano, além de provocar uma retaliação imediata com mais de 100 drones lançados contra Israel, elevando o risco de uma guerra regional de grandes proporções.
O impacto geopolítico e econômico foi imediato. A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) confirmou danos à infraestrutura nuclear iraniana, enquanto bolsas de valores em todo o mundo reagiram em queda e o preço do petróleo disparou até 13%.
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Este episódio, que marca uma nova fase da hostilidade entre os dois países, se insere em um conflito histórico que se arrasta desde 1979 e que envolve muito mais do que apenas questões religiosas ou políticas: trata-se de uma disputa por influência, sobrevivência e poder no coração do Oriente Médio.
Da aliança estratégica à ruptura total: o ponto de virada de 1979
Durante as décadas de 1950 a 1970, Irã e Israel mantiveram relações diplomáticas e comerciais. O Irã foi o segundo país muçulmano a reconhecer Israel após sua fundação em 1948. Ambos os países cooperavam em projetos militares, como o Projeto Flower, que visava desenvolver mísseis avançados. No entanto, essa aproximação ruiu com a Revolução Islâmica de 1979, que derrubou o xá Mohammad Reza Pahlavi e instaurou a República Islâmica comandada por Ayatollah Khomeini.
A nova liderança iraniana passou a considerar Israel como um “inimigo do Islã”, rompendo as relações diplomáticas, fechando a embaixada israelense em Teerã e entregando-a à OLP. Em troca, Israel classificou o Irã como uma ameaça existencial à estabilidade regional, ainda mais com o avanço do programa nuclear iraniano nas décadas seguintes.
Além do discurso ideológico, havia interesses estratégicos. O Irã passou a apoiar grupos como Hezbollah, Hamas e a Jihad Islâmica, considerados terroristas por Israel, que respondeu com operações de assassinato de cientistas nucleares e ataques a comboios de armas iranianas.
Anos 1980: colaboração oculta durante a guerra Irã-Iraque
Mesmo após o rompimento oficial, Israel forneceu armamentos ao Irã durante a guerra contra o Iraque (1980–1988), por meio da chamada Operação Seashell. Estima-se que cerca de 80% das armas adquiridas pelo Irã no início da guerra vieram de Israel, incluindo mísseis, peças de aviões e munições. A justificativa israelense era impedir a vitória do regime iraquiano de Saddam Hussein, considerado mais perigoso na época.
Paradoxalmente, essa colaboração clandestina aconteceu ao mesmo tempo em que o Irã intensificava sua retórica anti-israelense. As armas eram pagas com petróleo iraniano e os negócios eram conduzidos por intermediários suíços e argentinos.
O episódio mais emblemático foi o escândalo Irã-Contras, que revelou o envolvimento dos Estados Unidos e de Israel em vendas secretas de armas ao Irã em troca de apoio a rebeldes nicaraguenses.
De guerras indiretas à sabotagem nuclear: a escalada nos anos 2000
A partir dos anos 2000, o foco do confronto passou a ser o programa nuclear iraniano. Israel considerava inaceitável a possibilidade de o Irã obter uma arma atômica e passou a executar ações preventivas para atrasar o desenvolvimento nuclear.
Entre 2010 e 2012, vários cientistas iranianos foram assassinados, em ataques atribuídos ao serviço secreto israelense Mossad. Também foi identificado o vírus Stuxnet, um malware sofisticado que sabotou centrifugas na instalação nuclear de Natanz. Estima-se que mil centrífugas tenham sido danificadas com o ataque cibernético.
Ao mesmo tempo, o Irã foi acusado de planejar atentados contra alvos israelenses em países como Tailândia, Geórgia e Índia. Em 2012, um ataque a bomba em um ônibus turístico matou cinco israelenses na Bulgária, episódio atribuído ao Hezbollah com apoio iraniano.
Ataques diretos e retaliações: de 2024 a 2025, o conflito atinge novo patamar
A partir de 2024, o conflito entre Irã e Israel deixou de ser apenas indireto. Em abril de 2024, Israel bombardeou o consulado iraniano em Damasco, matando oficiais da Guarda Revolucionária. O Irã retaliou em junho de 2025 com o lançamento de mais de 180 mísseis balísticos contra Israel, segundo a Reuters.
No dia seguinte, Israel respondeu com ataques a instalações nucleares iranianas em Isfahan, após a IAEA declarar que o Irã havia violado suas obrigações de não proliferação nuclear. Fontes diplomáticas confirmaram que o ataque atingiu centros de pesquisa e fábricas de mísseis.
Esses eventos marcaram um perigoso avanço na hostilidade, com potencial de desestabilizar toda a região. Especialistas alertam para o risco de um conflito total, especialmente com o envolvimento de aliados de ambos os lados como Estados Unidos, Rússia e países do Golfo.
Ciberataques, espiões e diplomacia de bastidores
Ao longo das décadas, ações de espionagem e sabotagem foram parte central do embate entre as duas nações. Israel desenvolveu uma das redes de inteligência mais eficazes da região, infiltrando-se em estruturas civis e militares do Irã. Em contrapartida, o Irã utilizou grupos como Hezbollah e redes de hackers para atacar infraestruturas israelenses.
Foram registrados ataques cibernéticos contra redes elétricas, sistemas bancários e empresas de tecnologia. Um dos casos mais famosos foi a tentativa de explodir reservatórios de água em Israel por meio de controle remoto — ação atribuída a hackers iranianos.
Apesar das sanções, há evidências de comércio clandestino entre empresas israelenses e iranianas, com intermediação de países terceiros. Produtos como pistache, fertilizantes e tecnologia de rede já foram rastreados entre os dois países, mesmo com proibição oficial.
O futuro da tensão Irã-Israel: diálogo impossível ou guerra inevitável?
Apesar de algumas tentativas de aproximação ao longo dos anos, como durante o governo do iraniano Khatami nos anos 1990, a normalização das relações entre Irã e Israel parece cada vez mais improvável. Pesquisas de 2024 revelaram que 64% dos iranianos rejeitam completamente essa ideia, segundo o instituto Stasis.
Ambos os países continuam investindo em suas capacidades militares. Em 2023, o Irã apresentou o míssil hipersônico Fattah, com alcance de 1.400 km e velocidade de Mach 15. Israel, por sua vez, mantém o apoio dos EUA e fortalece sua defesa antimísseis com o sistema Domo de Ferro.
Diante de tantas décadas de retaliações, ataques preventivos, ameaças públicas e conflitos por procuração, a paz entre Irã e Israel permanece uma possibilidade remota. O mundo acompanha, com receio, se o próximo ataque será o que finalmente quebrará o equilíbrio de dissuasão e arrastará a região para uma guerra total.