Ford adota nova política global para o trabalho administrativo presencial e muda rotina dos funcionários, reacendendo discussões sobre flexibilidade e produtividade nas grandes empresas do setor automotivo.
A Ford decidiu colocar fim ao modelo de home office predominante em seus escritórios administrativos.
A partir de 1º de setembro, a multinacional norte-americana determinou que a maior parte dos funcionários administrativos deve retornar ao trabalho presencial ao menos quatro vezes por semana.
O anúncio, feito internamente nesta quarta-feira, representa uma mudança relevante em relação ao sistema híbrido, vigente desde 2022, e acompanha um movimento de ajuste das políticas corporativas de grandes empresas globais no pós-pandemia.
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Mudança nas regras do home office na Ford
A política anterior, implementada pela Ford em abril de 2022, permitia o comparecimento presencial em três dias da semana.
Agora, a nova orientação reduz o período de trabalho remoto para apenas um dia, reforçando a presença física dos profissionais nas dependências da companhia.
Segundo a direção da Ford, a meta é aumentar a colaboração, fortalecer os times e acelerar a transformação interna para que a empresa se torne mais rentável e resiliente frente às oscilações do mercado automotivo global.
Em comunicado oficial, representantes da montadora afirmaram que a convivência presencial é considerada estratégica para acelerar a mudança cultural e impulsionar o desempenho dos times administrativos.
“Acreditamos que trabalhar juntos, presencialmente, diariamente, vai ajudar a acelerar a transformação da Ford”, declarou o porta-voz Ian Thibodeau.
A empresa, no entanto, não divulgou o número exato de empregados impactados pela medida, mas fontes internas indicam que a decisão alcança milhares de funcionários em diversos países.
Cenário financeiro da Ford e motivação para mudanças
O contexto que embasa a decisão envolve o desempenho financeiro da empresa.
No primeiro trimestre de 2025, a Ford registrou um lucro líquido de 471 milhões de dólares, representando uma queda de 64% em relação ao mesmo período do ano anterior.
O resultado inferior levou a montadora a suspender as previsões para o ano fiscal de 2025, justificando a cautela pela instabilidade nas políticas tarifárias dos Estados Unidos, além da volatilidade do mercado internacional de veículos.
Além das mudanças na rotina de trabalho, a Ford também adotou medidas de contenção de custos e de valorização da performance interna.
Entre elas, destaca-se o anúncio de que os bônus pagos a gerentes poderão ser reduzidos em até 65%, tornando-se totalmente atrelados ao desempenho individual e coletivo.
A iniciativa reforça o foco da companhia em resultados e no aprimoramento de processos internos.
Outras montadoras e o fim do home office flexível
O cenário de transformação não é exclusivo da Ford.
Outras montadoras, como a Stellantis, também vêm adotando políticas semelhantes.
Em março deste ano, a Stellantis comunicou aos funcionários que o comparecimento ao escritório passaria a ser exigido entre três e cinco dias por semana, dependendo da área e das atribuições.
A orientação, assinada pelo CEO Antonio Filosa, defende que o ambiente presencial é determinante para a competitividade da empresa no mercado global.
A postura mais rígida em relação ao home office tem se tornado tendência entre fabricantes de veículos com atuação em diferentes continentes.
Pressões do setor automotivo e desafios para grandes empresas
A mudança ocorre em um contexto no qual a indústria automotiva mundial enfrenta desafios importantes, incluindo pressões por inovação, avanços tecnológicos, adaptação à eletrificação e flutuações na demanda de mercados tradicionais e emergentes.
Montadoras têm buscado estratégias para manter a produtividade e a colaboração, mesmo após os anos de experiência com modelos flexíveis e digitais durante a pandemia de Covid-19.
O retorno ao trabalho presencial é visto por parte dos executivos do setor como um mecanismo para fortalecer a cultura organizacional e garantir agilidade em tomadas de decisão.
Reação dos funcionários e impactos no ambiente de trabalho
No entanto, a reação entre funcionários de grandes corporações não é homogênea.
Enquanto algumas áreas reconhecem os benefícios da interação presencial, outros setores ainda preferem a flexibilidade proporcionada pelo home office, argumentando ganhos em qualidade de vida, economia de tempo e custos, além de maior concentração para tarefas complexas.
O tema se tornou recorrente em debates sobre relações de trabalho, inclusive entre sindicatos e representantes dos empregados.
A própria Ford já havia flexibilizado o modelo de trabalho em resposta à pandemia, quando medidas sanitárias exigiram distanciamento social e restrição de circulação.
Com a volta gradativa ao presencial em 2022, a companhia chegou a adotar o sistema híbrido como padrão, ajustando gradualmente as regras conforme o avanço da vacinação e a normalização das operações.
Agora, com a decisão mais restritiva, apenas um dia de trabalho remoto será autorizado, restando aos funcionários se adequarem à nova rotina.
Tendências globais para modelos de trabalho em 2025
O anúncio da Ford insere-se em um movimento mais amplo, observado em multinacionais dos Estados Unidos, Europa e Ásia, que passaram a rever as políticas de flexibilidade adotadas nos últimos anos.
O argumento mais comum para o retorno é a necessidade de fortalecer equipes, melhorar resultados financeiros e acompanhar o ritmo acelerado de mudanças exigido pelo mercado automotivo global.
A indústria automobilística vive um período de intensas transformações, com desafios ligados à sustentabilidade, à digitalização de processos, à produção de veículos elétricos e autônomos, além da disputa crescente por talentos em áreas de tecnologia.
Nesse cenário, o formato de trabalho adotado pode impactar diretamente a capacidade de inovação e adaptação das empresas.
O futuro do trabalho presencial nas montadoras
Além da Ford e da Stellantis, outras fabricantes e grandes empresas de tecnologia também têm ajustado suas políticas, seja exigindo o retorno ao presencial ou optando por modelos híbridos mais restritivos.
O debate sobre produtividade, engajamento e bem-estar dos funcionários segue aberto e promete novos desdobramentos no setor corporativo.
Resta saber se a volta em massa aos escritórios será capaz de atender às expectativas das empresas e dos trabalhadores, ou se novas mudanças nas relações de trabalho ainda estão por vir no ambiente corporativo mundial.
Qual será o futuro do home office nas grandes indústrias em um contexto de transformação global?