Protesto de entregadores expõe críticas ao modelo de remuneração do iFood durante evento milionário em São Paulo, enquanto trabalhadores cobram melhores condições e valorização.
Entregadores de aplicativos organizaram um protesto nesta terça-feira (5), em São Paulo, para denunciar as condições de trabalho e os baixos valores pagos por entrega, principalmente após o surgimento de um novo modelo que oferece remuneração de R$ 3,50 por pedido.
O ato ocorreu em frente ao São Paulo Expo, onde acontecia o iFood Move, evento promovido pela própria plataforma e voltado para o setor de delivery.
Condições de trabalho dos entregadores do iFood
Os trabalhadores reivindicam a fixação de um valor mínimo de R$ 10 por entrega para distâncias de até 3 km no caso de bicicleta e 4 km para moto.
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Atualmente, de acordo com informações dos próprios entregadores, os valores pagos por corrida estão muito abaixo do reivindicado, o que motivou mobilizações não só na capital paulista, mas também em cidades como Campinas, Mogi Guaçu, Sorocaba, Rio de Janeiro, além de regiões de Minas Gerais e Santa Catarina.
O protesto foi marcado pela presença de faixas e cartazes com frases como “iFood Move escravidão” e “Conexão Motoboy todas as quebradas”, simbolizando a insatisfação com as atuais condições de trabalho.
Segundo os manifestantes, a participação no evento do iFood não foi aberta aos entregadores, enquanto o megaevento reuniu cerca de 12 mil pessoas, com ingressos chegando a custar R$ 1,3 mil por dia.
Entre os palestrantes estavam nomes de destaque, como o ex-atleta Usain Bolt.
Durante a concentração no estacionamento do Plaza Sul Shopping, a poucos quilômetros do local do evento, seguranças privados, identificados como funcionários do iFood, questionaram os organizadores da manifestação sobre suas intenções.
Enquanto isso, o aplicativo disparou promoções oferecendo bônus de R$ 5 para quem aceitasse novos pedidos.
Mesmo assim, os entregadores seguiram em motociata até o local do evento, organizando inclusive um churrasco coletivo próximo à entrada.
Reivindicações dos trabalhadores de aplicativo
A categoria alega que, apesar do crescimento do setor de delivery e do lucro bilionário da empresa, as condições de trabalho continuam precárias.
O entregador João Viktor destacou:
“O que realmente estão comemorando nesse evento é a escravidão moderna daquilo que eles chamam de ’empreendedorismo’. Enquanto eles brindam com ministro do STF, tomam champanhe e o caramba a quatro, a gente, entregador, está aqui na rua tomando sol na cara, tomando chuva, sem ter onde usar o banheiro e às vezes até correndo risco de vida”.
Outro ponto central do protesto foi a cobrança pela aprovação do Projeto de Lei 2479/2025, apresentado pelo deputado federal Guilherme Boulos (Psol), com participação direta dos entregadores na redação do texto.
Entre as principais propostas do PL estão:
- Criação de uma taxa mínima de R$ 10 por entrega;
- Proibição do agrupamento de pedidos para o mesmo entregador sem acréscimo proporcional de remuneração;
- Obrigatoriedade de pontos de apoio com acesso a água potável, banheiros e tomadas em regiões de alta demanda.
Os trabalhadores criticam ainda o modelo chamado de “subpraças”, já implementado em cidades como Curitiba (PR), Recife (PE) e Campinas (SP).
Nesse sistema, o entregador precisa agendar o horário de trabalho, recebendo um valor fixo por hora, além de um adicional variável por entrega.
No entanto, muitos alegam que o valor pago por corrida pode chegar a R$ 3,50, valor considerado insuficiente para cobrir despesas básicas como combustível e manutenção do veículo.
Cartazes e adesivos pedindo o fim do modelo de subpraças marcaram presença no protesto.
Lucro do iFood e discurso empresarial
Segundo informações do próprio iFood, a empresa movimentou R$ 140 bilhões na economia brasileira em 2024, representando cerca de 0,64% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional.
Durante o evento iFood Move, painéis abordaram temas como “acelerar performance”, “tendências do food service” e “transformação de promoções em lucro”.
O CEO do iFood, Diego Barreto, aproveitou para anunciar o lançamento de uma inteligência artificial chamada “Cris”, voltada ao suporte a restaurantes, e revelou um investimento de R$ 17 bilhões até março de 2026 para ampliar o ecossistema da empresa, com foco em tecnologia e inovação.
Apesar das críticas, Barreto classificou a manifestação dos entregadores como “natural”.
“Estão no direito deles de questionar”, afirmou o executivo, acrescentando que “tem vários entregadores presentes no evento”.
Ele também declarou que parte dos investimentos anunciados será destinada à expansão dos pontos de apoio para trabalhadores – hoje, são cerca de 400 em todo o país.
Quanto ao Projeto de Lei 2479/2025, o CEO do iFood afirmou que o texto ainda precisa ser amplamente discutido entre todas as partes envolvidas.
Polêmica sobre remuneração e futuro dos entregadores do iFood
No entanto, entregadores como Renato Assad defendem que o discurso da empresa sobre modernização e empreendedorismo não condiz com a realidade enfrentada nas ruas.
“Por trás dessa estética publicitária com verniz de modernização, o que eles escondem, de fato, é a expressão mais acabada do capital. O que acontece aqui é um espetáculo de autopromoção que é financiado pela brutal exploração cotidiana da força de trabalho da nossa categoria”, declarou.
A discussão sobre a remuneração mínima para entregadores de aplicativos tem mobilizado diferentes setores da sociedade, além de pressionar o Congresso Nacional por avanços legislativos.
Após protestos recentes realizados em mais de 70 cidades, o iFood elevou a taxa mínima de R$ 6,50 para R$ 7 no caso de entregas feitas por bicicleta, e de R$ 7,50 para motos, valores ainda considerados insuficientes pelos trabalhadores.
A demanda por R$ 10 por entrega permanece como a principal reivindicação e pauta central dos protestos.
A polêmica em torno do modelo de trabalho dos aplicativos levanta uma questão fundamental: qual deve ser o limite entre inovação, lucro e condições dignas de trabalho para quem movimenta a economia digital?
Você acredita que as mudanças propostas são suficientes para garantir direitos e remuneração justa aos entregadores?