A licença concedida pelo Ibama para o poço FZA-M-59 reacende o debate sobre desenvolvimento, transição energética e preservação ambiental em plena Margem Equatorial
A polêmica em torno da exploração de petróleo na Foz do Amazonas voltou ao centro do debate nacional. O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) autorizou a Petrobras a iniciar a perfuração de um poço exploratório no bloco FZA-M-59, localizado a 500 quilômetros da foz do Rio Amazonas e a 175 quilômetros da costa do Amapá. A decisão, anunciada na última segunda-feira (20), ocorre a menos de um mês do início da COP30, a conferência mundial do clima que será sediada em Belém (PA).
A autorização encerra quase cinco anos de análises e disputas técnicas, marcando um dos momentos mais simbólicos do setor energético brasileiro. A área é considerada uma das mais promissoras do país e já apelidada por especialistas como o “novo pré-sal da Margem Equatorial”.
Risco alto e esperança de descoberta
A presidente da Petrobras, Magda Chambriard, reconheceu que o projeto envolve alto risco exploratório, já que não há garantias de que o poço contenha petróleo em volumes comerciais. “O risco de não encontrar nada é grande, mas é preciso perfurar. Quem encontra petróleo é broca”, afirmou, em entrevista concedida à jornalista Míriam Leitão, da GloboNews.
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Segundo Chambriard, a companhia iniciou a perfuração apenas com uma licença para o poço principal, mas já solicitou outras seis autorizações para áreas próximas, todas situadas na costa do Amapá. A estratégia da Petrobras é mapear a região e avaliar seu potencial energético, mesmo diante das incertezas geológicas.
A informação foi divulgada pela GloboNews, que destacou o valor bilionário envolvido na operação. Cada dia de perfuração custa cerca de US$ 4 milhões, segundo dados apresentados durante a transmissão, reforçando o peso econômico da decisão.
Avanços em segurança ambiental após exigências do Ibama
O Ibama também defende que o processo foi rigoroso e que a Petrobras precisou atender a novas exigências de segurança ambiental para obter a licença. O principal avanço foi a criação de um Centro de Despetrolização da Fauna, instalado em Oiapoque, a 170 quilômetros da área de perfuração — bem mais próximo do que o projeto inicial, que previa estrutura a 800 quilômetros de distância.
De acordo com o presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho, essa mudança foi determinante para a aprovação. “Se o centro tivesse permanecido em Belém, o pedido continuaria negado”, afirmou. O novo centro conta com mais embarcações rápidas, posicionadas estrategicamente ao redor da operação, para garantir resposta imediata em caso de vazamento.
Durante os testes realizados em Oiapoque, a Petrobras simulou quatro dias de perda de contato com a sonda, cenário que já havia ocorrido em 2011 por causa das fortes correntes marinhas da região. O exercício comprovou que, com a nova infraestrutura, a resposta emergencial seria muito mais rápida e eficaz.
O custo do progresso e o preço ambiental
Apesar dos avanços, a autorização não encerrou as controvérsias. A ex-presidente do Ibama, Suely Araújo, que havia negado o mesmo tipo de licença no governo Temer, criticou a decisão atual. Segundo ela, a modelagem de dispersão de óleo utilizada pela Petrobras está desatualizada.
No relatório técnico, o próprio Ibama reconhece que será necessário atualizar o modelo hidrodinâmico da Margem Equatorial, o que só deve ocorrer após a perfuração inicial. Para especialistas, isso representa uma inversão de prioridades, já que o ideal seria atualizar o modelo antes de qualquer operação.
Araújo também ressaltou que, embora o poço esteja distante da foz do Rio Amazonas, a bacia sedimentar da região é extremamente sensível. A área abriga o Sistema Recifal Amazônico, um ecossistema único e ainda pouco estudado, que se estende da costa do Amapá até o Maranhão. Por isso, organizações ambientais como o Observatório do Clima já anunciaram que pretendem judicializar o caso, questionando a legalidade da licença concedida.
Entre a economia e o meio ambiente
A decisão coloca o governo brasileiro diante de um dilema que reflete o cenário global: como conciliar crescimento econômico com preservação ambiental. O início da perfuração coincide com o preparo para a COP30, onde o Brasil pretende se posicionar como líder mundial em transição energética e proteção da Amazônia.
Enquanto parte do setor político e empresarial vê na exploração um passo estratégico rumo à autossuficiência energética, ambientalistas argumentam que insistir em combustíveis fósseis é um retrocesso, especialmente em meio à crise climática e à busca por fontes renováveis.
No fim, a questão permanece aberta: a exploração da Foz do Amazonas será lembrada como um marco de progresso nacional ou como um símbolo de retrocesso ambiental?