Transação bilionária da Raízen redefine estratégias no setor energético e agita mercado de geração distribuída de energia no Brasil. Mudança envolve grandes players, investimentos e consolidação de ativos em meio à expansão das renováveis.
A Raízen formalizou, nesta quinta-feira (24), a venda de 55 usinas de geração distribuída de energia, marcando o encerramento definitivo de sua atuação nesse segmento estratégico do mercado brasileiro.
O valor da transação, estimado em cerca de R$ 600 milhões, consolida a saída da companhia de um setor que ganhou relevância nos últimos anos devido à expansão das fontes renováveis no país.
Das 55 usinas transferidas, 44 foram adquiridas pela Thopen Energia e 11 pelo Grupo Gera.
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Juntas, as unidades somam uma capacidade nominal instalada de até 142 megawatt-pico (MWp), conforme informações divulgadas pela própria Raízen.
O cronograma financeiro prevê que os pagamentos sejam realizados à medida que as transferências das usinas forem concluídas, com previsão de encerramento de todo o processo até março de 2026.
Geração distribuída: desinvestimento e foco estratégico
A alienação dessas unidades integra o movimento de desinvestimento conduzido pela Raízen, que busca reorientar seu portfólio e fortalecer o foco em seus negócios principais, como a produção de açúcar, etanol e a distribuição de combustíveis.
Ao mesmo tempo, a venda contribui para a redução da dívida líquida da companhia, que ultrapassou R$ 30 bilhões ao fim da safra 2024/2025, segundo dados oficiais.
Encerramento de ciclo e estratégia de portfólio
Com a conclusão do negócio, a Raízen encerra formalmente sua participação em projetos de geração distribuída vinculados à parceria com o Grupo Gera.
Segundo a empresa, a operação está alinhada ao objetivo de desenvolver e entregar soluções inovadoras em geração distribuída, gestão e consumo de energia elétrica, além de tecnologias associadas à contratação desses serviços.
A joint venture firmada com o Grupo Gera também foi descontinuada, cumprindo o ciclo estabelecido desde o início da parceria.
A companhia afirmou, em nota, que a venda representa o atingimento das metas traçadas no início do projeto, reforçando a estratégia de reciclagem de ativos e de melhoria da estrutura de capital.
Ainda neste mês, a Raízen também comunicou a suspensão das operações da usina Santa Elisa, localizada no interior paulista, e firmou novos contratos para venda de cana-de-açúcar, reforçando o redirecionamento de esforços para áreas consideradas estratégicas.
Consolidação do mercado de energia solar
A transação da Raízen ocorre em um contexto de consolidação do mercado brasileiro de geração distribuída, que apesar de ainda fragmentado, vem registrando aumento nas operações de fusões e aquisições.
A consultoria Greener apurou que o número de usinas de geração distribuída comercializadas no Brasil cresceu aproximadamente 40% no primeiro semestre de 2025, saltando de 90 para 125 ativos em relação ao mesmo período do ano anterior.
O setor de geração distribuída de energia elétrica se destaca especialmente por projetos “greenfield” — termo utilizado para designar empreendimentos desenvolvidos a partir do zero — e pequenas instalações solares, como telhados e fachadas residenciais.
Segundo dados do setor, a capacidade instalada desses sistemas já supera a marca de 40 gigawatts (GW) no país, impulsionada pelos benefícios tarifários e políticas de incentivo ao uso de energia renovável.
Plataformas especializadas e fundos de investimento têm se consolidado como principais compradores neste movimento, caso da Brasol, que possui como acionistas o fundo BlackRock e a multinacional Siemens, e da Élis Energia, ligada ao Patria Investimentos.
Thopen e Gera: expansão e investimentos
A aquisição das usinas da Raízen eleva o volume de investimentos da Thopen Energia, que neste ano de 2025 atingiu a marca de R$ 1,5 bilhão em ativos, considerando três outras aquisições realizadas ao longo dos últimos meses.
Controlada pela norte-americana Denham Capital, a Thopen faz parte do grupo Pontal Energy e, após a operação, ampliará seu portfólio para 165 ativos sob gestão, totalizando 550 MWp até o final de 2025.
Segundo executivos da Thopen, a estratégia consiste em consolidar ativos de geração distribuída e explorar o potencial de crescimento do segmento, considerado fundamental para a descentralização da matriz elétrica e ampliação da participação de fontes renováveis no Brasil.
Já o Grupo Gera, especializado em gestão e operação de sistemas de energia distribuída, reforça sua presença no setor ao adquirir as 11 usinas negociadas nesta operação.