Fortescue garante financiamento recorde em yuan, reforçando laços com a China e ampliando estratégia de descarbonização, enquanto EUA recuam em projetos de energia limpa sob o governo Trump.
A Fortescue, quarta maior produtora de minério de ferro do mundo, anunciou no último dia 8 deste mês a contratação de um empréstimo denominado em yuan no valor de 14,2 bilhões de yuans (cerca de US$ 1,98 bilhão).
Segundo a agência de notícias Reuters, trata-se do maior empréstimo sindicalizado em yuan já concedido a uma empresa não chinesa, segundo o banco coordenador.
O financiamento se destina a apoiar o plano de descarbonização da companhia e a outras finalidades corporativas, semanas após o cancelamento de projetos de hidrogênio verde nos Estados Unidos e na Austrália.
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Recorde em yuan para empresa estrangeira
O pacote foi estruturado por um sindicato de instituições financeiras chinesas, australianas e internacionais, com destaque para Bank of China e ICBC.
A operação tem prazo de cinco anos e juros fixos de 3,8% ao ano, e marca uma etapa relevante da internacionalização do yuan por ocorrer fora do território chinês e envolver uma grande mineradora australiana.
Conforme informado pelo coordenador, é a maior transação do tipo já firmada com uma companhia sediada fora da China.
Termos e uso dos recursos
Segundo a empresa, a linha poderá ser utilizada para fins corporativos gerais e para acelerar projetos de descarbonização.
Um porta-voz acrescentou que esta é a primeira operação desse tipo para uma empresa australiana em que não há restrição de uso dos recursos, o que amplia a flexibilidade financeira da Fortescue.
A taxa de câmbio informada no comunicado de imprensa foi de US$ 1 = 7,1810 yuans.
Decisão após revisão do portfólio de energia limpa
O anúncio vem logo depois de a Fortescue encerrar projetos de hidrogênio verde em Arizona (EUA) e em Queensland (Austrália), medida divulgada em julho de 2025.
A empresa disse que a revisão estratégica levou à descontinuação dos empreendimentos e que busca redirecionar ativos e terrenos envolvidos.
Contexto nos EUA e elogio à capacidade industrial da China
No mesmo comunicado em que detalhou o financiamento, o fundador e chairman Andrew Forrest afirmou que a companhia vê oportunidade de avançar com parceiros chineses em tecnologia limpa.
Ele declarou: “À medida que os Estados Unidos recuam no investimento no que será a maior indústria do mundo, a China e a Fortescue estão avançando na tecnologia verde necessária para liderar a revolução industrial verde global.”
Forrest também ressaltou o reforço dos vínculos com instituições financeiras chinesas, mencionando escala industrial e inovação como fatores no país asiático.
Yuan fora da China e o debate sobre moedas
Enquanto o debate sobre uma eventual “moeda dos BRICS” e o papel das criptomoedas segue sem definições práticas, o movimento concreto observado neste caso é a expansão do uso do yuan em operações de grande porte com empresas estrangeiras.
A classificação do empréstimo como recorde para uma companhia não chinesa, de acordo com o coordenador do sindicato, ajuda a dimensionar o alcance da transação na praça internacional de crédito.
Repercussão para a Fortescue e a cadeia de fornecedores
Pelo lado corporativo, a companhia indicou que a captação fortalecerá a execução de seu plano de redução de emissões e a continuidade de contratos com fornecedores de tecnologia e equipamentos.
Em paralelo, a mineradora permanece como fornecedora relevante de minério de ferro para a China, o que cria uma ponte operacional para receitas e desembolsos na mesma moeda, mitigando risco cambial em parte das transações.
O que está em jogo para os EUA
A decisão de financiamento em moeda chinesa ocorre em meio a uma reorientação de prioridades de energia limpa nos Estados Unidos sob o governo Trump, conforme relatos do mercado e declarações públicas de executivos.
O simultâneo cancelamento de projetos de hidrogênio verde em território norte-americano e a busca de fontes alternativas de capital no exterior ilustram a mudança de rota observada por empresas do setor neste período.
Perspectivas para energia limpa e financiamento internacional
A reconfiguração do portfólio de energia limpa da Fortescue se insere em um cenário em que múltiplos projetos de hidrogênio verde foram adiados ou cancelados em diferentes países, diante de custos elevados e demanda abaixo do esperado.
Neste contexto, linhas em moedas locais de parceiros comerciais surgem como mecanismos de financiamento com custo e risco adequados a determinados perfis de receita, sobretudo quando há recebíveis atrelados ao yuan.
Entre a narrativa BRICS e os fatos do crédito
Em termos factuais, a operação da Fortescue não envolve criação de nova moeda nem substitui o dólar em sistemas de compensação globais.
Mas reforça uma tendência de diversificação de passivos corporativos e de crescimento do crédito em yuan fora da China.
Ao associar o financiamento a objetivos de descarbonização e a fornecedores chineses, a empresa sinaliza um arranjo financeiro-operacional que pode ser replicado em outras cadeias intensivas em capital.
O efeito prático desse tipo de operação sobre a competitividade e o custo de capital tende a ser acompanhado de perto por empresas expostas ao mercado asiático.
Diante desse avanço do financiamento em yuan a empresas estrangeiras, que impacto você espera ver no debate sobre desdolarização e no acesso de companhias ocidentais a capital para projetos de energia limpa?