Brasil antecipa arrecadação bilionária em 2025 enquanto Argentina reduz tributos para estimular eletrônicos, revelando estratégias opostas de política fiscal na América do Sul.
O Brasil alcançou R$ 2,5 trilhões em impostos, taxas e contribuições pagos em 2025 às 10h de 20 de agosto, marca atingida 23 dias antes do registrado no ano passado e 9,3% acima do mesmo período de 2024, segundo o Impostômetro da Associação Comercial de São Paulo (ACSP).
O dado chega no momento em que a Argentina reduz e programa zerar tributos sobre eletrônicos para estimular preços e concorrência.
Por que a arrecadação acelerou
A ACSP atribui o avanço à combinação de atividade ainda aquecida e inflação, que eleva a base de cálculo de tributos sobre consumo.
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Em avaliação, o economista Ulisses Ruiz de Gamboa, do Instituto de Economia Gastão Vidigal (IEGV), afirma que “a inflação também desempenhou um papel relevante, uma vez que o sistema tributário brasileiro é majoritariamente baseado em impostos sobre o consumo, que incidem diretamente sobre os preços dos bens e serviços”.
Além disso, pesaram novas fontes de receita e alterações que reforçaram o caixa.
Medidas recentes incluem a regulamentação e a tributação do mercado de apostas de quota fixa (bets), com IR de 15% sobre prêmios e regras de autorização e fiscalização a partir de 2024/2025, o que formalizou receitas do setor.
Houve ainda ajustes no IOF em 2025: decretos elevaram alíquotas em maio, seguidos de revisões e de decisão do STF em 16 de julho que restabeleceu a eficácia de parte do aumento — com estimativa de reforço de arrecadação no ano.
Essas mudanças somam-se à tributação de fundos exclusivos e offshores que passou a vigorar a partir de 2024.
ICMS: alta em estados pressiona o consumo
Estados também ajustaram alíquotas internas de ICMS em 2025, elevando a carga em itens sem regime específico.
- Maranhão passou de 22% para 23% em fevereiro.
- Rio Grande do Norte foi a 20% em março.
- Piauí subiu para 22,5% em abril, conforme leis locais.
Essas mudanças, espalhadas ao longo do semestre, reforçaram a arrecadação indireta via preços.
Reoneração gradual da folha entrou em 2025
No âmbito federal, entrou em vigor em 2025 a reoneração gradual da folha de pagamentos, após acordo entre governo e Congresso, com transição ao longo de três anos.
A medida sucedeu a desoneração integral de 2024 e recompõe a base de contribuições patronais de forma escalonada.
O que fez a Argentina
Do lado argentino, o governo publicou em maio de 2025 um pacote de redução de tributos sobre eletrônicos.
O imposto de importação para celulares caiu de 16% para 8% na publicação do decreto e ficará zerado em 15 de janeiro de 2026.
Os impostos internos caíram de 19% para 9,5% em celulares, TVs e aparelhos de ar-condicionado importados.
Para produtos fabricados na Terra do Fogo, caem de 9,5% para 0%. Consoles de videogame tiveram corte tarifário de 35% para 20%.
A orientação oficial é reduzir preços ao consumidor e ampliar a concorrência num mercado historicamente mais caro que o dos vizinhos.
Brasil x América Latina: quem tem a maior carga
Indicadores internacionais mostram o Brasil com a maior carga tributária da América Latina em 2023. A razão tributos/PIB ficou em 32,1% no país, acima da média regional, e à frente da Argentina (27,8%).
Para 2024, o Tesouro Nacional estimou a carga bruta em 32,32% do PIB. Os números ajudam a explicar por que, mesmo sem cortes tributários setoriais relevantes no período recente, a arrecadação brasileira alcançou a marca de R$ 2,5 trilhões com antecedência em 2025.
Como os fatores se combinam
Na prática, inflação, ajustes estaduais em ICMS, regras para apostas, mudanças no IOF e a tributação de fundos e offshores formaram um conjunto de vetores que ampliou a base e a velocidade de recolhimento.
A leitura da ACSP é que a soma dessas peças — em um ano de recomposição de receitas e de formalização de mercados — sustenta o patamar atual.
O avanço ocorreu, inclusive, com o painel do Impostômetro cravando a marca por volta das 10h do dia 20, reforçando a tendência de desempenho acima de 2024.
O que vem a seguir para preços e concorrência
Enquanto a Argentina projeta baratear eletrônicos com a trajetória de redução e eliminação de tributos até janeiro de 2026, o Brasil mantém foco em ajustes que recompõem receita e calibram bases tributárias, à espera da implementação das regras da reforma tributária sobre consumo.
O contraste entre estratégias — desoneração de bens finais de um lado e reforço de arrecadação do outro — mantém o debate sobre competitividade e custo de vida na região.
Com carga elevada, aceleração da arrecadação e vizinhos cortando impostos em setores estratégicos, há espaço para medidas que aliviem o preço de bens de maior uso no dia a dia, como celulares e TVs, sem comprometer o equilíbrio fiscal?
Parabéns ao MACHO SOBERANO 👍