Em Ontário, uma equipe de engenheiros cria uma casa autossuficiente que combina painéis solares, bomba de calor e bateria térmica, reduzindo custos e emissões e mostrando que a energia limpa pode ser eficiente e acessível
Uma equipe de engenheiros canadenses apresentou, em 28 de outubro, uma casa totalmente eletrificada em Komoka, Ontário, que promete redefinir a forma como as pessoas produzem e consomem energia. O projeto combina painéis solares, uma bomba de calor e uma bateria térmica para eliminar o uso de combustíveis fósseis e reduzir drasticamente os custos de energia e as emissões. Os pesquisadores acreditam que a inovação poderá estabelecer o novo padrão global para residências com emissão zero de carbono.
Um laboratório vivo para inovação em energia limpa
A iniciativa é liderada por Joshua Pearce, professor da Western Engineering e da Ivey Business School, e pelo doutorando Shafquat Rana. O time também conta com Anthony Straatman, chefe do departamento de engenharia mecânica e de materiais, Kamran Siddiqui, professor de engenharia, e Jaime Crncich, presidente da construtora Magnus Homes.
Juntos, eles projetaram um sistema doméstico capaz de usar energia solar gerada localmente para aquecer e fornecer eletricidade à casa. A construção de dois andares em Komoka funciona como um laboratório real, onde a equipe coleta e analisa dados de desempenho.
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Os primeiros resultados são expressivos: a instalação reduziu as contas de eletricidade em 45% e as emissões de carbono em 55%. Além disso, a bateria térmica — que armazena calor usando materiais como sal ou cera — aumentou em 60% o aproveitamento da energia solar, reduzindo a dependência da rede elétrica.
Pearce destacou que o custo da energia solar já é inferior ao da eletricidade convencional no Canadá. Segundo ele, o projeto demonstra a viabilidade econômica e prática da combinação entre painéis solares, bomba de calor e bateria térmica para suprir toda a demanda energética de uma residência.
Eficiência e potencial de expansão
A eficiência do sistema vem da interação entre os componentes: os painéis solares captam energia, a bomba de calor converte essa eletricidade em calor, e a bateria térmica armazena o excedente para uso posterior. O resultado é uma casa quatro vezes mais eficiente do que os sistemas tradicionais.
“O objetivo é comprovar a eficácia do sistema ao longo de um ano, com a meta de eliminar completamente a necessidade de combustíveis fósseis para aquecimento residencial”, explicou Rana. Ele acrescentou que, após a validação dos resultados, o plano é expandir a tecnologia para outras residências no Canadá e, futuramente, para o restante do mundo.
Para acompanhar o desempenho, Rana equipou a casa com sensores e fiação inteligente que medem o consumo e a geração de energia. Todos os dados são monitorados em tempo real por meio de um aplicativo. O próprio Crncich, que vive na casa experimental, acompanha o equilíbrio diário entre produção e uso de energia.
“Temos uma oportunidade única de criar e consumir energia nas nossas próprias casas. É fascinante observar, como morador e construtor, como esses dois aspectos se equilibram”, comentou Crncich. Ele ressaltou ainda a importância da conscientização dos proprietários sobre o consumo energético para alcançar a sustentabilidade.
Uma casa vizinha, construída por Crncich sem o sistema solar integrado, serve como modelo de controle, permitindo comparações diretas entre as duas construções.
Um passo importante para energia limpa e acessível
Apesar de as bombas de calor e baterias térmicas já estarem em expansão nos Estados Unidos, o conceito ainda é recente no mercado imobiliário canadense. Essa novidade torna o projeto particularmente relevante, considerando os altos custos de aquecimento em um país de clima rigoroso.
“Infelizmente, muitas casas no Canadá nem sequer atendem aos códigos atuais, muito menos contam com tecnologia fotovoltaica de ponta”, afirmou Pearce. Ele lembrou que a maioria das residências canadenses ainda utiliza gás natural ou aquecimento elétrico tradicional, o que é caro e ineficiente.
O professor destacou também a importância da energia renovável como forma de proteção contra as oscilações de preços no setor energético. “Se pudermos usar energia solar para alimentar nossas casas e transferi-la para uma bomba de calor, conseguimos multiplicar o rendimento: para cada unidade elétrica, obtemos três unidades de calor — uma eficiência superior a 300%”, explicou.
Um futuro sustentável e viável
Para Rana, o projeto representa um avanço não apenas técnico e econômico, mas também ambiental. Ele acredita que a casa solar autossuficiente pode contribuir diretamente para a mitigação das mudanças climáticas.
“As mudanças climáticas são reais, e precisamos que todos façam um pequeno esforço para combatê-las”, afirmou. “A descarbonização do setor residencial é uma medida simples e óbvia. Integrar essa estrutura sustentável nas casas canadenses, especialmente nas novas construções, pode reduzir significativamente as emissões de carbono do país e ajudar a enfrentar o impacto global da crise climática.”
A pesquisa da equipe foi publicada nas revistas Energies, Energy and Buildings e e-Prime – Advances in Electrical Engineering, Electronics and Energy, reforçando o reconhecimento científico da iniciativa.
Com resultados concretos e mensuráveis, a casa solar de Komoka mostra que é possível unir eficiência, economia e sustentabilidade em um mesmo projeto. Se a tendência se confirmar, o modelo canadense pode servir de inspiração para uma nova geração de residências energeticamente autossuficientes em diversas partes do mundo.



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