Com 11,7 GW de armazenamento em 2024, o estado norte-americano reduz em 43% o uso de gás e se torna líder global em transição energética
Uma virada histórica está iluminando o futuro da energia. A Califórnia, referência mundial em inovação e sustentabilidade, alcançou em 2024 o que especialistas chamam de “Santo Graal da energia solar”: gerar eletricidade limpa durante a noite, sem depender do sol.
Segundo o relatório da Ember (2024), o estado saltou de 0,6 GW de baterias em 2020 para 11,7 GW em 2024, ampliando quase vinte vezes sua capacidade de armazenamento. Hoje, essa estrutura representa quase metade do total instalado nos Estados Unidos, consolidando a Califórnia como modelo global de energia renovável.
Armazenamento faz a noite virar dia
Essa conquista impressionante não veio por acaso. O segredo está na união entre energia solar, baterias e gestão inteligente da demanda. Conforme a California Independent System Operator (CAISO), o uso de gás natural caiu 43% entre 2022 e 2024, marcando o declínio do combustível que dominava o consumo noturno por décadas.
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Durante o verão de 2024, em 41 dos últimos 49 dias, a rede elétrica californiana atendeu toda a demanda apenas com fontes renováveis — solar, eólica e hidrelétrica — por até nove horas seguidas.
O relatório também aponta que a geração solar aumentou 18% em relação a 2023, enquanto a descarga das baterias cresceu 63%. Assim, até um terço da demanda máxima noturna passou a ser coberta pelo armazenamento, reduzindo drasticamente a dependência do gás natural.
De acordo com o pesquisador Mark Jacobson, da Universidade de Stanford, houve dias em que a oferta de energia limpa chegou a 140% da demanda, permitindo que os excedentes fossem exportados para estados vizinhos.
Estratégia de mercado e inovação tecnológica
Além dos avanços tecnológicos, a CAISO implementou medidas inovadoras no mercado de energia. Desde 2023, as baterias passaram a comprar energia barata durante o dia e revendê-la à noite, quando os preços sobem. Essa estratégia, chamada de arbitragem intradiária, ajudou a equilibrar a rede e reduziu o uso de usinas térmicas.
Outro destaque é o programa Demand-Side Grid-Support (DSGS), uma das maiores usinas virtuais do planeta. De acordo com a PV Magazine (2024), ele reúne mais de 200 MW de potência ativa e 720 MW em baterias domésticas. No verão de 2024, o sistema foi ativado 16 vezes para conter picos de consumo durante ondas de calor, provando sua eficiência.
Entretanto, o futuro do programa está em risco. Cortes orçamentários de até US$ 18 milhões podem comprometer tanto o DSGS quanto o projeto de microrredes DEBA, essenciais para sustentar a transição energética no estado.
Efeitos econômicos e novos desafios
Os impactos positivos já são visíveis. O preço da energia no atacado caiu 53% em 2024, comparado ao ano anterior, segundo a CAISO. Além disso, setores de meio-dia registraram preços negativos, compensados pela capacidade das baterias, que absorvem até 15% da demanda nesses horários.
Segundo Jacobson (2024), a eletrificação total pode reduzir entre 60% e 65% o custo anual de energia em comparação ao modelo baseado em combustíveis fósseis.
Por outro lado, a Califórnia ainda enfrenta desafios estruturais. O estado precisa transferir energia hidrelétrica para o período noturno, acelerar o desenvolvimento da energia eólica offshore e ampliar a gestão de demanda, conforme relatório da Stanford University (2024).
Um modelo de transição que inspira o mundo
A experiência californiana mostra que a transição energética não depende de milagres, mas de decisão e planejamento. Com energia solar, eólica e baterias, é possível substituir o gás natural e criar um sistema elétrico estável, limpo e econômico.
Mark Jacobson prevê que a Califórnia alcançará 80% de energia renovável entre 2026 e 2028 e 100% até 2033. Assim, o estado avança para se tornar a primeira região do planeta a operar quase totalmente com energia limpa.
Enquanto outros países ainda planejam seus próximos passos, a Califórnia já vive o futuro — com noites alimentadas por energia solar armazenada e uma economia cada vez menos dependente de combustíveis fósseis.
O que você acha que deve ser prioridade para os governos do mundo: acelerar a substituição do gás natural por energia solar e baterias, ou optar por uma transição mais gradual e segura para a economia?