A NASA deu o passo mais concreto rumo a um reator nuclear lunar de pelo menos 100 kW, com foco em parcerias comerciais e venda de energia como serviço. O cronograma mira colocar o sistema no polo sul da Lua até o primeiro trimestre de 2030.
A NASA acaba de abrir uma nova fase do projeto Fission Surface Power, convidando a indústria a comentar o rascunho do AFPP que define os contornos do reator lunar e do modelo de parceria. O movimento inclui um Industry Day em 9 de setembro de 2025, em Cleveland, para detalhar requisitos e ouvir empresas interessadas. Segundo a própria agência, trata-se de preparar um sistema de ≥100 kW, com massa inferior a 15 toneladas e conversão por ciclo Brayton fechado.
O documento em elaboração vem na esteira de uma diretriz assinada em 4 de agosto de 2025, que manda acelerar o FSP e estabelecer uma governança clara para levar a tecnologia à superfície lunar. A orientação cita o uso de microreatores comerciais e a necessidade de mover rapidamente para sustentar a economia lunar e futuras missões em Marte.
A própria página oficial explica que a meta de implantação do reator é o primeiro trimestre do ano fiscal de 2030. Em termos práticos, isso significa uma janela que começa em outubro de 2029, mantendo a pressão para que a parceria público-privada feche engenharia, segurança e logística em poucos anos.
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Além do aspecto tecnológico, há um recado de mercado. A NASA quer que o setor privado detenha o ativo e venda energia para a agência e demais clientes na Lua, abrindo um novo segmento de infraestrutura espacial comercial de alto valor agregado.
Requisitos técnicos do reator lunar de 100 kW
O coração da especificação é a entrega contínua de pelo menos 100 kW elétricos em ambiente lunar, patamar considerado suficiente para módulos habitáveis, ISRU (produção de recursos no local), comunicações e operações científicas. A conversão pelo ciclo Brayton fechado aparece como requisito por oferecer alta eficiência e escalabilidade de potência, reduzindo a massa total do sistema. 100 kW, Brayton e < 15 t são os três números-chave do edital.
Outro ponto definido é a instalação no polo sul da Lua por até 10 anos de operação. Essa região concentra crateras em sombra permanente, gelo de água e janelas de iluminação complicadas, o que torna a energia nuclear uma solução resiliente onde painéis solares e baterias enfrentam limitações severas. Energia firme e disponibilidade 24/7 são diferenciais críticos do reator em relação ao solar.
A restrição de massa abaixo de 15 toneladas não é um capricho. Ela se conecta à capacidade de descida dos landers de carga pesada, à integração térmica com radiadores e aos requisitos de segurança radiológica e blindagem que precisam ser cumpridos sem inviabilizar o lançamento. A NASA indica que a seleção de combustível, enriquecimento e forma do núcleo também serão avaliadas.
Energia como serviço na Lua: o modelo comercial
O rascunho do AFPP propõe uma parceria por Funded Space Act Agreement com fase base e opção. A parte base culmina em uma demonstração nuclear integrada em solo; a opção projeta os marcos para a entrega e operação do reator na Lua, já no formato de serviço comercial de energia. Para concorrer, a empresa precisa apresentar um Plano de Negócios de Energia Lunar Comercial e um plano de financiamento credível.
Há datas de referência que organizam o pipeline. O rascunho foi publicado em 29 de agosto de 2025 e recebeu um prazo de comentários curto, alinhado ao calendário do Industry Day de 9 de setembro e das reuniões individuais de 10 de setembro. A partir desse insumo, a NASA prepara a versão final do anúncio e sinaliza concessões em 2026.
Se confirmada, a estrutura de energia como serviço inaugura um mercado em que kilowatts por hora passam a ser comprados e vendidos na superfície lunar, envolvendo clientes públicos e privados. Em termos de economia espacial, isso equivale a instalar a primeira “concessionária” fora da Terra.
Do 40 kW ao 100 kW: linha do tempo e legado tecnológico
O salto atual se apoia em entregas anteriores. Em 2022, a NASA e o Departamento de Energia via Idaho National Laboratory selecionaram três equipes para estudos de reatores de 40 kW por 12 meses e US$ 5 milhões cada, com Westinghouse, Lockheed Martin e IX (Intuitive Machines + X-energy) entre as escolhidas. Essas propostas serviram para reduzir incertezas e preparar a etapa comercial.
O FSP também herda o aprendizado do Kilopower e do histórico SNAP-10A, que demonstraram princípios de reatores compactos e conversão eletromecânica para missões de longa duração. Essa linha de pesquisa ajuda a entender escolhas como o ciclo Brayton e a modularidade exigida agora.
A diretriz de 4 de agosto de 2025 reforça a escalada de ambição e a governança. Ela determina a nomeação de um program executive dedicado, realoca verbas e faz a ponte com prioridades nacionais em reatores avançados, consolidando o alvo do Q1 do ano fiscal de 2030 para estar na Lua com potência na tomada.
Competição global e por que nuclear, não apenas solar
Há também um componente geopolítico. China e Rússia vêm articulando a ILRS e ventilam um reator lunar por volta de 2035, o que adiciona pressão à corrida tecnológica e regulatória. Relatos recentes de autoridades chinesas e de Roscosmos foram noticiados por veículos internacionais, reforçando a importância de a NASA chegar primeiro para evitar “zonas de exclusão” de fato.
Tecnicamente, a Lua impõe um obstáculo que o solar não resolve sozinho. O dia lunar dura cerca de quatro semanas, com duas de escuridão e regiões em sombra permanente no polo sul. Mesmo com baterias e armazenamento térmico, manter habitats, mineração de gelo e comunicações críticas durante a noite exige fonte firme, papel natural da fissão. A NASA explicita esse racional em seus materiais.
O resultado prático é que a energia nuclear funciona como espinha dorsal de uma base, enquanto o solar pode compor a matriz. Essa combinação tende a baixar risco operacional e aumentar a disponibilidade para missões tripuladas no âmbito do Artemis.
Você apoia a ideia de comprar energia de uma “usina nuclear” na Lua operada por empresas privadas ou prefere que esse fornecimento fique 100% nas mãos de agências públicas? Que modelo traria mais segurança e eficiência para bases lunares nos próximos anos? Deixe sua opinião nos comentários.