Saiba por que empresas brasileiras estão migrando em massa para o Paraguai e reduzindo custos de produção em até 40%
No começo de 2025, a tradicional fabricante têxtil brasileira Lupo confirmou um passo estratégico ousado: abrir uma nova fábrica de meias em Ciudad del Este, no Paraguai. A decisão coloca a companhia em um grupo cada vez maior de empresas nacionais que estão transferindo parte de sua produção para o país vizinho, atraídas principalmente por um sistema tributário simplificado e altamente competitivo.
No Paraguai, vigora o chamado modelo “10-10-10”: a alíquota máxima do Imposto de Renda é de 10% para empresas e pessoas físicas, o Imposto sobre Valor Agregado (IVA) também é de 10% e, em algumas situações, essa taxa cai para 5% ou até é zerada — como acontece com o IVA cobrado de turistas. Além disso, rendas obtidas no exterior não sofrem tributação, algo que atrai empreendedores internacionais e trabalhadores remotos.
Outro diferencial é o Regime Maquila, voltado às exportações. Ele oferece isenção ou redução drástica de tributos sobre qualquer produto produzido, embalado ou montado no território paraguaio. No caso da Lupo, a escolha foi motivada justamente por essa política. Com investimento de R$ 30 milhões, a planta de Ciudad del Este deve iniciar operação plena em 2026, gerando 350 empregos diretos e fabricando 20 milhões de pares de meias por ano.
-
Crise na Alemanha leva governo a criar fundo de 500 bilhões de euros, rompendo décadas de disciplina fiscal rígida
-
No Brasil, sai Hyundai e entra China: estatal chinesa assume fábrica colossal com investimento de R$ 50 milhões
-
Obras de aeroporto abandonado é retomada e pode transformar cidade
-
O crediário brasileiro virou febre mundial? Descubra a aposta de US$1 trilhão da Apple e Fintechs
A empresa ressaltou, em comunicado ao mercado, que a expansão não só aumentará a capacidade produtiva, mas também consolidará a liderança da marca e melhorará suas margens de lucro. “Este investimento estratégico permitirá fortalecer a presença no mercado, criar novas oportunidades e impulsionar o crescimento”, afirmou a Lupo.
Custos menores compensam a distância
Para empresas brasileiras, produzir no Paraguai pode ser mais vantajoso do que manter as operações em território nacional, mesmo com os custos adicionais de transporte. O economista Cláudio Shimoyama, doutor em Gestão de Negócios e consultor com atuação no país vizinho, explica que essa política tributária foi definida como política de Estado, e não apenas de governo, garantindo estabilidade e previsibilidade para investidores.
Segundo ele, a baixa carga tributária incentiva um “círculo virtuoso” na economia: a sonegação diminui e o crescimento se torna mais sustentável. “No Brasil, a carga de impostos gira em torno de 30%. Se houvesse retorno equivalente em infraestrutura, saúde, segurança e educação, a população pagaria com menos resistência. Mas como isso não acontece, as queixas são legítimas. No Paraguai, a receita do Estado é menor, e isso obriga a uma gestão mais eficiente”, observa.
Comparativo tributário: Paraguai x Brasil
No Brasil, a reforma tributária sancionada pelo governo Lula fixou o IVA em 28% — a maior alíquota do mundo. No Paraguai, o teto é de 10%, com redução para 5% em itens essenciais como aluguel para moradia, produtos da cesta básica, hortifruti e medicamentos. O país também aplica o Imposto Seletivo ao Consumo (ISC) sobre bens não essenciais, com taxas que variam de 1% para armas a 12% para cigarros.
Dados do Ministério da Indústria e Comércio do Paraguai, atualizados em junho de 2025, indicam que 65% do que é produzido sob o Regime Maquila é exportado para o Brasil. Outros destinos incluem Argentina (15%), EUA (4%), Bolívia (3%), Chile (3%), Holanda (2%) e Uruguai (2%). O modelo reduz custos finais de produção em até 40%, graças à combinação de impostos mais baixos, energia elétrica barata, regulamentações trabalhistas menos rígidas e proximidade geográfica.
De acordo com Sebastián Bogado, adido comercial do Ministério, empresas brasileiras estão migrando voluntariamente para o Paraguai. “Toda a cadeia têxtil, da produção de fios à confecção, está em expansão. O mesmo vale para os setores plástico, metalúrgico e agroindustrial”, afirmou.
Modelo paraguaio poderia funcionar no Brasil?
Para Shimoyama, o modelo tributário paraguaio é tecnicamente viável para o Brasil, mas exigiria uma reforma profunda, que passaria pela redução do tamanho da máquina pública e mudanças estruturais na administração. Ele destaca que o Paraguai gasta apenas 3% a 4% do PIB com serviços públicos, segundo o Banco Mundial — percentual bem abaixo da média global e que teria de dobrar para atender aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.
Apesar disso, com impostos representando apenas 14% do PIB, o Paraguai obteve 96/100 no índice de carga tributária da Heritage Foundation, a maior pontuação da América Latina. “Seria preciso desinchar o Estado brasileiro, cortar gastos e tornar a gestão mais eficiente. É um caminho difícil, mas modelos como o paraguaio mostram que é possível buscar um equilíbrio entre competitividade e responsabilidade fiscal”, concluiu.
A que ponto chegamos 👏