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Empresas brasileiras migram para o Paraguai em busca de impostos mais baixos e custos reduzidos

Escrito por Noel Budeguer
Publicado em 11/08/2025 às 17:38
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Saiba por que empresas brasileiras estão migrando em massa para o Paraguai e reduzindo custos de produção em até 40%

No começo de 2025, a tradicional fabricante têxtil brasileira Lupo confirmou um passo estratégico ousado: abrir uma nova fábrica de meias em Ciudad del Este, no Paraguai. A decisão coloca a companhia em um grupo cada vez maior de empresas nacionais que estão transferindo parte de sua produção para o país vizinho, atraídas principalmente por um sistema tributário simplificado e altamente competitivo.

No Paraguai, vigora o chamado modelo “10-10-10”: a alíquota máxima do Imposto de Renda é de 10% para empresas e pessoas físicas, o Imposto sobre Valor Agregado (IVA) também é de 10% e, em algumas situações, essa taxa cai para 5% ou até é zerada — como acontece com o IVA cobrado de turistas. Além disso, rendas obtidas no exterior não sofrem tributação, algo que atrai empreendedores internacionais e trabalhadores remotos.

Outro diferencial é o Regime Maquila, voltado às exportações. Ele oferece isenção ou redução drástica de tributos sobre qualquer produto produzido, embalado ou montado no território paraguaio. No caso da Lupo, a escolha foi motivada justamente por essa política. Com investimento de R$ 30 milhões, a planta de Ciudad del Este deve iniciar operação plena em 2026, gerando 350 empregos diretos e fabricando 20 milhões de pares de meias por ano.

A empresa ressaltou, em comunicado ao mercado, que a expansão não só aumentará a capacidade produtiva, mas também consolidará a liderança da marca e melhorará suas margens de lucro. “Este investimento estratégico permitirá fortalecer a presença no mercado, criar novas oportunidades e impulsionar o crescimento”, afirmou a Lupo.

Quando a nova fábrica da Lupo em Ciudad del Este, no Paraguai, estiver operando em plena capacidade, a produção anual deverá atingir cerca de 20 milhões de pares de meias destinados à exportação para o Brasil. (Foto: Divulgação/Assessoria de Imprensa Lupo)

Custos menores compensam a distância

Para empresas brasileiras, produzir no Paraguai pode ser mais vantajoso do que manter as operações em território nacional, mesmo com os custos adicionais de transporte. O economista Cláudio Shimoyama, doutor em Gestão de Negócios e consultor com atuação no país vizinho, explica que essa política tributária foi definida como política de Estado, e não apenas de governo, garantindo estabilidade e previsibilidade para investidores.

Segundo ele, a baixa carga tributária incentiva um “círculo virtuoso” na economia: a sonegação diminui e o crescimento se torna mais sustentável. “No Brasil, a carga de impostos gira em torno de 30%. Se houvesse retorno equivalente em infraestrutura, saúde, segurança e educação, a população pagaria com menos resistência. Mas como isso não acontece, as queixas são legítimas. No Paraguai, a receita do Estado é menor, e isso obriga a uma gestão mais eficiente”, observa.

Comparativo tributário: Paraguai x Brasil

No Brasil, a reforma tributária sancionada pelo governo Lula fixou o IVA em 28% — a maior alíquota do mundo. No Paraguai, o teto é de 10%, com redução para 5% em itens essenciais como aluguel para moradia, produtos da cesta básica, hortifruti e medicamentos. O país também aplica o Imposto Seletivo ao Consumo (ISC) sobre bens não essenciais, com taxas que variam de 1% para armas a 12% para cigarros.

Dados do Ministério da Indústria e Comércio do Paraguai, atualizados em junho de 2025, indicam que 65% do que é produzido sob o Regime Maquila é exportado para o Brasil. Outros destinos incluem Argentina (15%), EUA (4%), Bolívia (3%), Chile (3%), Holanda (2%) e Uruguai (2%). O modelo reduz custos finais de produção em até 40%, graças à combinação de impostos mais baixos, energia elétrica barata, regulamentações trabalhistas menos rígidas e proximidade geográfica.

De acordo com Sebastián Bogado, adido comercial do Ministério, empresas brasileiras estão migrando voluntariamente para o Paraguai. “Toda a cadeia têxtil, da produção de fios à confecção, está em expansão. O mesmo vale para os setores plástico, metalúrgico e agroindustrial”, afirmou.

Modelo paraguaio poderia funcionar no Brasil?

Para Shimoyama, o modelo tributário paraguaio é tecnicamente viável para o Brasil, mas exigiria uma reforma profunda, que passaria pela redução do tamanho da máquina pública e mudanças estruturais na administração. Ele destaca que o Paraguai gasta apenas 3% a 4% do PIB com serviços públicos, segundo o Banco Mundial — percentual bem abaixo da média global e que teria de dobrar para atender aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.

Apesar disso, com impostos representando apenas 14% do PIB, o Paraguai obteve 96/100 no índice de carga tributária da Heritage Foundation, a maior pontuação da América Latina. “Seria preciso desinchar o Estado brasileiro, cortar gastos e tornar a gestão mais eficiente. É um caminho difícil, mas modelos como o paraguaio mostram que é possível buscar um equilíbrio entre competitividade e responsabilidade fiscal”, concluiu.

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Silvia Maria Bellato Nogueira
Silvia Maria Bellato Nogueira
11/08/2025 17:59

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Noel Budeguer

Sou jornalista argentino, baseado no Rio de Janeiro, especializado em temas militares, tecnologia, energia e geopolítica. Busco traduzir assuntos complexos em conteúdos acessíveis, com rigor jornalístico e foco no impacto social e econômico.

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