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Empresário que se diz ‘Elon Musk brasileiro’ anuncia produção de 120 mil carros por ano, mas tem um problema: ele não tem fábrica e maioria dos ‘fornecedores’ nega parceria com a marca, segundo site 

Escrito por Alisson Ficher
Publicado em 11/09/2025 às 14:07
Lecar promete fabricar 120 mil carros sem fábrica, mas fornecedores negam parceria. Reservas já são aceitas no site.
Lecar promete fabricar 120 mil carros sem fábrica, mas fornecedores negam parceria. Reservas já são aceitas no site.
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Lecar anuncia produção em larga escala de veículos híbridos no Brasil, mas fornecedores listados pela empresa negam contratos firmados, enquanto reservas já são aceitas online para modelos ainda não fabricados.

A Lecar, empresa criada por Flávio Figueiredo Assis, passou a anunciar que produzirá 120 mil carros por ano, embora ainda não possua fábrica operando.

A maioria dos fornecedores listados pelo próprio site da marca nega ter parceria firmada.

Enquanto isso, a companhia recebe reservas online para dois modelos, o sedã 459 e a picape Campo, ambos com preço sugerido de R$ 159.300 e possibilidade de parcelamento em 72 vezes de R$ 2.215,50, segundo reportagem publicada nesta quarta-feira (10) pelo Auto Papo.

Carros em pré-venda por R$ 159,3 mil

No portal da Lecar, o interessado encontra imagens dos veículos, fichas técnicas e condições de compra.

A companhia também divulga o desenvolvimento de um terceiro produto, o SUV Tático.

Até aqui, de acordo com apuração do Auto Papo, as apresentações se restringem a renders, maquetes e peças de exposição, sem confirmação de unidades finais prontas para teste ou homologação.

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Promessa de rede nacional de peças

Além das condições comerciais, a marca sustenta no site que já possui fornecedores e estoque de reposição.

Em texto institucional, afirma: “Com um compromisso firme com a excelência e a nacionalização de sua cadeia produtiva, a empresa já assegurou a disponibilidade de peças de reposição em todo o território nacional, antecipando-se ao início da fabricação de seus modelos híbridos”.

A declaração, no entanto, contrasta com as respostas obtidas pelos jornalistas que checaram uma a uma as empresas citadas.

Como popularizou a frase atribuída a Garrincha, “faltou combinar com os russos!

Fornecedores desmentem parceria com Lecar

Entre os nomes listados pela Lecar está a Pirelli.

Questionada, a fabricante italiana respondeu que não tem contratos com a marca brasileira.

Situação semelhante foi relatada pela Marcopolo, que afirmou oficialmente: “A Marcopolo informou que desconhece qualquer tipo de relação com a Lecar. Não há nada que relacione a empresa com a Lecar nos registros, seja cadastro como fornecedor, contrato de parceria ou acordo de confidencialidade”.

O grupo Randoncorp também foi associado pela Lecar a sua cadeia de suprimentos.

A companhia, porém, declarou em nota que não possui relação comercial, contratual ou institucional com a startup.

Disse ainda que suas marcas Suspensys, Fras-le e Nakata não mantêm qualquer vínculo com a empresa de Assis.

Segundo a Randoncorp, itens de Fras-le e Nakata são linhas abertas ao consumidor e podem ser adquiridas no varejo, o que não configura parceria.

A companhia concluiu: “A Randoncorp atua de forma ética e transparente, sendo reconhecida como uma das líderes de mercado no Brasil e no exterior, com presença em mais de uma centena de países e uma ampla rede global de vendas e serviços”.

Conversas iniciais sem contrato

A Apolo Tecnologia, empresa de polímeros do grupo Marcopolo, reconheceu ter mantido conversas técnicas sobre a possibilidade de uso de DCPD em para-choques.

Informou ainda ter cedido amostras de material para exposições e lançamentos.

Porém, pontuou: “Não temos contrato firmado com a Lecar”.

A empresa disse esperar que, caso os veículos sejam lançados, possa vir a fornecer as peças, deixando claro que não há acordo vigente.

Motores Horse são a única confirmação

Entre os citados, a única confirmação de fornecimento veio da Horse, fabricante de motores resultante da aliança Renault-Nissan com a Geely.

A empresa encaminhou um comunicado em que pontua o fornecimento de 12 mil motores à Lecar.

Não foram informados, entretanto, detalhes de cronograma, especificações técnicas dos propulsores ou eventuais fases de entrega.

O Auto Papo destacou que a promessa de Assis é montar uma planta com capacidade para 120 mil carros por ano, número dez vezes superior ao volume de motores mencionado pela Horse.

Fábrica e rede de concessionárias sem definição

Segundo o portal especializado, Assis tem apresentado a projeção de uma rede de concessionárias baseada na futura instalação fabril.

A unidade ainda não possui localização divulgada nem data de início de operação.

Em paralelo, a página da Lecar continua a listar nomes de empresas como “parceiras”, embora várias delas tenham desautorizado publicamente a associação.

Em termos práticos, as relações descritas pelo mercado até agora vão de simples contatos preliminares a compras eventuais de itens de prateleira, sem contratos de fornecimento dedicados.

Relatos sobre encontros com empresário

Representantes de companhias mencionadas relataram interações breves com o fundador da Lecar.

Um porta-voz, sob anonimato, descreveu um encontro de menos de 15 minutos para tratar da picape Campo e disse que Assis “não deu nem boa tarde e já queria gravar vídeos, o que não aconteceu”.

Outro executivo, de uma empresa listada, afirmou que as conversas estão em estágio embrionário, sem qualquer compromisso assinado, projeto em andamento ou exclusividade.

Segundo ele, a prioridade é preservar a credibilidade da marca até que haja garantias mínimas para avançar.

Promessas versus realidade do mercado

De um lado, a Lecar divulga modelos híbridos com preço e parcelamento “a perder de vista”, anuncia a nacionalização da cadeia e fala em disponibilidade de peças por todo o país.

De outro, fornecedores globais negam contratos, e empresas de engenharia descrevem o relacionamento como incipiente.

A única sinalização concreta veio da Horse, com a cifra de 12 mil motores, magnitude que não se alinha, por ora, à produção anual proclamada pela companhia.

Consumidor diante da incerteza

Para o comprador interessado, a divergência entre as promessas publicitárias e as negações das fornecedoras coloca em evidência a importância de checar a origem dos componentes, a existência de homologações e o estágio real do projeto industrial antes de qualquer pagamento de reserva.

Enquanto o empreendimento busca consolidar parcerias, persistem dúvidas objetivas sobre sede, cronograma, escala e contratos que sustentariam a operação anunciada.

Nessas condições, até que ponto o consumidor pode confiar em pré-vendas de veículos de uma empresa que ainda não iniciou sua produção?

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Alisson Ficher

Jornalista formado desde 2017 e atuante na área desde 2015, com seis anos de experiência em revista impressa, passagens por canais de TV aberta e mais de 12 mil publicações online. Especialista em política, empregos, economia, cursos, entre outros temas. Registro profissional: 0087134/SP. Se você tiver alguma dúvida, quiser reportar um erro ou sugerir uma pauta sobre os temas tratados no site, entre em contato pelo e-mail: alisson.hficher@outlook.com. Não aceitamos currículos!

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