Lecar anuncia produção em larga escala de veículos híbridos no Brasil, mas fornecedores listados pela empresa negam contratos firmados, enquanto reservas já são aceitas online para modelos ainda não fabricados.
A Lecar, empresa criada por Flávio Figueiredo Assis, passou a anunciar que produzirá 120 mil carros por ano, embora ainda não possua fábrica operando.
A maioria dos fornecedores listados pelo próprio site da marca nega ter parceria firmada.
Enquanto isso, a companhia recebe reservas online para dois modelos, o sedã 459 e a picape Campo, ambos com preço sugerido de R$ 159.300 e possibilidade de parcelamento em 72 vezes de R$ 2.215,50, segundo reportagem publicada nesta quarta-feira (10) pelo Auto Papo.
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Carros em pré-venda por R$ 159,3 mil
No portal da Lecar, o interessado encontra imagens dos veículos, fichas técnicas e condições de compra.
A companhia também divulga o desenvolvimento de um terceiro produto, o SUV Tático.
Até aqui, de acordo com apuração do Auto Papo, as apresentações se restringem a renders, maquetes e peças de exposição, sem confirmação de unidades finais prontas para teste ou homologação.
Promessa de rede nacional de peças
Além das condições comerciais, a marca sustenta no site que já possui fornecedores e estoque de reposição.
Em texto institucional, afirma: “Com um compromisso firme com a excelência e a nacionalização de sua cadeia produtiva, a empresa já assegurou a disponibilidade de peças de reposição em todo o território nacional, antecipando-se ao início da fabricação de seus modelos híbridos”.
A declaração, no entanto, contrasta com as respostas obtidas pelos jornalistas que checaram uma a uma as empresas citadas.
Como popularizou a frase atribuída a Garrincha, “faltou combinar com os russos!”
Fornecedores desmentem parceria com Lecar
Entre os nomes listados pela Lecar está a Pirelli.
Questionada, a fabricante italiana respondeu que não tem contratos com a marca brasileira.
Situação semelhante foi relatada pela Marcopolo, que afirmou oficialmente: “A Marcopolo informou que desconhece qualquer tipo de relação com a Lecar. Não há nada que relacione a empresa com a Lecar nos registros, seja cadastro como fornecedor, contrato de parceria ou acordo de confidencialidade”.
O grupo Randoncorp também foi associado pela Lecar a sua cadeia de suprimentos.
A companhia, porém, declarou em nota que não possui relação comercial, contratual ou institucional com a startup.
Disse ainda que suas marcas Suspensys, Fras-le e Nakata não mantêm qualquer vínculo com a empresa de Assis.
Segundo a Randoncorp, itens de Fras-le e Nakata são linhas abertas ao consumidor e podem ser adquiridas no varejo, o que não configura parceria.
A companhia concluiu: “A Randoncorp atua de forma ética e transparente, sendo reconhecida como uma das líderes de mercado no Brasil e no exterior, com presença em mais de uma centena de países e uma ampla rede global de vendas e serviços”.
Conversas iniciais sem contrato
A Apolo Tecnologia, empresa de polímeros do grupo Marcopolo, reconheceu ter mantido conversas técnicas sobre a possibilidade de uso de DCPD em para-choques.
Informou ainda ter cedido amostras de material para exposições e lançamentos.
Porém, pontuou: “Não temos contrato firmado com a Lecar”.
A empresa disse esperar que, caso os veículos sejam lançados, possa vir a fornecer as peças, deixando claro que não há acordo vigente.
Motores Horse são a única confirmação
Entre os citados, a única confirmação de fornecimento veio da Horse, fabricante de motores resultante da aliança Renault-Nissan com a Geely.
A empresa encaminhou um comunicado em que pontua o fornecimento de 12 mil motores à Lecar.
Não foram informados, entretanto, detalhes de cronograma, especificações técnicas dos propulsores ou eventuais fases de entrega.
O Auto Papo destacou que a promessa de Assis é montar uma planta com capacidade para 120 mil carros por ano, número dez vezes superior ao volume de motores mencionado pela Horse.
Fábrica e rede de concessionárias sem definição
Segundo o portal especializado, Assis tem apresentado a projeção de uma rede de concessionárias baseada na futura instalação fabril.
A unidade ainda não possui localização divulgada nem data de início de operação.
Em paralelo, a página da Lecar continua a listar nomes de empresas como “parceiras”, embora várias delas tenham desautorizado publicamente a associação.
Em termos práticos, as relações descritas pelo mercado até agora vão de simples contatos preliminares a compras eventuais de itens de prateleira, sem contratos de fornecimento dedicados.
Relatos sobre encontros com empresário
Representantes de companhias mencionadas relataram interações breves com o fundador da Lecar.
Um porta-voz, sob anonimato, descreveu um encontro de menos de 15 minutos para tratar da picape Campo e disse que Assis “não deu nem boa tarde e já queria gravar vídeos, o que não aconteceu”.
Outro executivo, de uma empresa listada, afirmou que as conversas estão em estágio embrionário, sem qualquer compromisso assinado, projeto em andamento ou exclusividade.
Segundo ele, a prioridade é preservar a credibilidade da marca até que haja garantias mínimas para avançar.
Promessas versus realidade do mercado
De um lado, a Lecar divulga modelos híbridos com preço e parcelamento “a perder de vista”, anuncia a nacionalização da cadeia e fala em disponibilidade de peças por todo o país.
De outro, fornecedores globais negam contratos, e empresas de engenharia descrevem o relacionamento como incipiente.
A única sinalização concreta veio da Horse, com a cifra de 12 mil motores, magnitude que não se alinha, por ora, à produção anual proclamada pela companhia.
Consumidor diante da incerteza
Para o comprador interessado, a divergência entre as promessas publicitárias e as negações das fornecedoras coloca em evidência a importância de checar a origem dos componentes, a existência de homologações e o estágio real do projeto industrial antes de qualquer pagamento de reserva.
Enquanto o empreendimento busca consolidar parcerias, persistem dúvidas objetivas sobre sede, cronograma, escala e contratos que sustentariam a operação anunciada.
Nessas condições, até que ponto o consumidor pode confiar em pré-vendas de veículos de uma empresa que ainda não iniciou sua produção?
A reportagem mostra realmente que não se sustenta as massivas postagem da Lecar em ter em produção seus veículos no segundo semestre de 2026.
Com uma abordagem investigativa a reportagem faz uma checagem para cada tema ou informação colocada pela Lecar.
Parabéns 👏