Geely volta ao mercado brasileiro apostando em carros elétricos e parceria inédita com a Renault. Montadora desembarca centenas de veículos e planeja produção local, acirrando a disputa entre fabricantes tradicionais e empresas chinesas.
O cenário automotivo brasileiro passa por uma transformação significativa com a volta da montadora chinesa Geely, que desembarcou recentemente 680 veículos elétricos no Porto de Paranaguá (PR), marcando seu retorno ao mercado nacional após quase uma década de ausência.
O movimento acontece em meio à intensificação da presença de fabricantes chineses no Brasil, impulsionados pela busca por novos mercados diante do acirramento da concorrência e da guerra de preços no setor automobilístico chinês.
A Geely, que também controla a Volvo, aposta em uma estratégia robusta para conquistar espaço entre os consumidores brasileiros, destacando o modelo EX5 como o principal lançamento de sua nova fase no país.
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Segundo a companhia, as vendas devem começar ainda em julho de 2025, com o veículo exposto em 22 shoppings para aproximar o público da nova tecnologia.
Além do primeiro lote, novas remessas de carros elétricos estão previstas para as próximas semanas, reforçando a intenção da marca em consolidar sua presença local.
Parceria estratégica entre Geely e Renault
A principal novidade na estratégia da Geely é a parceria com a Renault Group, tradicional fabricante francesa que opera no Brasil há mais de duas décadas.
O acordo prevê a possibilidade de produção conjunta de veículos híbridos e elétricos nas fábricas da Renault em São José dos Pinhais (PR), utilizando a infraestrutura já instalada pela marca europeia.
Segundo informações do setor, a Geely deverá se tornar acionista minoritária da Renault do Brasil, ganhando acesso a toda a cadeia de produção, vendas e serviços da francesa no território nacional.
Embora ainda dependa de aprovações regulatórias, o acordo amplia as possibilidades para que ambas as empresas atendam a um mercado cada vez mais interessado em carros elétricos e híbridos, mas que ainda enfrenta desafios relacionados à infraestrutura de recarga, preço e incentivos fiscais.
Por enquanto, não há uma data definida para o início da fabricação conjunta, mas o plano prevê que os novos modelos coexistam com a linha atual da Renault.
Avanço das montadoras chinesas no Brasil
O avanço das montadoras chinesas, lideradas por Geely, BYD e GWM, está gerando reações dentro da indústria automotiva brasileira.
A BYD, por exemplo, consolidou-se como uma das líderes no segmento de eletrificados após três anos de expansão intensa, com mais de 5% do mercado nacional em vendas no varejo, segundo dados de junho de 2025.
A empresa apresentou recentemente os primeiros veículos produzidos em sua fábrica de Camaçari (BA), incluindo o modelo elétrico Dolphin Mini e o híbrido Song Pro, ambos em fase de testes.
Esse crescimento acende um alerta entre as empresas já estabelecidas.
Segundo Igor Calvet, presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), as importações foram responsáveis por 54% do crescimento do mercado brasileiro em maio de 2025, enquanto a produção nacional recuou quase 6% no mesmo período.
A Anfavea tem atuado de forma ativa para proteger a cadeia automotiva nacional, posicionando-se contra a redução do Imposto de Importação para carros semidesmontados (SKD), defendida por parte das montadoras chinesas.
Impacto na logística e nos portos
A intensificação das importações também tem impacto direto na infraestrutura logística nacional.
O terminal de veículos do Porto de Paranaguá, administrado pelo Ascensus Group, registrou crescimento de 20% na movimentação de automóveis nos cinco primeiros meses de 2025, totalizando 41,6 mil unidades.
De acordo com Flávio Rufino, diretor de portos do grupo, Paranaguá consolidou-se como uma das principais portas de entrada para veículos importados no Brasil, acompanhando o ritmo acelerado das transações internacionais do setor.
Contexto global dos carros elétricos chineses
O avanço chinês no Brasil está inserido em um contexto global marcado por desafios como a guerra de preços no mercado chinês de veículos eletrificados, desaceleração da demanda local e aumento das barreiras comerciais internacionais.
Países como Estados Unidos e membros da União Europeia vêm adotando tarifas elevadas – de até 100% nos EUA e 45,3% na Europa – para conter o fluxo de carros chineses, levando as fabricantes a buscar alternativas na América Latina e Ásia.
Segundo Stella Li, vice-presidente global da BYD, a estratégia das empresas chinesas inclui a expansão para mercados emergentes diante das restrições cada vez maiores em outros continentes.
Apesar das dificuldades, Li afirmou que os investimentos internacionais permanecerão prioritários para as montadoras, inclusive no Brasil, onde a competição deve se intensificar nos próximos anos.
Desafios para o setor automotivo brasileiro
O retorno da Geely ao Brasil e o fortalecimento das montadoras chinesas abrem novas discussões sobre o futuro do setor automotivo nacional.
Além das preocupações com a geração de empregos e o equilíbrio dos investimentos locais, surgem desafios ligados à sustentabilidade e à adoção de novas tecnologias, especialmente diante da necessidade de ampliar a infraestrutura de recarga para carros elétricos e desenvolver incentivos que tornem esses veículos mais acessíveis à população.
Enquanto isso, o cenário econômico brasileiro adiciona uma camada de complexidade.
A taxa Selic em 15% ao ano e o aumento da inadimplência no setor automotivo têm dificultado o acesso ao crédito, impactando diretamente as vendas e o planejamento das empresas.
Geely aposta em aproximação com o consumidor
A estratégia de exposição dos veículos elétricos EX5 em shoppings de grandes cidades indica o esforço da Geely em se aproximar do público e popularizar a tecnologia dos carros eletrificados.
Com quase 700 unidades importadas apenas neste primeiro desembarque, a montadora demonstra ambição em ocupar rapidamente uma fatia relevante do mercado brasileiro.
A empresa aposta ainda na força da parceria com a Renault para garantir capilaridade e agilidade em serviços, vendas e pós-venda, aproveitando a experiência e a infraestrutura já consolidadas da marca francesa.
O futuro do mercado automotivo brasileiro
A presença cada vez mais forte das montadoras chinesas no Brasil é um reflexo das transformações globais e do movimento estratégico de expansão internacional dessas empresas.
Resta saber como a indústria automotiva nacional irá se adaptar a esse novo cenário, equilibrando inovação, competitividade e a necessidade de preservar empregos e investimentos locais.
Diante desse contexto de mudanças rápidas e disputa acirrada, você acredita que as montadoras brasileiras estão preparadas para enfrentar a concorrência dos carros elétricos chineses? Ou o mercado ainda precisará de novas estratégias para manter sua relevância diante da ofensiva internacional?