Investimentos bilionários, fábricas de chips e o primeiro distrito industrial de datacenters do país colocam o Rio Grande do Sul no centro das ambições tecnológicas brasileiras. O estado busca atrair empresas e talentos para formar um novo polo de inovação.
O Rio Grande do Sul apresentou R$ 7 bilhões em oportunidades voltadas à inovação e tecnologia, com destaque para o setor de semicondutores e para uma “cidade de datacenters” em Eldorado do Sul.
A carteira reúne 50 oportunidades de 43 empresas, dentro de uma estratégia coordenada pela Invest RS, agência de atração de investimentos do governo estadual, que abriu há três meses um escritório na região da Avenida Faria Lima, em São Paulo.
Segundo reportagem publicada pelo InfoMoney, a presença física da agência na capital paulista tem o objetivo de aproximar investidores e empresas do ecossistema gaúcho de inovação.
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O novo espaço atua como ponto de articulação de negócios e promoção de parcerias com foco em tecnologia e indústria avançada.
“Atribuímos esses anúncios, na verdade, a anos de trabalho. A novidade, agora, é que estamos em outro nível de ‘empacotamento’ das ações”, afirmou o vice-presidente da Invest RS, Eduardo Lorea, em entrevista ao InfoMoney.
Ele explicou que a estrutura em São Paulo funciona como uma “área comercial”, reunindo informações para facilitar o acesso de empresas e investidores às oportunidades do estado.
Pacote de investimentos e oportunidades
De acordo com a Invest RS, o conjunto de investimentos envolve projetos industriais, infraestrutura digital e formação de mão de obra.
O levantamento mais recente mapeou 1.151 bolsas de capacitação técnica e mais de 300 mil m² de áreas disponíveis para empresas de base tecnológica em ambientes de inovação no estado.
As condições foram desenhadas para atrair novos negócios e estimular o crescimento de startups e indústrias de tecnologia.
A iniciativa inclui também mecanismos de financiamento e fomento, com a participação de bancos de desenvolvimento e gestores privados.
Além disso, há um calendário de eventos para apresentar o ecossistema de inovação gaúcho a investidores nacionais e estrangeiros.
Fábricas de semicondutores com previsão até 2029
O projeto industrial de maior destaque é o do Grupo Tellescom, que prevê a instalação de unidades de encapsulamento de semicondutores.
O investimento inicial está estimado em cerca de R$ 1 bilhão, com a primeira fábrica prevista para até 2027 e novos aportes programados para 2028 e 2029.
De acordo com apuração do InfoMoney, o plano foi estruturado por etapas para garantir viabilidade tecnológica e logística.
Lorea afirmou que a expansão do setor depende da formação de profissionais especializados.
“O Brasil quer avançar na indústria de chips. Hoje, existem nove no país e quatro delas estão no RS. O maior gargalo para expandir as operações é a mão de obra especializada”, disse o executivo.
Ainda segundo ele, o estado mantém programas de formação de engenheiros e técnicos em semicondutores, o que, na avaliação da agência, é um fator importante para consolidar a indústria local e atrair novos investimentos.
Cidade de datacenters em Eldorado do Sul
Outro projeto anunciado é o primeiro distrito industrial de datacenters do país, que será implantado em Eldorado do Sul, com investimento estimado em R$ 3 bilhões.
A proposta, apresentada como “cidade de datacenters”, prevê infraestrutura escalável voltada a serviços digitais e aplicações de inteligência artificial.
De acordo com Eduardo Lorea, o estado oferece disponibilidade energética e temperaturas médias mais baixas do que outras regiões, o que pode reduzir custos operacionais de resfriamento.
O InfoMoney também informou que a localização próxima a redes de fibra ótica e à Região Metropolitana de Porto Alegre é considerada estratégica por empresas de tecnologia, por facilitar a instalação de provedores de nuvem e serviços corporativos de grande porte.
Ecossistema e infraestrutura de inovação
A consolidação do ambiente de inovação envolve universidades, parques tecnológicos e centros de pesquisa.
De acordo com a Invest RS, essas instituições ampliaram vagas, laboratórios e programas voltados a engenharia, computação e design de hardware.
O governo estadual também organizou informações sobre imóveis e áreas disponíveis para instalação de empresas, com o objetivo de agilizar processos e atrair startups e centros de pesquisa e desenvolvimento (P&D).
A iniciativa busca dar previsibilidade aos investidores e reduzir o tempo entre o interesse e a concretização dos projetos.
Financiamento e capital de risco
No eixo financeiro, o Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE) planeja um novo ciclo de aportes em quatro Fundos de Investimento em Participações (FIPs), com previsão de até R$ 50 milhões entre 2025 e 2026.
A prioridade é selecionar gestoras com experiência em inovação e atuação na Região Sul.
Especialistas em economia regional avaliam que a combinação de capital de risco e programas de incentivo pode fortalecer o ecossistema de inovação e ampliar a competitividade das empresas locais.
Segundo a Invest RS, a articulação entre governo, universidades e fundos de investimento busca apoiar startups em diferentes estágios — da pesquisa aplicada à expansão comercial.
Objetivo é elevar produtividade e atrair novos setores
A Invest RS tem como meta dobrar o crescimento médio do PIB gaúcho nos próximos dez anos, impulsionando setores de tecnologia e indústria de base científica.
O plano prevê estímulos à produtividade e à integração entre cadeias tradicionais e digitais.
Em entrevista ao InfoMoney, Lorea destacou que o Rio Grande do Sul possui empresas tradicionais que evoluíram para modelos inovadores, como Tramontina, Randon e Gerdau.
A estratégia, segundo ele, é ampliar esse perfil para outros segmentos industriais.
Especialistas em desenvolvimento regional apontam que a presença dessas companhias, associada à chegada de novas fábricas de chips e à expansão da infraestrutura de datacenters, tende a atrair fornecedores e gerar empregos qualificados no estado.