Embraer amplia presença no mercado de defesa dos Estados Unidos com acordo que prevê produção do A-29 Super Tucano na Flórida e uso imediato para treinamento de pilotos, acelerando a prontidão operacional em novos programas militares.
A Embraer firmou um acordo com a norte-americana Sierra Nevada Corporation (SNC) para a venda de um A-29 Super Tucano, em operação articulada antes de um futuro caso do programa de Vendas Militares ao Exterior (FMS) do governo dos Estados Unidos.
A aeronave será montada na linha de produção de defesa em Jacksonville, Flórida, e o investimento foi estruturado para permitir o início imediato do treinamento de pilotos assim que o contrato principal for adjudicado.
O valor não foi divulgado.
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Acordo nos EUA mira acelerar treinamento e entrega
Segundo as empresas, a compra antecipada tem caráter operacional.
Como a aeronave já estará disponível, a formação de tripulações poderá começar logo após a assinatura do FMS, encurtando o cronograma até a Capacidade Operacional Inicial (IOC) em até um ano.
Embora o cliente final do FMS não tenha sido informado, a estratégia reforça a presença da Embraer no mercado norte-americano de defesa e busca reduzir gargalos de disponibilidade típicos de programas internacionais.
A divulgação ocorreu em 23 de setembro, durante a Air, Space & Cyber Conference da AFA, em National Harbor, Maryland, tradicional vitrine para anúncios ligados à Força Aérea dos EUA.
A opção por apresentar o acordo nesse ambiente dá escala institucional ao movimento e evidencia o apetite por plataformas de ataque leve e ISR com custo operativo menor que o de jatos supersônicos.
Produção na Flórida e parceria consolidada
A Embraer mantém, há mais de uma década, a montagem do A-29 em território norte-americano, em um arranjo industrial com a SNC que já entregou quase 50 aeronaves a diferentes forças aéreas via contratos dos EUA e de clientes estrangeiros.
A compra atual reforça essa cadeia, preserva mão de obra especializada e ajuda a manter a cadência de produção no estado da Flórida.
Esse modelo de parceria atende a dois objetivos.
Por um lado, reduz riscos logísticos e aduaneiros para programas do governo dos EUA.
Por outro, facilita suporte, treinamento e atualizações em ciclo de vida, elementos decisivos quando se fala em plataformas de emprego intensivo em missões de vigilância, apoio aéreo aproximado e patrulha de fronteira.
O que é o A-29 Super Tucano
Classificado como aeronave de ataque leve, reconhecimento armado e treinamento avançado, o A-29 é um turboélice de dois lugares com estrutura reforçada, aviônica digital e ampla gama de armamentos guiados e não guiados.
A combinação de autonomia estendida, operação em pistas rústicas e custos de hora de voo inferiores aos de jatos táticos o tornou uma opção recorrente para missões de contrainsurgência, interceptação de baixa cota e treinamento de controladores aéreos avançados (JTAC).
No pacote de sensores, a Embraer destaca sistema eletro-óptico/infravermelho com designador a laser, compatibilidade com óculos de visão noturna, comunicações seguras e link de dados.
Esses recursos permitem identificação precisa de alvos e compartilhamento de informações em tempo quase real, integrando o A-29 a arquiteturas de comando e controle em rede.
Além do conjunto de missão, a plataforma foi desenhada para robustez e manutenção simplificada, com acesso facilitado a aviônicos e motores.
Isso é decisivo em operações a partir de bases avançadas.
Em termos de envelope de emprego, o Super Tucano executa desde treinamento tático até apoio aéreo aproximado, interdição, ISR armado e escolta, com desempenho comprovado em diversos teatros e mais de 600 mil horas de voo acumuladas.
Treinamento de pilotos e próximos passos
A SNC afirma que a aquisição antecipada permitirá mais horas de instrução para os pilotos que futuramente operarão as aeronaves do contrato principal.
Isso aumenta a prontidão das unidades que receberem o A-29.
A localização exata do treinamento não foi divulgada no anúncio.
A empresa ressalta que a disponibilidade imediata da aeronave reduz o tempo até a IOC.
Em programas anteriores mediados pelos EUA, parte expressiva da formação ocorreu em bases norte-americanas, mas as companhias não detalharam o arranjo para o novo caso.
Do ponto de vista institucional, a assinatura formal do FMS ainda depende do trâmite padrão, que inclui avaliação do Departamento de Estado e notificação ao Congresso.
Esse rito é usual em vendas militares estrangeiras e tende a demorar alguns meses, a depender do pacote de suporte, prazos de entrega e itens de tecnologia sensível.
Enquanto isso, a linha em Jacksonville segue como pilar da estratégia da Embraer para a região.
Por que o negócio importa para a Embraer
A transação reforça a imagem da Embraer como fornecedora estabelecida no mercado de defesa dos EUA.
Esse aspecto é relevante para futuras campanhas do KC-390 Millennium e para novas oportunidades do próprio A-29.
A visibilidade obtida em um palco de alto perfil, combinada à base fabril na Flórida, amplia a percepção de que a companhia consegue atender requisitos operacionais e regulatórios locais.
Esse é um diferencial em disputas com concorrentes globais.
Há, ainda, um componente de demanda.
Nos últimos anos, a procura por aeronaves de ataque leve ressurgiu, inclusive para tarefas como vigilância armada, interdição de drones e aplicação da lei em fronteiras.
Nesse nicho, o A-29 tem sido posicionado como solução de custo-eficácia com pacotes de sensores de última geração, capacidade de operar em ambientes austeros e integração com doutrinas ocidentais de comando e controle.
Capacidades que ancoram o emprego
Em cenários em que a persistência sobre a área, o custo por hora de voo e a capacidade de identificação e designação precisa fazem diferença, os sensores infravermelhos com laser, a visão noturna, o rádio criptografado e o link de dados se tornam centrais.
Ao permitir que a tripulação detecte, acompanhe e designe alvos com precisão e repasse dados de maneira segura, o A-29 sustenta operações 24/7 com menor assinatura acústica que plataformas a jato.
Isso mantém interoperabilidade com centros táticos em solo.
Enquanto isso, a possibilidade de iniciar o treinamento imediatamente após o aval ao FMS tende a acelerar a curva de prontidão das unidades que receberem o avião.
Na prática, mais pilotos entram em linha com antecedência, e comandantes conseguem planejar missões reais com tripulações certificadas.
Isso minimiza lacunas entre a entrega física da aeronave e o seu emprego operacional.
O que observar a seguir
A definição do cliente do FMS, o cronograma final e o detalhamento do pacote de suporte serão os próximos marcos a acompanhar.
Também ficará mais claro se o treinamento ocorrerá em centros nos Estados Unidos ou em instalações no país do usuário final.
Isso depende de acordos bilaterais e da disponibilidade de infraestrutura específica.
Com o pedido inicial assegurado, a Embraer e a SNC sinalizam que podem ampliar a produção de acordo com a demanda e com eventuais novos contratos intermediados por Washington.
Com a Embraer reforçando sua pegada industrial na Flórida e o A-29 consolidado como solução de ataque leve e ISR, que outras missões ou mercados devem ganhar tração para a plataforma nos próximos meses?