Geopolítica e acordos internacionais influenciam negociações bilionárias na indústria aeronáutica, afetando estratégias das maiores fabricantes do setor.
A Embraer perdeu um contrato bilionário para a Airbus, e a geopolítica teve papel decisivo nessa decisão, evidenciando como a política internacional influencia os negócios no setor aéreo.
O episódio ocorreu durante a Paris Air Show, uma das maiores feiras globais da aviação, quando a fabricante europeia superou a rival brasileira para fechar um acordo significativo com a Polônia, segundo reportagem publicada pelo site Bloomberg Línea.
Contrato bilionário da Airbus com a LOT Polish Airlines
A LOT Polish Airlines, principal companhia aérea do país, anunciou a compra de 40 jatos Airbus A220, com possibilidade de ampliar o pedido para até 84 aeronaves.
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O negócio, estimado em US$ 2,7 bilhões, já considera os descontos usuais do mercado, conforme apuração do Bloomberg Línea baseada na consultoria de aviação Ishka.
Essa escolha representa uma mudança estratégica para a LOT, que até então mantinha sua frota baseada majoritariamente em aviões da Boeing e Embraer.
Impacto da geopolítica na decisão da Embraer
A fabricante brasileira manifestou insatisfação com a decisão, apontando a influência política como fator determinante para a derrota.
“Estamos vivendo um momento excepcional em que a geopolítica desempenha um papel importante”, disse a Embraer em comunicado oficial após o anúncio da LOT.
Segundo a empresa, a continuidade da parceria com os jatos brasileiros traria economia de “milhões de euros” para a companhia aérea polonesa, o que reforça o peso da política em detrimento dos aspectos econômicos e técnicos da negociação.
Cerimônia e presença diplomática na Paris Air Show
O contexto político se tornou evidente durante a cerimônia oficial na feira parisiense.
A sala de conferências da Airbus esteve lotada de autoridades dos governos da Polônia, França e Canadá — país onde o Airbus A220 é fabricado.
Participaram do evento um ministro polonês, embaixadores e o ministro dos Transportes da França, Philippe Tabarot, que fez um discurso breve.
Esse forte engajamento diplomático evidencia que o negócio ultrapassou a simples transação comercial, assumindo um caráter político, como apontou o jornal.
Análise de especialistas sobre a influência política
Especialistas em aviação confirmam essa percepção.
Nick Cunningham, analista da Agency Partners, afirmou que “a concorrência tornou-se muito mais política do que até mesmo um pedido normal de aeronave civil”.
A aproximação entre França e Polônia, que buscam reparar relações diplomáticas anteriores, reforça essa visão.
Contexto diplomático e visita de Lula a Moscou
Outro ponto que reforça a influência geopolítica foi a visita do presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva a Moscou, em maio deste ano, para a celebração do 80º aniversário do fim da Segunda Guerra Mundial.
A viagem desagradou o governo polonês, que tem posição firme contra a invasão da Ucrânia promovida pelo presidente Vladimir Putin.
Esse episódio diplomático, destacado pelo Bloomberg Línea, contribui para o cenário que complicou o avanço da Embraer no processo de licitação.
Posicionamento da LOT Polish Airlines
O CEO da LOT, Michal Fijol, questionado sobre o possível peso da política na escolha, evitou responder diretamente.
“Não foi um processo fácil, recebemos duas ofertas muito competitivas. Mas estou satisfeito porque a Airbus nos queria mais”, limitou-se a declarar.
Influência da geopolítica no mercado de aviação
Essa negociação reforça a importância da geopolítica no mercado da aviação, onde decisões comerciais são influenciadas por alianças internacionais e posicionamentos estratégicos dos países.
O caso da LOT expõe a complexidade da competição entre fabricantes de aeronaves, que envolve mais do que preço e tecnologia, mas também o contexto diplomático em que os negócios acontecem.
Consequências para a Embraer
O acordo representa um revés para a Embraer, que vinha consolidando sua presença no mercado europeu e na frota da companhia aérea polonesa.
A possibilidade de expandir o pedido para 84 jatos Airbus A220 evidencia a intenção da LOT de substituir progressivamente os modelos brasileiros.
Isso poderá impactar a estratégia de crescimento da Embraer em uma região fundamental para o setor aéreo.
Produção local e impacto na escolha da Airbus
Além do aspecto político, o contrato com a Airbus mostra a importância da fabricação local na escolha dos clientes.
O Airbus A220, embora projeto europeu, tem montagem final no Canadá, um país com laços estreitos à França e à Polônia.
Essa relação reforça a dimensão estratégica da produção industrial na definição dos contratos internacionais.
Mercado de jatos regionais e competição entre fabricantes
A decisão da LOT também aponta para a dinâmica de transformação do mercado de jatos regionais e de porte médio, segmento no qual Embraer e Airbus disputam espaço.
Enquanto a Airbus expande sua linha com o A220, projetado para oferecer eficiência e desempenho, a Embraer enfrenta desafios para manter a competitividade em um ambiente onde fatores políticos e diplomáticos ganham peso.
Reflexos para futuros contratos internacionais
Os desdobramentos dessa escolha podem ser acompanhados por outros países que, diante de tensões geopolíticas, passam a considerar os vínculos diplomáticos na hora de renovar suas frotas aéreas.
O caso da Embraer e da Airbus deixa claro que o setor de aviação civil, mesmo sendo altamente tecnológico, não está imune às influências externas de ordem política e econômica global, conforme destaca a reportagem do Bloomberg Línea.