Na Ilha de Marajó, no Pará, policiais patrulham áreas alagadas montados em búfalos. A prática virou símbolo cultural, atrai turistas e foi reconhecida como patrimônio histórico do estado.
Na cidade de Soure, no coração da Ilha de Marajó, no Pará, a Polícia Militar encontrou uma solução tão curiosa quanto eficiente para enfrentar um dos terrenos mais desafiadores do país.
Em vez de carros, motos ou cavalos, os policiais patrulham as ruas e os campos alagados montados em búfalos asiáticos, animais fortes, dóceis e perfeitamente adaptados à lama e às águas rasas da região.
O que começou como uma necessidade prática acabou se transformando em um verdadeiro símbolo cultural da ilha e em uma das imagens mais emblemáticas da Amazônia brasileira.
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O solo pantanoso e o relevo instável do Marajó sempre dificultaram o trabalho das forças de segurança. Em determinadas épocas do ano, a maré invade ruas, pastos e trilhas, deixando o terreno quase intransitável para veículos convencionais.
Foi nesse contexto que surgiu a ideia de aproveitar um dos maiores patrimônios da região: o búfalo. Introduzido na ilha há mais de um século, o animal se tornou parte da identidade local e é usado em transporte, pecuária e, agora, em operações policiais.
O 8º Batalhão da Polícia Militar, sediado em Soure, oficializou o uso dos búfalos em 2021, mas a prática já existia informalmente há décadas.

O símbolo marajoara da segurança
A experiência se mostrou tão eficaz que a iniciativa rapidamente chamou atenção fora do Pará. Os búfalos são resistentes, suportam longas horas de deslocamento e atravessam com facilidade as áreas de várzea onde nem barcos conseguem operar adequadamente.
Os policiais recebem treinamento específico para lidar com os animais, que são preparados desde filhotes para o convívio urbano e o ambiente operacional.
Em Soure, os moradores estão acostumados a ver as duplas formadas por policial e búfalo circulando calmamente entre as ruas e as áreas rurais, compondo uma cena única que combina tradição e eficiência.
Com o passar dos anos, o patrulhamento montado em búfalos deixou de ser apenas uma necessidade logística e passou a representar o espírito da própria comunidade marajoara. O brasão do batalhão exibe a imagem do animal e, em março de 2024, o governo estadual reconheceu oficialmente o policiamento com búfalos como patrimônio cultural imaterial do Pará.
A medida consolidou a prática como parte da identidade da ilha, reforçando o elo entre segurança pública, cultura e turismo. Hoje, os visitantes que chegam a Soure costumam se surpreender com a presença dos búfalos fardados, e muitos fazem questão de fotografar a cena, algo que se tornou uma das principais atrações da região.

Além de garantir a segurança em locais de difícil acesso, a iniciativa tem ajudado a fortalecer o turismo local e a divulgar a cultura marajoara em todo o país. Reportagens da imprensa nacional destacam a simpatia dos animais e a adaptação perfeita entre a natureza e o trabalho humano.
Em um território onde o búfalo já é parte da economia e da alimentação, a patrulha policial com esses animais parece uma consequência natural. Segundo a própria corporação, a maioria dos policiais é nascida na ilha e sabe montar desde jovem, o que facilita o treinamento e o entrosamento com os animais.
Desafios, reconhecimento e legado
Apesar de todo o sucesso, o projeto também enfrenta desafios. Manter os búfalos exige cuidados específicos com alimentação, repouso e hidratação, já que eles precisam permanecer em áreas úmidas para se refrescar.
Há ainda o trabalho constante de doma e socialização para que os animais se mantenham tranquilos diante de situações urbanas e do contato com turistas. Mesmo assim, os resultados práticos e o impacto simbólico justificam o esforço: o policiamento com búfalos ampliou a presença da Polícia Militar em áreas antes inacessíveis e se tornou uma referência de integração entre natureza e segurança pública.
Mais do que um método de patrulhamento, a iniciativa simboliza a engenhosidade e a capacidade de adaptação do povo amazônico. A força da natureza, que por tanto tempo foi um obstáculo, transformou-se em aliada.
Soure, conhecida como “capital do búfalo”, agora é também lembrada como o único lugar do Brasil onde a polícia patrulha montada nesses animais, combinando tradição, eficiência e um toque de originalidade que desperta a admiração de quem visita a ilha.
O patrulhamento com búfalos em Soure é um exemplo de como o poder público pode se reinventar diante das condições extremas da Amazônia, respeitando o meio ambiente e valorizando a cultura local.
Mais do que uma curiosidade, trata-se de uma lição de convivência harmoniosa entre o homem e a natureza, uma parceria que, no Marajó, segue firme, imponente e orgulhosa, assim como os búfalos que cruzam seus campos alagados.



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