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Em meio ao “tarifaço”, China mira o Brasil com investimento bilionário visando carros elétricos, mineração e logística

Escrito por Geovane Souza
Publicado em 22/08/2025 às 14:48
Em meio ao “tarifaço”, China mira o Brasil com investimento bilionário visando carros elétricos, mineração e logística
Foto: Relatório especial da S&P Global indica que as exportações da China para o Sul Global atingiram cerca de 1,6 trilhão de dólares.
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O Brasil voltou ao centro do radar da China, com capital mirando elétricos, mineração e logística. Tarifas mais altas nos EUA e a estratégia de produzir onde se vende aceleram fábricas e projetos, com impacto direto em emprego e tecnologia.

O Brasil entrou em 2025 como um dos principais destinos de investimento direto da China, beneficiado por uma mudança global que acelera o fluxo de capital e comércio para o Sul Global. A reconfiguração ocorre enquanto os Estados Unidos elevam tarifas e reforçam barreiras, o que empurra empresas chinesas a diversificar mercados e a produzir mais perto do consumidor final.

No curto prazo, as novas tarifas de 50% dos EUA sobre produtos brasileiros abriram um contencioso na OMC. Washington aceitou as consultas pedidas por Brasília, mas invocou a exceção de “segurança nacional”, um argumento que costuma alongar prazos e reduzir a previsibilidade para exportadores.

Enquanto a disputa avança nos foros multilaterais, os dados sobre investimento chinês no Brasil mostram fôlego em áreas estratégicas. O movimento inclui logística do agro, minerais críticos e uma nova rodada de industrialização com carros eletrificados e serviços digitais.

Tarifas dos EUA e o redirecionamento de investimento chinês para o Sul Global

Relatório especial da S&P Global indica que as exportações da China para o Sul Global atingiram cerca de 1,6 trilhão de dólares, mais de 50% acima do total enviado aos Estados Unidos e à Europa Ocidental combinados. A leitura é que tarifas elevadas e incertezas regulatórias nos mercados desenvolvidos aceleram a busca por novos clientes e cadeias de valor em economias emergentes.

Nesse cenário, o Brasil ganhou tração como destino de capital. O China Global Investment Tracker, do American Enterprise Institute, aponta que Indonésia e Brasil lideraram a recepção de investimentos chineses no primeiro semestre de 2025, sinalizando uma diversificação que vai além dos projetos clássicos de infraestrutura pesada.

A movimentação também aparece nas estatísticas de fusões e aquisições. Levantamento da Mergermarket mostra que o volume de M&A chinês no Brasil em 1S25 subiu 64% e alcançou cerca de 1,7 bilhão de dólares, o maior nível para um primeiro semestre desde 2017, com foco em logística, energia e mineração.

Onde o dinheiro chinês está indo no Brasil: logística do agro e minerais críticos

Na logística do agronegócio, a COFCO se tornou um caso emblemático. A companhia estruturou um novo terminal de granéis no Porto de Santos e, em parceria operacional com a Rumo, anunciou R$ 1,2 bilhão para 979 vagões e 23 locomotivas, reforçando o escoamento de soja, milho e açúcar por ferrovia, com ganhos de produtividade e redução de emissões.

Na mineração, níquel, cobre e outros metais ligados à transição energética estão no centro da estratégia. Em fevereiro, a Anglo American firmou acordo para vender seu negócio de níquel no Brasil para a MMG por até 500 milhões de dólares, incluindo os complexos de Barro Alto e Codemin em Goiás e projetos de desenvolvimento no Pará e em Mato Grosso. O desinvestimento da Anglo e a compra pela MMG ampliam a presença chinesa em metais para baterias.

No cobre, a Baiyin Nonferrous concluiu em abril a aquisição da Mineração Vale Verde, dona da mina Serrote em Alagoas, por 420 milhões de dólares. O ativo fornece concentrado de cobre, insumo crítico para redes elétricas e veículos eletrificados, e reforça o corredor de mineração no Nordeste.

O fio condutor desses projetos é claro. Segundo o CGIT e análises setoriais, a China combina acesso a recursos naturais com capilaridade local para reduzir riscos de tarifa, logística e governança. Para o Brasil, isso significa capital novo em infraestrutura e mineração, desde que com contrapartidas e controles adequados.

Carros elétricos e serviços digitais: produção local e “guerra do delivery”

A aposta em produção local ficou nítida com a inauguração da fábrica da GWM em Iracemápolis, São Paulo, em 15 de agosto. A planta foi aberta com presença de autoridades do governo brasileiro e projeta capacidade de 20 mil a 50 mil veículos/ano, iniciando com Haval H6, H9 e a picape Poer. Produzir no Brasil reduz exposição a tarifas e encurta cadeias de suprimentos.

A BYD avança na Bahia. A empresa iniciou a montagem por CKD em 2025 e prevê operação plena até fim de 2026, após revisões de cronograma. O projeto no antigo complexo da Ford inclui capacidade planejada de até 150 mil veículos anuais em fases e integra a estratégia de nearshoring para o mercado brasileiro.

Outro vetor é a Geely, que firmou parceria com a Renault no Paraná. O acordo prevê que a Geely detenha 26,4% da nova joint venture, com foco em modelos de baixas emissões e uso da rede de distribuição da Renault no país. O objetivo é acelerar conteúdo local e reduzir custo logístico.

Nos serviços digitais, a disputa ficou mais intensa com a chegada da Meituan, que anunciou R$ 5,6 bilhões para lançar a Keeta no Brasil, e com o relançamento do 99Food pela DiDi. As duas empresas, ambas chinesas, já travam disputas judiciais em São Paulo por marca e supostas práticas anticoncorrenciais, o que mostra o tamanho da aposta no mercado de delivery local.

Investimentos da China no Brasil oferecem oportunidades, mas também riscos

Para a economia brasileira, a combinação de investimento produtivo com demanda por fornecedores locais pode gerar empregos qualificados, difusão tecnológica e aumento de exportações de autopeças, software embarcado e equipamentos. A S&P Global avalia que o eixo Sul Sul tende a ganhar peso estrutural, o que favorece países com grande mercado, base industrial e projetos de infraestrutura.

Há, porém, riscos a monitorar. Especialistas alertam para dependência de insumos críticos e para diferenças de padrões técnicos em relação a EUA e União Europeia, que podem dificultar a compatibilidade regulatória de produtos brasileiros. Políticas de conteúdo local com metas claras, convergência técnica e programas de P&D ajudam a mitigar esses riscos.

O tema compliance trabalhista ganhou destaque com a investigação de trabalho análogo à escravidão em obras ligadas à fábrica da BYD na Bahia, que resultou em rompimento com uma subcontratada e em ações de autoridades brasileiras. A empresa nega irregularidades e afirma seguir as leis locais, mas o episódio reforça a necessidade de governança rígida em grandes canteiros.

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Geovane Souza

Geovane Souza é especialista em criação de conteúdo na internet, ações de SEO e marketing digital. Nas horas vagas é Universitário de Sistemas de Informação no IFBA Campus de Vitória da Conquista.

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