Em entrevista, o secretário do Tesouro defende agenda de ajuste e diz que trajetória da dívida depende de juros menores e disciplina fiscal.
O secretário do Tesouro avaliou que a economia brasileira caminha para um “pouso suave”, com desaceleração da atividade e inflação convergindo às metas cenário que, segundo ele, abre espaço para aliviar a política monetária adiante. Ao mesmo tempo, reforçou que a dívida pública só deve se estabilizar por volta de 2035, caso o país mantenha resultado primário melhor e conte com juros mais baixos. As declarações foram dadas em entrevista publicada pelo UOL.
Ainda segundo o secretário do Tesouro, o país precisará discutir uma nova reforma da Previdência a partir de 2027, diante do envelhecimento populacional e das pressões sobre o Orçamento.
“É um tema inadiável”, resumiu, ao defender que a conversa envolva parâmetros como tempo de contribuição, idades e regras especiais.
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Soft landing com desemprego baixo e inflação em queda
O secretário descreveu o momento atual como desaceleração suave, com serviços ainda sustentando a atividade e o mercado de trabalho em patamar considerado saudável.
Para ele, “manter desemprego ao redor de 5%–6%” é compatível com expectativas de inflação se aproximando do centro da meta combinação rara e positiva, na visão do Tesouro.
Ele pontuou que a política monetária já cumpriu o papel de frear a inflação, e que o ambiente externo, com sinais de arrefecimento nos EUA e perda de fôlego das commodities, ajuda a desinflacionar.
Mas evitou cravar datas para cortes de juros, dizendo que o Banco Central “saberá o momento”. A entrevista foi conduzida pelo UOL.
Dívida em alta e estabilização só na próxima década
Questionado sobre o avanço da dívida/PIB, o secretário do Tesouro reconheceu que a alta dos juros elevou rapidamente o custo do endividamento mais da metade da dívida é atrelada à Selic e que a normalização deverá ser gradual.
“Quando a Selic foi a 15%, o impacto é imediato na dívida; é temporário, mas forte”, disse.
Do lado fiscal, ele argumentou que o país vem revertendo a década de déficits e “brigando com o zero” no primário.
Para estabilizar a dívida, estimou que algo na vizinhança de 1% do PIB de superávit seria suficiente no cenário de médio prazo, desde que os juros recuem. O diagnóstico e as condicionantes foram expostos ao UOL.
2027 em diante: Previdência, gasto tributário e regras de despesa
O secretário do Tesouro defendeu que, passado 2026, o país terá de enfrentar despesas obrigatórias e gastos tributários com mais rigor.
“Precisa continuar melhorando; não basta não piorar”, afirmou, citando a necessidade de governança sobre benefícios fiscais e de reavaliar dinâmicas de gasto que crescem acima do possível.
Sobre Previdência, ele foi direto: o envelhecimento exige novas calibragens. As alternativas incluem mexer em parâmetros (idade/tempo) e regras específicas; o formato passará por negociação política.
Em paralelo, disse que políticas de renda como salário mínimo devem buscar equilíbrio entre impacto social e sustentabilidade orçamentária, tema também tratado ao UOL.
Política fiscal: contração no 1º semestre e neutralidade agora
Na avaliação do Tesouro, não há impulso fiscal adicional pressionando preços neste momento. O secretário lembrou que o 1º semestre foi “o mais restritivo possível” para ajudar a convergência da inflação e que, mesmo com alguma liberação no 2º semestre, o quadro segue sem estímulos líquidos.
Ele reforçou que o alívio na inflação corrente e nas expectativas aumenta a probabilidade de condições financeiras menos restritivas adiante.
“Os vetores apontam para um horizonte benigno de preços”, disse, mantendo tom cauteloso sobre o timing do BC. Trechos foram destacados pelo UOL.
Salário mínimo e indexações: como equilibrar social e fiscal
Perguntado sobre a política de valorização do mínimo, o secretário do Tesouro reconheceu o forte impacto social redução de pobreza e desigualdade, mas ressaltou a necessidade de compatibilizar ganhos reais com o arcabouço fiscal.
“É possível manter, ainda que com ajustes”, afirmou, desde que combinado a medidas compensatórias para preservar a trajetória da dívida.
Ele citou que a regra atual já limita o ganho real ao teto das despesas (até 2,5% ao ano), o que modera pressões sobre Previdência e benefícios atrelados.
O debate seguirá em 2027, na mesma agenda que incluirá Previdência e revisão de gastos. As posições constam na entrevista ao UOL.
Próximos passos: bimestral “sem sobressaltos” e foco na execução
Sobre o Relatório Bimestral de Receitas e Despesas, o secretário do Tesouro antecipou ausência de mudanças substanciais em relação ao quadro anterior.
“Recado de tranquilidade”, resumiu, indicando manutenção do bloqueio perto de R$ 10,7 bilhões e ajustes marginais, conforme relatado ao UOL.
Para 2025–2026, o plano é entregar as metas fiscais e proteger a queda da inflação com coordenação entre fiscal e monetária, preparando o terreno para a agenda estrutural de 2027 Previdência, gastos tributários e regra de despesas que, na visão do Tesouro, ancora a estabilização da dívida até 2035.
O que deve vir primeiro: nova Previdência, revisão de benefícios fiscais ou mudanças no mínimo? Na sua opinião, o recuo dos juros será suficiente para conter o impacto nos preços de serviços e segurar a dívida? E qual ajuste você considera politicamente viável em 2027?
Conte nos comentários como isso afeta sua empresa, sua carreira ou seus investimentos queremos ouvir quem vive essa agenda no dia a dia.