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Em 2016, um negócio de US$ 1,7 bilhão pelas minas brasileiras de nióbio e fosfato selou a disputa entre a expansão da chinesa CMOC e a retração da Anglo American

Publicado em 26/06/2025 às 15:54
Atualizado em 28/06/2025 às 22:45
O avanço chinês sobre as minas brasileiras de nióbio e fosfato
O avanço chinês sobre as minas brasileiras de nióbio e fosfato
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Entenda como a compra dos ativos da Anglo American pela estatal chinesa CMOC, em 2016, reconfigurou o controle de minerais estratégicos no Brasil

Em uma das transações mais importantes do setor de mineração brasileiro, a empresa de capital misto chinês CMOC adquiriu o controle de grandes minas brasileiras de nióbio e fosfato. O negócio, fechado com a gigante Anglo American em 2016, foi um movimento estratégico que reflete a expansão global da China para garantir o controle de recursos minerais críticos para sua indústria e para a segurança alimentar.

A aquisição, que superou a casa de US$ 1,5 bilhão, posicionou a CMOC como a segunda maior produtora mundial de nióbio e uma das principais fornecedoras de fertilizantes fosfatados no Brasil. A operação foi o resultado de duas estratégias opostas: a de uma empresa europeia em crise, forçada a vender ativos, e a de uma potência chinesa em plena ofensiva global.

A transação bilionária de 2016

O acordo de venda foi anunciado oficialmente em 28 de abril de 2016. A CMOC superou a concorrência de pelo menos 15 outras empresas para adquirir 100% das operações de nióbio e fosfatos da Anglo American no Brasil. A transação foi concluída em 30 de setembro do mesmo ano, com um pagamento final que chegou a aproximadamente US$ 1,7 bilhão, um valor que, na época, foi considerado 50% acima das expectativas do mercado.

O pacote de ativos adquirido pela CMOC foi robusto e incluía:

A Mina Boa Vista, em Catalão (GO), uma das maiores operações de nióbio do mundo.

A Mina Chapadão, em Ouvidor (GO), uma importante fonte de rocha fosfática.

Complexos químicos industriais para a produção de fertilizantes em Catalão (GO) e Cubatão (SP).

Por que a Anglo American vendeu suas minas brasileiras de nióbio e fosfato?

O negócio de US$ 1,7 bilhão pelas minas brasileiras de nióbio e fosfato que selou a disputa entre a expansão da chinesa CMOC e a retração da Anglo American

A decisão da Anglo American de sair desses negócios no Brasil foi uma medida defensiva. A mineradora, com sede em Londres, enfrentava uma severa crise global, causada pela queda acentuada no preço das commodities. Suas ações chegaram a despencar 70% em 2015, colocando a empresa sob enorme pressão para reduzir seu endividamento.

Como resposta, o CEO Mark Cutifani anunciou um plano de “reestruturação radical”. A estratégia era vender mais da metade de suas minas para focar em apenas três commodities consideradas mais valiosas: cobre, diamantes e metais do grupo da platina. As minas brasileiras de nióbio e fosfato, embora lucrativas, não se encaixavam mais nesse foco estratégico e se tornaram uma oportunidade para gerar caixa rapidamente.

A ofensiva da CMOC, garantindo recursos para a indústria e o agronegócio

Enquanto a Anglo American se retraía, a CMOC estava em plena expansão. Para a empresa chinesa, a aquisição foi uma jogada de dupla finalidade. A compra do negócio de nióbio foi vista como uma “adição estratégica importante”, pois o metal é um insumo crítico para a produção de aços especiais, vitais para a indústria de alta tecnologia da China.

Ao mesmo tempo, a aquisição das operações de fosfatos permitiu à CMOC uma diversificação para o mercado de fertilizantes, garantindo uma posição relevante no fornecimento para o poderoso agronegócio brasileiro. A compra não foi um ato isolado. No mesmo ano, a CMOC também adquiriu uma gigantesca mina de cobre e cobalto na República Democrática do Congo, mostrando uma estratégia global e coordenada para dominar mercados de minerais essenciais.

O sucesso operacional e conflitos locais

Após a compra das minas brasileiras de nióbio e fosfato, a CMOC Brasil demonstrou uma gestão eficiente. A empresa aumentou a produção de nióbio em mais de 50%, atingindo recordes históricos, e se consolidou como a segunda maior produtora de fertilizantes fosfatados do país.

A companhia também investe em uma forte agenda de sustentabilidade, com certificações internacionais e projetos sociais nas cidades de Catalão e Ouvidor. No entanto, a aquisição não eliminou problemas antigos. A região possui um histórico de conflitos socioambientais, com denúncias de comunidades locais sobre disputas de terras e impactos da mineração. Essa tensão entre a narrativa corporativa e a realidade local representa um desafio contínuo para a empresa.

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Maria Heloisa Barbosa Borges

Falo sobre construção, mineração, minas brasileiras, petróleo e grandes projetos ferroviários e de engenharia civil. Diariamente escrevo sobre curiosidades do mercado brasileiro.

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