O neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis teve sua ideia de interface cérebro-máquina roubado por um de seus alunos, que posteriormente veio a ser comprada pelo bilionário Elon Musk
Nos últimos anos, o nome de Elon Musk passou a ser associado a de um empresário visionário que aposta em negócios arriscados, mas igualmente revolucionários e polêmicos. Além de empresas conhecidas mundialmente como a SpaceX e Tesla, o bilionário sul-africano também é dono da Neuralink, empresa de neurotecnologia.
Apesar de todos os créditos irem para Elon Musk, o projeto Neuralink foi completamente baseado em um estudo do médico e neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis, considerado mundialmente um dos pioneiros na pesquisa da relação entre o cérebro e a máquina.
Assista a entrevista do brasileiro que teve a ideia do Neuralink no canal do Youtube Ciência Todo Dia
Hoje, a Neuralink é uma empresa bilionária, sendo uma das grandes apostas do empresário para os próximos anos. Apesar de pouco avanço em humanos, Musk acredita que a empresa mudará de uma vez por todas a nossa relação com equipamentos eletrônicos e a internet.
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Todavia, precisamos explicar quem é Miguel Nicolelis e qual a sua relação com o surgimento da Neuralink.
Quem é Miguel Nicolelis
Trata-se de um médico e cientista brasileiro que ganhou fama e reconhecimento mundial pelos seus feitos na neurociência, com especialidade em pesquisas a respeito da interface cérebro-maquina, auxiliando na reabilitação de pessoas com dificuldades de locomoção e até paraplégicos.
Miguel se formou em medicina pela Universidade de São Paulo, onde também fez doutorado em ciências. Após esse período no Brasil, ele foi para os Estado Unidos estudar fisiologia e biofísica na Universidade de Hahnemann.
O brasileiro se destacou em terras americanas, se tornando professor titular de neurobiologia e engenharia biomédica na Universidade de Duke. Foi lá que ele liderou uma equipe de pesquisadores no desenvolvimento de exoesqueletos robóticos controlados por sinais cerebrais, algo completamente inovador e nunca visto no meio científico até aquele momento.
Em 2014, na abertura da Copa do Mundo do Brasil, Nicolelis liderou o projeto chamado Andar de Novo, que desenvolveu um exoesqueleto robótico controlado totalmente por atividades cerebrais.
Na ocasião, Juliano Pinto, de 29 anos de idade, entrou em campo, na Arena Corinthians, para dar o chute simbólico de início do mundial usando um exoesqueleto e controlado totalmente por atividades cerebrais.
Apesar de passar na TV por apenas alguns segundos, o mundo começou a entender que seria possível realizar ações antes inimagináveis só com a força do pensamento. Talvez esse tenha sido o pontapé inicial para Elon Musk investir pesado neste segmento.
O que faz a Neuralink
Já a Neuralink é uma empresa de neurotecnologia fundada por Elon Musk, em 2016. Diferentemente dos estudos de Nicolelis, a empresa de Musk desenvolve interfaces que conectam diretamente o cérebro humano aos sistemas eletrônicos.
A ideia da Neuralink é permitir a comunicação dos humanos com máquinas de forma mais rápida e eficiente. A principal diferença é que a Neuralink quer fazer essa conexão com a implantação de um chip diretamente no cérebro.
Por fim, essa conexão se bem sucedida, permitira que as pessoas enviem e recebam informações através do chip, possibilitando o controle de todos os tipos de dispositivos eletrônicos, como celulares, computadores, TVs e muito mais.
Como Miguel Nicolelis influenciou a criação da Neuralink
Os estudos liderados por Miguel Nicolelis foram fundamentais para a criação da empresa do bilionário sul-africano. De forma controversa e indireta, a Neuralink usou boa parte das descobertas do cientista brasileiro, apresentando tudo isso como algo inovador e revolucionário desenvolvido pela empresa de Elon Musk.
Entretanto, em 2003, Miguel tornou público os resultados dos seus trabalhos comprovando a viabilidade de interfaces que possibilitam a comunicação direta entre o cérebro humano e máquinas, como robôs e eletrônicos.
Ou seja, foi com a publicação dos resultados de Nicolelis que o mundo soube que era possível controlar os movimentos, enviar e receber sensações por meio de sinais elétricos enviados e recebidos pelo cérebro.
A ideia de Nicolelis é que seja possível ajudar pessoas com pouca ou nenhuma mobilidade a recuperar a sensibilidade e até voltar a andar com auxílio de exoesqueletos. Dessa forma, somente em pensar em mexer o braço, o exoesqueleto iria realizar esse movimento.
Como Miguel Nicolelis é um dos precursores e referências quando se fala em interfaces cérebro-máquina, ex-alunos do brasileiro se juntaram a criaram a Neuralink.
Diferentemente do que se fala na imprensa, a Neuralink foi criada anteriormente a entrada de Elon Musk. Em entrevista ao Flow Podcast, em 2022, Miguel detalhou que foram os seus ex-alunos que criaram a empresa, com Elon Musk entrando no projeto tempos depois do surgimento da mesma.
Nicolelis crítica a Neuralink de Elon Musk
Em participação no podcast Ciência sem Fim, com apresentação de Sérgio Sacani, Nicolelis deu mais detalhes sobre a empresa de Musk. Além disso, ele detalhou como surgiu a descobertas sobre a experiência cérebro-máquina.
Miguel não poupou críticas a Neuralink, afirmando que ele já tinha publicado os mesmos estudos há mais de 20 anos, e que a proposta de Elon Musk não representa nenhuma novidade a respeito da ciência e inovação.
“Eles estão copiando o que fiz há 20 anos, mas de uma forma muito pior, muito mais rudimentar, muito mais perigosa”, reclamou o pesquisador. Além do mais, o cientista detalhou que a Neuralink não possui base cientifica no que está prometendo.
“Eles não têm nenhuma base científica para o que estão prometendo. A Neuralink não têm nenhum dado, nenhum resultado, nenhum experimento”, disse.
O pesquisador brasileiro também criticou o fato de Elon Musk prometer que a Neuralink será usada para conectar o cérebro humano a internet. Segundo Miguel, essa ideia não é ética, já que pode manipular as pessoas e até invadir a privacidade, por exemplo.
O principal alvo de críticas do pesquisador é o fato da Neuralink querer implantar diretamente o chip no cérebro das pessoas. Ele destacou que existe um grande risco de infecção, sem falar que não tem como se comprovar a eficácia e a segurança dos dispositivos a longo prazo.
“Eles estão arriscando muito. A Neuralink está mexendo com o órgão mais complexo e mais sagrado. Eles estão colocando em risco a individualidade, a privacidade, a liberdade e a dignidade das pessoas”, disse.
Miguel Nicolelis critica Elon Musk
O pesquisador também fez críticas diretas ao bilionário sul-africano. Para Miguel, o empresário não entende nada sobre neurociência e a sua empresa não tem base cientifica para cumprir o que está prometendo.
O brasileiro também destacou que o fato de Musk fazer promessas que são perigosas e muito difícil de se cumprir, podendo criar uma imagem negativa em relação à neurociência, prejudicando todo um setor que vem trabalhando há décadas para um maior reconhecimento.
Quais os principais desafios da Neuralink no futuro
Como se trata de uma das tecnologias mais controversas dos últimos tempos, o sucesso desse projeto dependerá de vários fatores, como: confiança, segurança e preço.
Um dos principais desafios do chip de Elon Musk é o fato do procedimento necessitar de uma ação cirúrgica. Quem é que em sã consciência passará por uma cirurgia complexa e cara para ter um chip na sua cabeça com grandes chances de gerar problemas de saúde?
O processo de implantação será realizado por robôs altamente treinadores da própria Neuralink. Esse robô irá operar agulhas tão minúsculas que se tem dificuldade para enxergá-las a olho nu. Até hoje, nenhum ser humano foi testado com o chip da empresa de Musk.
Perigos de ataque hacker
Como o chip é um equipamento elétrico e conectado a rede, ele pode sofrer ataques hackers e causar danos a própria pessoa. Imagina se esse chip é usado por uma pessoa mal intencionada para direcionar ações do individuou.
Além disso, outros problemas modernos certamente estarão presentes na nova tecnologia. Mesmo com a empresa garantindo que está trabalhando incansavelmente para garantir o máximo de segurança possível, certamente, bandidos estarão tentando formas para acessar informações enviadas no chip para cometer ações ilícitas.
Barreira da religião
Outro grande problema que o chip do Elon Musk certamente vai encontrar para crescer no mercado é a barreira religiosa em todo o mundo.
A possibilidade de instalar um chip no corpo humano é algo muito mal visto para várias religiões. Exceto caso que seja realmente muito necessário, muitas pessoas irão preferir algo menos invasivo.
Possíveis problemas de saúde
Segundo Nicolelis, os pesquisadores da Neuralink levaram a morte de 17 de 23 macacos utilizados para testes nos laboratórios da empresa. Por conta disso, é fácil de se imaginar que o corpo humano pode não aceitar muito bem esse chip.
E em caso de problemas de saúde em massa nos clientes, grandes processos podem ser abertos, levando a falência financeira do projeto por conta das indenizações que precisarão ser pagas pela Neuralink.
Preço
Como o principal mercado consumidor do Neuralink é os Estados Unidos, certamente, o preço para implementar um sistema desse vai ser muito caro, limitando o público-alvo ainda mais.
Inicialmente, é esperado que o preço seja muito alto, onde apenas empresários muito ricos e celebridades irão conseguir implementar. Após o amadurecimento da ideia, é esperado que o preço comece a cair gradativamente.
Como os Estados Unidos são conhecidos por ter um dos sistemas de saúde mais caros do mundo, implementar um chip que pode causar sérios problemas de saúde e diversas idas ao médico pode não ser uma boa ideia.
Por fim, a Neuralink é uma tecnologia que pode ser muito útil para pessoas que possuem problemas de saúde. Por conta disso, é muito difícil dizer se ele será ou não um sucesso comercial.
De qualquer forma, os brasileiros agora sabem que esse projeto inovador contem uma grande influência de um cientista do estado de São Paulo. Miguel Nicolelis investiu anos de estudos para criar uma tecnologia que pode melhorar a vida das pessoas de maneira responsável e segura e sem riscos à saúde.