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Elon Musk domina a órbita — mas acaba de lançar satélites de um rival e já sabemos o motivo: o espectro de rádio

Publicado em 15/08/2025 às 21:06
SpaceX, Starlink, Elon Musk, Órbita
Imagem ilustrativa: IA
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Em marco histórico, Falcon 9 coloca satélites rivais em órbita e expõe a complexa relação comercial entre SpaceX e Amazon no mercado espacial

Na manhã de segunda-feira, a SpaceX alcançou um marco histórico: o 100º lançamento do ano. O foguete Falcon 9, no entanto, não levou novos satélites Starlink, mas sim 24 satélites de um concorrente direto.

O lote fazia parte do Projeto Kuiper, da Amazon, que agora divide espaço orbital com a megaconstelação de Elon Musk.

A cena, impensável há alguns anos, levanta a questão: como dois rivais declarados, Musk e Jeff Bezos, chegaram a colaborar no espaço?

A Starlink vem operando quase sem concorrência desde o seu início, há seis anos. Nesse período, a SpaceX colocou mais de 8.000 satélites em órbita, consolidando uma posição de domínio no mercado de internet via satélite de alta velocidade.

O cenário começou a mudar com a entrada da Amazon, que aposta no Projeto Kuiper para disputar o mesmo público.

A proposta da empresa de Jeff Bezos é lançar uma rede global de satélites para oferecer conexões rápidas e estáveis, competindo diretamente com a Starlink.

O desafio do prazo apertado

O maior obstáculo para o Kuiper é o tempo. A licença concedida pela Comissão Federal de Comunicações dos EUA (FCC) exige que metade da constelação — 1.618 satélites de um total de 3.232 — esteja em órbita até julho de 2026.

Diferente da SpaceX, que fabrica e lança seus próprios foguetes, a Amazon depende de terceiros. Para cumprir o prazo, fechou, em 2022, contratos com a ULA para usar os foguetes Atlas V e Vulcan, com a Arianespace para o Ariane 6 e com a Blue Origin para o New Glenn. Porém, a maioria desses lançadores sofreu atrasos, criando incertezas no cronograma.

Um acordo por necessidade

Apesar das resistências internas, Bezos não conseguiu impedir a Amazon de recorrer à SpaceX. O Falcon 9, com seu histórico de reutilização e custo por quilo lançado mais baixo do mercado, se mostrou a opção mais viável financeiramente.

A SpaceX já havia lançado satélites de concorrentes antes. Entre 2022 e 2024, colocou em órbita lotes da Eutelsat OneWeb, após a invasão da Ucrânia inviabilizar o uso dos foguetes russos Soyuz e Proton.

Além do lucro direto, esses contratos permitem que Musk reinvista em sua própria rede de satélites.

O jogo do espectro de rádio

Mas há uma motivação estratégica por trás dos lançamentos. O espectro de rádio, recurso limitado e essencial para transmissões sem fio, é cada vez mais disputado.

Governos, por meio de agências como a FCC, controlam sua distribuição.

Segundo o Wall Street Journal, a SpaceX teria usado sua posição dominante para negociar vantagens no espectro em troca de lançamentos.

O jornal aponta que empresas como OneWeb e Kepler Communications teriam cedido parte de seus direitos de uso para garantir espaço nos foguetes de Musk.

A SpaceX nega, mas o caso da OneWeb chama atenção. Sem acesso a foguetes russos, a empresa fechou acordo com a SpaceX que incluía concessões no espectro.

Uma teia difícil de escapar

Essa estratégia coloca concorrentes em posição delicada. Como descreveu o analista Tim Farrar, trata-se de “escolher com cuidado”. Empresas como EchoStar e Globalstar tiveram de decidir entre aceitar condições impostas pela SpaceX ou pagar mais por lançamentos mais lentos com outras operadoras — quando disponíveis.

A AST SpaceMobile, por exemplo, apostou no New Glenn da Blue Origin, mas viu o foguete atrasar. Além disso, seus satélites ficaram mais pesados do que o previsto, aumentando a dificuldade de encontrar alternativas de lançamento.

O episódio com a Apple

Em 2022, Musk chegou a oferecer à Apple exclusividade na SpaceX por US$ 5 bilhões, mas a proposta foi recusada. A Apple firmou parceria com a Globalstar para seu serviço de emergência via satélite.

Mesmo assim, atrasos nos lançamentos da Globalstar pela SpaceX acabaram beneficiando a Starlink. Pouco depois, a Apple fechou acordo para oferecer o Starlink Direct-to-Cell no iPhone 13, modelo incompatível com a rede da Globalstar.

O movimento deu vantagem competitiva à SpaceX no setor de comunicação via celular, enquanto a Apple ainda avaliava sua capacidade de acompanhar o ritmo da empresa de Musk.

Uma gigante que cresce sem parar

Cada lançamento de satélites concorrentes, cada negociação sobre espectro, acaba reforçando o domínio da Starlink.

A SpaceX lucra com serviços prestados, alimenta seu caixa e, ao mesmo tempo, garante acesso privilegiado ao recurso mais importante para a comunicação global do futuro.

Com receitas projetadas para superar o orçamento da NASA, a empresa de Elon Musk não apenas dita o ritmo da corrida espacial comercial, mas também molda as regras pelas quais os rivais precisam jogar.

O lançamento dos satélites do Projeto Kuiper é mais um capítulo dessa disputa, onde cada passo dado por Bezos e outros concorrentes pode, no fim, fortalecer ainda mais o império de Musk no espaço.

Com informações de Xataka.

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Romário Pereira de Carvalho

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