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Eletrobras surpreende: de estatal inchada a gigante privada que lucra bilhões

Escrito por Noel Budeguer
Publicado em 01/10/2025 às 17:30
Eletrobras
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A Eletrobras, maior elétrica da América do Sul, busca consolidar-se após a privatização de 2022. Com cortes de custos, venda de ativos e lucro recorde, ainda enfrenta riscos políticos e pressão do mercado

A Eletrobras, maior concessionária de energia elétrica da América do Sul, atravessa um processo de transformação que simboliza os desafios da privatização no Brasil.

Com hidrelétricas e linhas de transmissão capazes de abastecer até 75 milhões de lares, a companhia que já foi sinônimo do “milagre econômico” brasileiro hoje se apresenta como um estudo de caso sobre as dificuldades – e oportunidades – de desatar o nó da burocracia estatal.

O desafio de virar a página da estatização

Desde que o governo federal abriu mão do controle majoritário em 2022, a empresa vive uma fase de reestruturação intensa.

A nova administração, comandada pelo ex-CEO da Petrobras e ex-CFO do Banco do Brasil, Ivan Monteiro, e por executivos oriundos do setor financeiro e de energia, busca modernizar processos, reduzir custos e devolver previsibilidade a um negócio que acumulava, ao longo das décadas, ativos tão improváveis quanto hospitais, cinemas, hotéis e até um aeroporto.

Essa herança explica parte da ineficiência que marcou a trajetória recente da estatal. As unidades operavam quase isoladas, sem integração real com a holding, o que comprometia resultados e atrasava a consolidação de balanços.

Mas sinais de recuperação começam a surgir. Após anunciar crescimento robusto de receita em agosto de 2025 e pagar dividendos atrativos, a companhia viu suas ações ultrapassarem o preço de oferta da privatização, fixado em R$ 42.

“Imagine administrar uma empresa como esta logo após a privatização, com investidores exigindo resultados imediatos”, afirmou Monteiro em entrevista. “O que importa é a direção. Estamos mais saudáveis do que antes e nossos acionistas compreendem o horizonte de longo prazo.”

UHE Tucuruí (PA), inaugurada em 1984, integra o portfólio histórico da Eletrobras. Símbolo das grandes obras estatais, hoje faz parte do desafio de modernização e eficiência da companhia privatizada

Reestruturação e corte de custos

Desde setembro de 2023, Monteiro lidera uma estratégia agressiva de redução de gastos. De acordo com os relatórios financeiros, os custos operacionais caíram 18% e o quadro de funcionários foi reduzido em 17%. Parte dos ativos considerados não estratégicos foi vendida, como usinas termelétricas a gás repassadas para a Ambar Energia.

A mudança também é cultural: a companhia trocou o antigo prédio de escritórios no Rio de Janeiro por uma sede moderna, com espaços compartilhados, na tentativa de enterrar o estilo hierárquico e burocrático herdado do período estatal.

O CFO Eduardo Haiama, ex-Equatorial Energia, não esconde que novos desinvestimentos virão. “Se dependesse de mim, venderíamos tudo”, disse ele, destacando o interesse em se desfazer de participações minoritárias avaliadas em mais de R$ 30 bilhões.

Ativos incomuns e herança histórica

Criada em 1962, a Eletrobras foi motor do crescimento brasileiro entre as décadas de 1960 e 1970, quando o país chegou a registrar expansão anual acima de 10%. Para erguer hidrelétricas como Furnas ou o Complexo Paulo Afonso, construiu cidades inteiras. Essa epopeia explica seu patrimônio inusitado.

Em São José da Barra (MG), por exemplo, a companhia ainda é dona de aeroporto, hotéis e um cinema. Um dos hotéis e o aeroporto hoje são usados pela Marinha do Brasil, mas os demais imóveis estão em processo de venda.

Já o hospital erguido na Bahia para apoiar a obra do Complexo Paulo Afonso foi doado, em 2024, a uma universidade local.

O peso da política e o olhar dos investidores

Apesar dos avanços, a saída da sombra estatal continua incompleta. O governo federal ainda detém cerca de 45% das ações, com direito especial de voto que mantém influência relevante sobre a companhia.

Recentemente, a gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ampliou sua presença no conselho, aumentando a percepção de risco político.

“A Eletrobras ainda não é tratada pelo mercado como uma empresa privada”, analisa Vitor Sousa, da Genial Investimentos.

“Isso só deve ocorrer se houver queda nos juros, manutenção da estratégia de desestatização e menor interferência política.”

No ano fiscal de 2024, a companhia registrou lucro líquido de R$ 10,4 bilhões, contra R$ 3,6 bilhões em 2022, ano da privatização. Ainda assim, o pagamento de dividendos – R$ 4 bilhões no último exercício – não deve se repetir com a mesma intensidade, segundo Monteiro.

O executivo reforça que o equilíbrio entre retorno imediato aos acionistas e investimentos de longo prazo será crucial.

Privatizações na região e a disputa de modelos

A experiência da Eletrobras é acompanhada de perto por vizinhos latino-americanos. Na Argentina, o presidente Javier Milei promete uma ampla agenda de privatizações.

No Brasil, o governador paulista Tarcísio de Freitas, cotado para disputar a presidência em 2026, já avançou com a venda da Sabesp, maior companhia de saneamento do país.

“É um processo longo e cheio de riscos”, avalia Alexandre Sant’Anna, da ARX Capital Management. “A Eletrobras ficou mais enxuta e transparente, mas ainda há muito a fazer.”

Energia renovável e novas apostas

Ao mesmo tempo, a concessionária tenta se adaptar a um mercado em rápida transformação. A explosão da energia solar e eólica pressiona os preços e altera a lógica de contratos de longo prazo. A empresa calcula que até 43% de sua energia disponível em 2027 ainda não está contratada, apostando em preços mais altos no futuro.

Também busca modernizar sua estrutura comercial e investe em tecnologia. O destaque é a plataforma Atmos, ferramenta meteorológica desenvolvida internamente para prever demanda e otimizar a manutenção de usinas.

“Nosso trabalho não é só modernizar a infraestrutura, mas criar oportunidades futuras”, explicou o vice-presidente Juliano Dantas.

Um futuro em disputa

O destino da Eletrobras permanece em aberto. Entre a pressão de Brasília, a necessidade de entregar dividendos e os desafios de um setor em mudança acelerada, a companhia tenta provar que pode ser uma gigante eficiente no mercado privado.

“Estamos comprometidos em executar tudo o que discutimos: redução de custos, transparência e maturidade”, disse Monteiro. “Ainda é um processo, mas estamos no caminho certo.”

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Ayanna Hoover
Ayanna Hoover
01/10/2025 17:31

Very well presented. Every quote was awesome and thanks for sharing the content. Keep sharing and keep motivating others.

Noel Budeguer

Sou jornalista argentino, vivendo no Rio de Janeiro, especializado em temas militares, tecnologia, energia e geopolítica. Escrevo artigos sobre temas complexos em uma linguagem acessível, mantendo rigor jornalístico e foco no impacto social e econômico

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