Aposta de eficiência após a privatização inclui redução de custos e pessoal, venda de ativos não centrais e nova gestão focada em disciplina de mercado, com ganhos de lucro e metas de até R$ 30 bilhões em desinvestimentos, segundo reportagens e entrevistas publicadas pela Folha de S. Paulo
A privatização da Eletrobras começa a mostrar resultados concretos: a companhia cortou custos operacionais em 18%, reduziu o quadro em 17% e dobrou o lucro em relação ao ano da oferta, conforme dados e entrevistas reunidos pela Folha de S. Paulo. A tese é simples: encolher estruturas ineficientes, vender o que não faz parte do core e criar uma governança que resista a pressões de curto prazo.
Ao mesmo tempo, a elétrica acelera um programa de desinvestimentos estimado em mais de R$ 30 bilhões para destravar valor e reposicionar o portfólio. Segundo a Folha, a estratégia inclui a saída de térmicas a gás já vendidas para a Ambar, novas alienações de participações minoritárias e acordos para reduzir obrigações legadas, enquanto o mercado precifica expectativa de uma Eletrobras mais previsível, transparente e rentável.
O que mudou após a privatização: eficiência, governança e foco
Desde 2023, a nova administração adotou padrões de gestão do setor privado: revisão de contratos, sede remodelada no Rio com escritórios abertos e metas de produtividade.
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A mensagem é de disciplina: menos burocracia, mais accountability e integração entre holding e subsidiárias.
Resultados aparecem no DRE: a empresa reportou R$ 10,4 bilhões de lucro em 2024, ante R$ 3,6 bilhões em 2022, o ano da oferta, de acordo com a Folha de S. Paulo.
A tese de eficiência também passa pela padronização contábil e por processos que antes exigiam trabalho manual fragmentado.
Para analistas ouvidos pela Folha, a Eletrobras se tornou “mais transparente, previsível e atrativa”.
Desinvestimentos e alocação de capital: o plano dos R$ 30 bilhões
Segundo entrevistas publicadas pela Folha, a companhia mapeou participações minoritárias e ativos não essenciais avaliados em mais de R$ 30 bilhões.
Eduardo Haiama (CFO) afirmou que, “se dependesse dele, venderia tudo”, mas juros altos dificultam chegar a valuations justos.
Trata-se de abrir espaço no balanço para modernização e para negócios com retorno ajustado ao risco.
A reportagem também aponta alívio de obrigações como o acordo que retira a Eletrobras do financiamento de Angra 3, projeto estimado pelo governo em cerca de R$ 20 bilhões e citado em relatório da Fitch.
Ao reduzir capex não core, a empresa concentra capital no que gera caixa recorrente e melhora o perfil de risco do conjunto.
Mercado, preço de energia e a estratégia comercial
A reportagem descreve um cenário setorial pressionado por eólica e solar, que achataram preços no atacado nos últimos anos.
A resposta da Eletrobras foi tática: evitar travar contratos longos no piso do ciclo e deixar fatia relevante da energia descontratada (a empresa estima 32% a 43% em 2027), apostando em preços melhores adiante.
Esse posicionamento carrega risco de volatilidade, mas, se a curva reagir, pode capturar margens adicionais.
Para investidores citados, o sucesso depende de disciplina comercial, hedge bem calibrado e execução sem sobressaltos regulatórios.
Dividendos, FGTS e o termômetro do investidor pessoa física
370 mil pessoas entraram na oferta de 2022 via FGTS, com R$ 6 bilhões alocados, o que elevou a vigilância sobre dividendos.
No entanto, a própria gestão pondera: os R$ 4 bilhões distribuídos recentemente não devem ser vistos como novo normal; o equilíbrio entre remuneração e investimento seguirá caso a caso, evitando decisões de curto prazo que prejudiquem o ciclo de modernização.
Para o investidor de longo prazo, a previsibilidade de caixa e o cronograma de desinvestimentos tendem a dizer mais do que um único pagamento robusto.
A reportagem também registra casas como UBS BB projetando preço justo de R$ 59 em 12 meses, abaixo da meta anterior de R$ 70, refletindo o custo de capital atual e riscos de execução.
Ações, governança e a “sombra estatal”
De acordo com a Folha, as ações voltaram a negociar acima dos R$ 42 da oferta, depois de anos abaixo desse nível.
Ainda assim, a precificação carrega um desconto de governança: o governo mantém cerca de 45% por meio de estrutura de ações com direitos específicos e ampliou influência no conselho recentemente.
Analistas ouvidos pela Folha afirmam que o rating de “empresa privatizada” ainda não está plenamente no preço.
Para destravar esse prêmio, seria necessário queda de juros, continuidade da estratégia e estabilidade de governança. Em síntese: execução consistente é o antídoto para a “sombra estatal”.
Operação, dados e tecnologia: o papel da plataforma Atmos
A reportagem destaca que a Eletrobras lançou a plataforma meteorológica interna Atmos para prever demanda e planejar manutenção.
Esse tipo de ferramenta é cada vez mais crucial em sistemas com maior penetração de renováveis e padrões climáticos voláteis. A lógica é simples: previsão melhor, despacho e contratos melhores.
Ao integrar analytics ao core comercial e operacional, a empresa eleva a qualidade da tomada de decisão e reduz o custo de oportunidade no uso dos ativos.
Se o front de dados entregar o prometido, a eficiência incremental tende a aparecer nas margens.
O que observar daqui para frente
Três vetores decidirão o valuation, segundo a leitura consolidada pela Folha:
(1) velocidade e preço dos desinvestimentos,
2) disciplina comercial em um mercado mais volátil e
(3) estabilidade de governança para sustentar a estratégia.
A combinação desses fatores pode consolidar o “turnaround” ou reabrir o desconto se houver recuos.
A fotografia atual é de avanços mensuráveis (custos, lucro, vendas de ativos) com riscos conhe conhecidos (juros, política, ciclo de preços).
Para quem acompanha a tese, o foco deve estar em fluxo de caixa recorrente, alocação de capital e entregáveis trimestrais coerentes com o plano.
A privatização recolocou a Eletrobras no trilho da eficiência e abriu espaço para R$ 30 bilhões em desinvestimentos, mas o prêmio pleno de governança ainda depende de execução e estabilidade. Se a estratégia for mantida, a companhia tende a voltar ao patamar de gigante da energia.
Você concorda que a privatização já virou a página e que os desinvestimentos serão o motor da reprecificação? Como equilibrar dividendos, dívida e investimento em um setor cada vez mais exposto a renováveis e volatilidade de preços? Deixe sua opinião nos comentários — queremos ouvir quem vive isso na prática.