Três câmbios automáticos vendidos no Brasil prometeram conforto acessível, mas acumularam falhas recorrentes, alto custo de manutenção e má reputação entre os consumidores. A história desses sistemas ajuda a entender por que alguns usados exigem cautela redobrada.
Ter um automático costuma significar praticidade nas rotinas urbanas, porém três sistemas vendidos no Brasil acumularam reclamações de trancos, superaquecimento e sensores imprecisos, encarecendo a manutenção e comprometendo a confiabilidade.
São eles: o i-Motion da Volkswagen, o Dualogic/GSR da Fiat e o PowerShift da Ford.
Em comum, prometiam conforto por preço acessível; na prática, multiplicaram visitas à oficina e exigiram atenção redobrada no mercado de usados.
-
R$ 430 mil por um hatch? Golf GTI 2026 retorna ao Brasil com motor turbinado, 0 a 100 km/h em 6,1 s, pacote complete e regras para compra na pré-venda
-
3 carros usados que entregam até 7 lugares, motor de até 132 cv e suspensão robusta por menos de R$ 50 mil
-
Veja quanto você realmente paga ao financiar uma moto de R$ 26 mil em 36 vezes
-
Com a gasolina 7% mais cara desde 2024, motoristas aplicam técnicas simples para economizar o consumo de combustível
Ao longo dos anos, esses câmbios automatizados e de dupla embreagem ganharam espaço em modelos populares e compactos, o que ampliou a base de proprietários e, consequentemente, o volume de relatos.
Enquanto o automático convencional segue como referência de suavidade, as soluções que tentavam baratear o “câmbio sem embreagem” ficaram marcadas por engasgos nas trocas, hesitações em manobras e falhas de componentes eletrônicos e atuadores.
Quem busca um usado equipado com essas transmissões precisa avaliar friamente o histórico de manutenção antes de fechar negócio.
Volkswagen i-Motion: câmbio automatizado com trancos e atuador frágil
A Volkswagen ofereceu o i-Motion, um automatizado de embreagem simples, em Gol, Voyage, Fox, SpaceFox, Polo e até no Up!.
A ideia era clara: oferecer trocas “automáticas” sem elevar muito o preço do carro. O resultado, contudo, distanciou-se do discurso.
Proprietários relatam trancos perceptíveis nas mudanças de marcha, sobretudo em baixa velocidade, e hesitação ao realizar manobras de garagem ou arrancadas em rampas.
Além do comportamento pouco suave, o sistema ficou conhecido por falhas recorrentes no atuador da embreagem.
Quando esse componente começa a apresentar defeito, a dirigibilidade degrada rapidamente e o risco de imobilização aumenta.
Reparos não costumam ser baratos e, em muitos casos, repetem-se com o tempo, o que desvaloriza unidades equipadas com o i-Motion no mercado de seminovos.
Em avaliações, compradores experientes costumam testar o carro a frio e em trânsito pesado para identificar eventuais solavancos ou atrasos na resposta.
Fiat Dualogic/GSR: respostas lentas e falha de sensor
A Fiat insistiu por mais de uma década no Dualogic, posteriormente rebatizado como GSR. A transmissão apareceu em uma ampla lista de compactos e familiares, como Palio, Punto, Idea, Linea, Argo, Mobi e até a picape Strada.
Desde o início, o funcionamento ficou marcado por trocas com trancos e respostas lentas, combinação que comprometeu tanto o conforto de marcha quanto a durabilidade dos conjuntos.
Na fase GSR, as críticas se concentraram no sensor de seleção de marchas. Houve casos em que a falha colocava o veículo em neutro sem prévio aviso, situação que motivou recall.
Em termos de experiência ao volante, o sistema não alcançou a fluidez de um automático tradicional e tampouco preservou a robustez de um manual.
Para quem considera um usado com Dualogic/GSR, convém checar se a unidade passou por todas as campanhas de fábrica e se os serviços em componentes eletrônicos e hidráulicos estão documentados.
Ford PowerShift: superaquecimento e trepidações
A Ford lançou o PowerShift como a evolução acessível nos compactos Fiesta, EcoSport e Focus. A arquitetura de dupla embreagem, em tese, traria trocas rápidas e consumo contido.
O que se viu, no entanto, foram relatos frequentes de trepidações, engates irregulares e episódios de superaquecimento em uso urbano severo.
Em determinadas situações, proprietários registraram travamentos que exigiam intervenção imediata.
A repercussão levou a uma pressão de órgãos de defesa do consumidor.
Em resposta, a montadora estendeu a garantia para a transmissão em diversos mercados, o que amenizou parte dos custos para quem precisou reparar o conjunto. A fama, contudo, ficou.
No segmento de seminovos, carros com PowerShift exigem laudos detalhados, histórico de manutenção em dia e teste de rodagem prolongado, sobretudo com o conjunto já aquecido, quando os sintomas tendem a aparecer com mais clareza.
Outros sistemas com histórico de problemas: Easytronic e AL4
Embora o foco esteja em três transmissões, há outros exemplos que também acumulam queixas.
A General Motors apostou no Easytronic, outro automatizado de embreagem simples, presente em Agile e Meriva.
As críticas mais recorrentes envolveram lentidão nas trocas, trancos em acelerações suaves, trepidações em manobras e eventuais travamentos.
Não foram raros os relatos de proprietários que desembolsaram mais de R$ 5 mil em reparos ou, diante da repetição de falhas, optaram por converter o carro para câmbio manual.
No universo de Peugeot e Citroën, o automático AL4 — de quatro marchas — equipou modelos como 206, 307, C3, C4, Xsara Picasso e o sedã 407.
A caixa ganhou reputação de durabilidade limitada, com registros de patinação em giros médios, consumo acima do esperado e falhas no módulo eletrônico de controle.
Em diversas situações, técnicos recomendaram reinicialização do gerenciamento ou substituição do módulo, medida que elevou significativamente o custo de manutenção.
Como avaliar um usado com esses câmbios
Na avaliação de um seminovo equipado com qualquer um desses sistemas, o procedimento precisa ser minucioso.
É prudente dirigir o carro a frio e depois com o trem de força em temperatura de trabalho, simulando trânsito para verificar solavancos e atrasos na resposta.
Também é aconselhável confirmar, por meio de notas e registros, se atuadores, módulos e sensores já foram substituídos e se as campanhas de recall que envolvem o número do chassi foram efetuadas.
Um diagnóstico por scanner pode revelar códigos de erro intermitentes que ainda não acenderam alertas no painel.
Se a prioridade é conforto com baixa dor de cabeça, um automático convencional bem cuidado tende a entregar melhor suavidade e previsibilidade nas trocas. Ainda assim, cada unidade usada tem uma história.
Vistorias independentes e revisão preventiva ajudam a antecipar despesas e a evitar surpresas, sobretudo quando o preço pedido parece convidativo demais para um carro “automático”.
Enquanto o mercado de usados oferece oportunidades, o histórico desses câmbios recomenda cautela: ao cruzar preço, condição e manutenção documentada, qual transmissão você consideraria aceitável — e qual ficaria fora da sua garagem?