Contra estatísticas e barreiras, conheça a história de superação de Flavia Lucilio, Aline Borguetti e Karina Lutkus, as aviadoras que assumiram o controle do maior avião de passageiros do mundo.
A mais de 10.000 metros de altitude, no comando de uma máquina de 575 toneladas com dois andares, a responsabilidade é imensa. Este é o cockpit do Airbus A380, o maior avião de passageiros do mundo. Por décadas, esse foi um ambiente quase exclusivamente masculino. Hoje, vozes femininas brasileiras também dão os comandos, desbravando céus culturais e técnicos. As trajetórias de Flavia Lucilio, Aline Borguetti e Karina Lutkus são narrativas de determinação e pioneirismo que inspiram novas gerações.
Quem são as aviadoras brasileiras do A380?
Não há um caminho único para o cockpit do Airbus A380. As histórias das brasileiras que alcançaram esse posto revelam uma combinação de vocação, resiliência e adaptação.
A jornada de Flavia Lucilio começou na infância em Itápolis (SP), cidade com forte tradição aeronáutica. Influenciada pelo pai, um piloto privado, ela cresceu em meio a hangares e pistas. Formou-se em ciências aeronáuticas e atuou como instrutora de voo. Com o objetivo de voar internacionalmente, ganhou experiência no Brasil e na China. Em 2016, foi contratada pela Emirates e, após pilotar outras aeronaves, foi promovida à frota do Airbus A380, uma “experiência única” para ela.
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A trajetória de Aline Borguetti foi uma mudança de rota movida pela “força de vontade”. De família simples em Mauá (SP), tornou-se comissária de bordo aos 18 anos. O contato com a cabine de comando despertou o sonho de pilotar. Ela usou o próprio salário para pagar as aulas de pilotagem. Na Azul, fez história ao se tornar a primeira comissária promovida a piloto de jato. Em 2019, ingressou na Emirates para pilotar o A380 como primeira-oficial (copiloto).
Já Karina Lutkus representa a profissional experiente. Com quase 15 anos de serviço na TAM/LATAM, ela já era comandante do Airbus A320. Em 2019, decidiu se mudar para a Emirates para assumir a função de primeira-oficial no Airbus A380, atraída pelo desafio de pilotar o superjumbo. Sua jornada na aeronave, contudo, foi abreviada pela pandemia de Covid-19. Hoje, ela atua como instrutora de voo na Azul, formando novos pilotos.
O desafio de pilotar o Airbus A380
Compreender a aeronave é fundamental para medir a conquista dessas aviadoras. O Airbus A380 é um marco da engenharia. Sua altura de 24,1 metros equivale a um prédio de oito andares. Seus dois andares completos podem transportar entre 480 e mais de 850 passageiros.
O cockpit é um dos mais avançados do mundo, com telas de cristal líquido e alta comunalidade com outros modelos da Airbus, facilitando o treinamento. Quatro motores massivos garantem a potência para decolar, permitindo voos de ultra longo alcance de até 15.000 km.
A história do A380 é complexa. Lançado para resolver o congestionamento de grandes aeroportos, o mercado mudou, preferindo jatos menores e mais eficientes. Em 2019, a Airbus anunciou o fim de sua produção. A pandemia de Covid-19 pareceu ser o golpe final, com a maioria da frota sendo aterrada. Contudo, o avião viveu um renascimento inesperado. Com a retomada explosiva das viagens, sua alta capacidade de transporte se tornou um ativo valioso, e muitas companhias reativaram suas frotas. A Emirates, principal operadora, construiu seu modelo de negócios em torno do superjumbo.
O futuro das mulheres na Aviação Brasileira
A indústria da aviação começa a agir para mudar esse cenário. A Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) lançou o programa “Asas para Todos”. Uma de suas ações mais importantes é a proposta de criação de bolsas de estudo para a formação de pilotos, com uma cota de 50% para mulheres, atacando diretamente a barreira financeira.
Além disso, a ANAC firmou uma parceria com a Universidade de Brasília (UnB) para mapear cientificamente os obstáculos enfrentados pelas mulheres no setor. O estudo, com investimento de R$ 1,1 milhão, fornecerá dados para criar políticas mais eficazes.
Nesse contexto, o legado das pioneiras do Airbus A380 é imenso. Elas são a prova de que talento não tem gênero e servem como o modelo visível que pode inspirar milhares de meninas. O objetivo final dessas ações é que a presença de uma mulher no comando de qualquer avião deixe de ser notícia e se torne algo cotidiano, o verdadeiro sinal de um céu mais justo e igualitário para todos.