Símbolo da modernidade paulistana nos anos 1970, o edifício brutalista de Jorge Zalszupin, com base de 1.000 m² e 22 andares, perdeu função, relevância e inquilinos e hoje permanece vazio, pichado e esquecido, aguardando um novo projeto que devolva seu prestígio.
Na Avenida Paulista, ergue-se um edifício brutalista que chama atenção tanto por sua arquitetura ousada quanto pelo seu estado atual de abandono.
Concluído em 1974 e batizado inicialmente de Edifício Aquarius, o edifício hoje conhecido como Torre Paulista é um símbolo de uma era de modernização da capital paulista, mas vive um momento de pausa, degradado e vazio, à espera de um novo capítulo em sua história.
Um marco arquitetônico dos anos 1970
A Torre Paulista nasceu em um período em que a Avenida Paulista começava a se firmar como o principal eixo financeiro da cidade.
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O projeto foi assinado pelo arquiteto e designer Jorge Zalszupin — polonês naturalizado brasileiro e renomado por suas criações no mobiliário moderno — em parceria com José Gugliotta e José Maria de Moura Pessoa.
Construído em um terreno de 3.144 m², o prédio trazia uma proposta inovadora para a época.
A construção se destacou por não ser mais um prédio comercial comum, mas uma peça de arquitetura que marcava profundamente a paisagem e ajudou a conferir identidade à Paulista como vitrine do que era o mais moderno no estado de São Paulo.
Com 20 metros de frente e quase 120 metros de fundo, a construção atravessa a quadra de ponta a ponta, com duas entradas: a principal, na própria Paulista, e outra secundária, pela Alameda Santos.
São 22 andares, quatro elevadores e mais de 130 vagas de estacionamento — números que impressionavam na década de 1970.
Arquitetura ousada e volumetria única
O diferencial da Torre Paulista está em sua arquitetura curvilínea e progressivamente afunilada, que lembra um “escorregador”.
Do térreo ao topo, os pavimentos diminuem de tamanho: a base tem quase 1.000 m², enquanto o último andar possui pouco mais de 300 m².
O que mais se destaca é a ousadia da forma: trata-se de um edifício que impressiona pela volumetria marcante e pela ausência de medo em ser diferente.
Construído em concreto armado, o prédio representa fielmente o brutalismo dos anos 1970. A decisão por uma torre curva visava romper com a monotonia dos blocos retos que dominavam a paisagem da avenida.
A intenção era criar algo que rompesse com os blocos retos que já dominavam a Avenida Paulista.
A resposta a esse objetivo foi o desenvolvimento de uma torre curva, que se afunila à medida que sobe, evocando a ideia de uma escultura — tudo isso sem deixar de atender às exigências da legislação.
Por seu design singular, o prédio atraiu a atenção do banco japonês Sumitomo, que o adquiriu e instalou sua sede ali, identificando semelhanças entre a estrutura e os templos tradicionais do Japão.
Ao longo dos anos, o edifício também abrigou escritórios de advocacia, agências de viagem e sindicatos.
Do casarão à torre de concreto
Antes da verticalização, o terreno era ocupado por um casarão de número 118, pertencente à família Monteiro Soares em seus últimos anos.
De acordo com registros da prefeitura, a construção da residência foi autorizada em junho de 1916 e, no ano seguinte, já estava habitada.
Em 1927, Claudio Monteiro Soares aparece como proprietário nos registros telefônicos.
Como muitos imóveis históricos da avenida, o casarão acabou demolido para dar lugar ao crescimento vertical de São Paulo e ao surgimento da Torre Paulista.
Perda de relevância e início do abandono
Com o passar do tempo, a função do prédio mudou. Nos anos 2000, a Torre Paulista ainda abrigava atividades comerciais, mas já sem o protagonismo dos tempos em que a Paulista concentrava o centro financeiro da cidade.
A migração de bancos e grandes empresas para a Avenida Faria Lima marcou o início do declínio do edifício. A ocupação caiu, e sua utilização se limitou a atividades pontuais.
A promessa do Hard Rock Hotel
Em 2019, um anúncio reacendeu a esperança de revitalização do prédio.
A primeira unidade paulistana da rede Hard Rock Hotel seria instalada no endereço, com 230 quartos e um investimento estimado em R$ 100 milhões. O projeto previa a conclusão das obras em 2021.
Pouco antes da pandemia, a administradora decidiu não renovar os contratos de aluguel e desocupou o prédio para dar início à requalificação.
No entanto, o projeto não saiu do papel. Embora o anúncio tenha sido feito, nada se concretizou até o momento.
Tudo indica que a administradora do Hard Rock passou por mudanças de rumo no Brasil, o que levou não apenas à estagnação dessa iniciativa, mas também à suspensão ou ao cancelamento de diversos outros empreendimentos planejados pela marca no país.
Atualmente, o prédio pertence a um fundo administrado por uma gestora, que é responsável por negociar sua locação. A promessa de transformação em hotel permanece no papel, e o edifício segue abandonado.
Em contato com a reportagem do Estadão, a Residence Club, responsável pelo Hard Rock Hotel em São Paulo, respondeu que está “em tratativas com a Savoy, proprietária do edifício Torre Paulista, para definir os próximos passos e o futuro do empreendimento”.
Não foi informada a previsão de início das obras ou de inauguração.
Um ícone à espera de renascimento
Hoje, a Torre Paulista encontra-se em estado de abandono visível: janelas quebradas, pichações e ausência total de atividade.
O que já foi símbolo da modernidade e da verticalização da capital paulista agora repousa em silêncio, esvaziado de sua história e sem perspectivas claras de futuro.
O edifício brutalista que um dia ajudou a definir a identidade da Avenida Paulista permanece ali, como um gigante adormecido no coração da cidade.
Entre memórias de seu passado glorioso e promessas não cumpridas de revitalização, ele aguarda a chance de voltar a ser protagonista — desta vez, talvez não como sede de banco ou prédio corporativo, mas como parte viva do tecido urbano e cultural de São Paulo.
Enquanto isso não acontece, o Torre Paulista segue imponente e silencioso, testemunhando a passagem do tempo e a transformação do cenário ao seu redor.
Seu destino ainda é incerto, mas seu valor arquitetônico e simbólico permanece intacto, esperando por um projeto capaz de resgatar sua relevância e devolver-lhe o lugar de destaque que sempre ocupou na história da cidade.